Uma comissão parlamentar investiga o desaparecimento no esquecimento de Paolo Dall'Oglio

(Foto: A Church of Islam. The Syrian Calling of Fr. Paolo Dall'Oglio | Facebook)

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07 Julho 2022

 

"A verdade sobre Dall'Oglio é parte integrante de verdades profundas que dizem respeito não à conquista da Síria pelas grandes potências, mas à exportação do método-Síria para o mundo", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano e fundador da Associação de Amigos do Pe. Paolo Dall’Oglio, em artigo publicado por Formiche, 06-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

O pedido é de Francesca e Giovanni Dall'Oglio, irmão e irmã do jesuíta romano sequestrado pelo Isis em Raqqa em julho de 2013. No entanto, ninguém jamais reivindicou a responsabilidade pelo sequestro, muito menos sua possível execução. Um costume macabro para os homens de al-Baghdadi. Por quê?

 

No dia 29 de julho completaremos nove anos do sequestro do padre Paolo Dall'Oglio; uma comissão parlamentar de inquérito é necessária para entender o que aconteceu com o jesuíta italiano.

 

É o que pedem Francesca e Giovanni Dall'Oglio, irmão e irmã do jesuíta desaparecido há nove anos. Eles o fazem com uma carta dirigida às mais altas autoridades governamentais e parlamentares: ao primeiro-ministro, Draghi, aos presidentes do Senado e da Câmara, Casellati e Fico, ao ministro das Relações Exteriores, Di Maio, à presidente da Comissão de assuntos exteriores do Senado, Stefania Craxi e ao presidente da Copasir, D'Urso.

 

Eis o que escrevem: "Pedimos ao Parlamento que se empenhe para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o que aconteceu com nosso irmão, de quem não há notícias desde 29 de julho de 2013, quando ele foi visto pela última vez na cidade de Raqqa na Síria. O pedido de esclarecimentos oficiais e investigações é, na opinião dos abaixo assinados, agora incontornável, já se passaram quase nove anos desde o distante 29 de julho de 2013 e desde então nós familiares nunca tivemos notícias sobre o que aconteceu ao nosso irmão. Acreditamos que a constituição de uma Comissão Parlamentar que envolva todo o Parlamento e que, nos termos do artigo 82.º da Constituição, proceda a inquéritos e exames com os mesmos poderes e as mesmas limitações da autoridade judiciária, seja o último instrumento que, também devido à sua relevância política, poderia permitir-nos chegar à verdade".

 

Investigar realmente o caso Dall'Oglio também significaria reconstruir algo dos muitos indícios que inquietaram e continuam a inquietar a Europa desde aquela época até hoje.

 

Na verdade, isso começaria a colocar o dedo em um ponto descartado pela certeza generalizada de que Dall'Oglio foi morto por seus sequestradores, o ISIS. Mas então por que os senhores do terror e do horror não reivindicaram sua ação contra um infiel? Eles não fizeram isso por que o temiam? Então por que o sequestraram? Talvez eles quisessem um resgate? Eles o entregaram? Para quem? E se eles não visassem um resgate nem o entregar, quando o teriam assassinado? Ou talvez vários sujeitos apenas queriam que ele desaparecesse sem que se soubesse nada sobre seu destino para impedir protestos e favorecer a remoção silenciosa de um dos homens mais amados de toda a Síria?

 

A enxurrada de rumores sobre ele é incrível, imensa. Muitos disseram que falaram com quem sabia que ele havia sido morto, mas não apareceu nenhuma testemunha direta. Mais: um emir do Isis que se acredita ter estado presente no quartel do Isis quando o jesuíta teria entrado para pedir a libertação de alguns reféns, está há anos em sua casa em Raqqa, mas ninguém nunca o interrogou: nem as autoridades curdas nem aquelas da coalizão contra o Isis. Por quê? Esse comportamento pode ser entendido pelas dificuldades de gestão do território, mas também pode ser relevante o que afirma o amigo de Paolo que o teria visto pela última vez antes do sequestro: para ele Paolo estava levando uma carta da liderança do Curdistão iraquiano ao Isis! Uma tentativa de evitar as chamas assustadoras que vieram. É verdade? Talvez de Erbil se poderia saber. E então cabe se perguntar por que seu corpo não foi devidamente procurado nas muitas valas, individuais ou comuns, encontradas perto de Raqqa. E os outros rumores, que o dão morto em Deir Ez-Zowr ou mantido em outro lugar? O que se pode saber sobre isso?

 

Colocar esse problema é pedir alguma certeza sobre um drama italiano que a Itália parece ter removido muito rapidamente. Nem sempre se lembra que Dall'Oglio era um cidadão italiano. Mas tocar no mistério Dall'Oglio significa tocar no mistério removido e escondido do drama de milhões e milhões de sírios, que em 2015, quando a Rússia interveio no conflito, abalou a Europa com a chocante onda de deportados do regime e aliados que vieram pela rota dos Balcãs nos nossos países.

 

A verdade sobre Dall'Oglio é parte integrante de verdades profundas que dizem respeito não à conquista da Síria pelas grandes potências, mas à exportação do método-Síria para o mundo.

 

 

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