08 Setembro 2023
Num esforço para resolver uma disputa amarga e de longa data no seio da Igreja Siro-Malabar, da Índia, foi formada uma comissão episcopal de nove membros para se reunir com padres dissidentes que se opõem a um novo modo de celebrar a missa.
A reportagem é de Nirmala Carvalho, publicada por Crux, 07-09-2023.
Os participantes das conversas dizem que foi alcançado um acordo provisório, embora os detalhes não tenham sido tornados públicos, e que está agora nas mãos de um representante do Papa Francisco. A polêmica centra-se na Arqueparquia de Ernakulam-Angamaly, no sul da Índia, a maior jurisdição da Igreja Siro-Malabar e sede da sua basílica primacial.
Em suma, o desacordo litúrgico centra-se sobre se o padre deve ficar de frente para o altar durante as orações eucarísticas, conforme solicitado pelos líderes da constestação, ou ficar de frente para a congregação durante a missa, como tem sido a prática em Ernakulam-Angamaly desde o Concílio Vaticano II.
Um decreto recente de um enviado papal, segundo o qual a nova forma de missa deveria ser implementada até 20 de agosto, encontrou resistência generalizada, com apenas um punhado das 328 paróquias da arqueparquia cumprindo, apesar da ameaça de que os padres que não o fizessem enfrentariam a excomunhão.
O enviado papal, dom Cyril Vasil, jesuíta eslovaco que é eparca da Eparquia de Košice na Igreja Greco-Católica Eslovaca, que atuou no Dicastério para as Igrejas Orientais do Vaticano, regressou a Roma para consultas com Francisco e outras autoridades vaticanas.
A formação da comissão episcopal ocorreu depois que o sínodo governante da Igreja Siro-Malabar emitiu um apelo, em 24 de agosto, ao clero dissidente em Ernakulam-Angamaly.
“Foram feitos esforços em vários níveis para resolver as crises surgidas na arquidiocese sobre esta questão, mas não foram feitos progressos suficientes”, afirma o comunicado.
“Aqueles que adotaram uma abordagem negativa ao Delegado Pontifício estão agora numa situação em que não podem continuar na comunidade católica”, afirmou, referindo-se a Vasil. “Esperamos sinceramente que nenhum de vocês perca a comunhão da nossa mãe, a Santa Igreja Católica, nesta situação tão triste”.
Os clérigos envolvidos na polêmica insistem que nunca pretenderam separar-se da Igreja, mas sentem que estão defendendo as reformas litúrgicas endossadas pelo Vaticano II. A nota apelou aos sacerdotes para que informem o Vaticano sobre a sua vontade de implementar a nova forma da missa, “pelo menos passo a passo”.
Embora expressando a vontade de continuar o diálogo com os membros da arqueparquia, a declaração listou sete condições para a resolução da disputa:
Segundo os participantes nas conversações entre a comissão episcopal e o clero de Ernakulam-Angamaly, foram identificados alguns pontos em comum.
“Ambas as partes concordaram em certos pontos para uma celebração litúrgica pacífica na arquidiocese”, disse o Pe. Paul Chittinappilly, um dos doze padres que participaram nas discussões.
“A equipe dos bispos colocou o acordo mútuo no Sínodo, e o chefe da comissão relata que o Sínodo enviou o acordo com uma nota positiva ao Vaticano e todos estão aguardando a palavra final.
Analistas observam que esta é a primeira vez que os responsáveis da Igreja concordam em resolver a disputa através de discussões com clérigos e leigos dissidentes, e que a política consistente do Vaticano tem sido a de apoiar a solução que o Sínodo adotar.
O Pe. Paul Thelakat, ex-porta-voz da Igreja Siro-Malabar que agora está associado aos dissidentes e que também é o sujeito de uma queixa policial do cardeal George Alencherry, líder da Igreja, por suposta difamação, disse que as discussões dos bispos da comissão tiveram um desenvolvimento positivo.
“A grande maioria dos bispos queria resolver a questão em consultas com as partes interessadas”, informou ele. “Este foi um passo na direção certa, embora tenha sido um pouco tarde”.
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Índia. Potencial acordo alcançado na amarga disputa litúrgica siro-malabar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU