31 Janeiro 2019
Um encontro muito confidencial, feito de gestos e palavras de afeto, para assegurar a sua proximidade e dar coragem a uma família que, há cinco anos e meio, vive a “escuridão mais total” sobre o destino do irmão. Francesca Dall’Oglio, irmã mais velha do Pe. Paolo, jesuíta sequestrado na Síria em julho de 2013, do qual desde então não se têm mais notícias, é sintética ao descrever a audiência ocorrida na manhã dessa terça-feira, 29, com o Papa Francisco em Santa Marta.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada em Vatican Insider, 30-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No entanto, a emoção e a comoção surgem lentamente ao longo do relato que a mulher faz ao Vatican Insider sobre esse encontro matinal no Vaticano, do qual participaram, além dela, suas três irmãs, o irmão e a mãe.
Papa Francisco se encontra com a família de Paolo Dall’Oglio SJ (Foto: Vatican Insider)
Justamente à idosa mãe, o Papa Bergoglio dirigiu a maior atenção, demonstrando-lhe “grande afeto”, ciente do sofrimento de uma mulher que viu o próprio filho desaparecer no nada, o que a une a centenas de outras esposas, mães e irmãs na Síria que ainda esperam ver seus maridos, pais e irmãos voltarem para casa.
Papa Francisco se encontra com a avó de Paolo Dall’Oglio SJ (Foto: Vatican Insider)
Quem noticiou o encontro – ocorrido nessa terça-feira, 29 de janeiro, quando transcorreram os 2.000 dias desde o sequestro de Dall’Oglio em Raqqa (os seis anos se completarão em 29 de julho próximo) – foi o diretor interino da Sala de Imprensa do Vaticano, Alessandro Gisotti, explicando que se tratou de “um gesto de afeto e proximidade da parte do papa à família do jesuíta” sequestrado.
“É verdade”, confirma Francesca, “não nos vimos para obter ou dar notícias, mas sim para receber o afeto e a partilha do Santo Padre, que nos encorajou e nos disse para continuarmos tendo esperança”.
E vocês vão continuar fazendo isso?
Claro! Há cinco anos e meio, nós estamos na escuridão mais total sobre o destino do meu irmão. Mas ainda não há elementos claros. A situação na Síria é muito particular. E as pessoas desaparecidas é um problema generalizado. Há muitas famílias como nós, há também os dois bispos ortodoxos desaparecidos, dos quais não se sabe mais nada. Mas o ISIS até agora nunca reivindicou o seu sequestro, nem o de Paolo... Então, sim, existe uma esperança de que ele esteja vivo.
O papa lhes contou alguma coisa a respeito?
Não, como eu disse, não falamos sobre notícias ou questões diplomáticas e geopolíticas. Tudo isso não entrou na nossa conversa, que foi muito “humana”, no sentido de que visava a fazer sentir a sua presença a nós, irmãs, ao meu irmão e à minha mãe, em uma data que marca uma dor.
Por um lado, portanto, o consolo do papa, por outro, a esperança de ter notícias sobre o destino do Pe. Paolo. Mas há também um pouco de raiva pelo modo como o caso foi gerido até agora?
Não, raiva não... É claro que três governos se alternaram até agora, e nós não tivemos nenhuma pista, nenhuma notícia, embora tenham surgido milhares de hipóteses, quase todas infundadas. Também é emblemática a história da mala desaparecida em 2014 e que voltou para nós, familiares, em janeiro de 2018. Nós tivemos a oportunidade de falar com o presidente Mattarella várias vezes, estamos continuamente em contato com a Unidade de Crise Italiana. Muitos nos asseguraram o máximo compromisso, mas ainda estamos no escuro... Espero que se continue trabalhando para que possamos obter alguma notícia e que o compromisso que nos foi dado em palavras possa se traduzir em algo concreto.
Vocês também apelaram ao papa e à Santa Sé por isso?
Eu não sei se eles estão se movendo de forma independente nesse caso, mas não. Basta-nos aquilo que vivemos hoje: ver o papa tão perto de nós e do nosso irmão Paolo, que, em outras ocasiões, ele já havia mencionado, foi algo realmente bonito e significativo. É difícil descrever em palavras.
A audiência, além disso, ocorreu a poucos dias da viagem do papa aos Emirados Árabes Unidos, o berço do Islã. Aquele Islã do qual o seu irmão dizia estar “apaixonado”.
É o título do seu livro mais famoso, "Innamorato dell’Islam, credente in Gesù" [Apaixonado pelo Islã, crente em Jesus] (Jaca Book, 2011). E é justamente o presente que demos hoje ao Papa Francisco, um livro que é o testemunho do trabalho eclesial e cultural tão importante de Paolo. Ele gostou muito.
Você já pensou que, talvez, se o padre Paolo tivesse limitado esse seu “trabalho” na Síria, essa missão que ele sentia como tão urgente, tão ardente, se ele tivesse feito um pouco menos, enfim, ele estaria em casa agora?
Você está me perguntando se há algum pesar da nossa parte? Absolutamente não, nunca. Ao contrário, há um grande respeito por tudo o que o meu irmão fez, e é precisamente isso que nos ajuda a seguir em frente nos momentos de maior desânimo. Isto é, sentir que Paolo levava uma missão de grande valor, da qual ele foi um instrumento. A minha mãe também está ciente disso. Certamente, há o profundo sofrimento de uma família, mas, para nós, irmãs, por exemplo, o que nos ajudou foi ficar ao lado desses ônibus de mulheres sírias que giram a Europa para chamar a atenção sobre os seus parentes desaparecidos. E também ver o trabalho que continua sendo desenvolvido pela Comunidade de Deir Mar Musa [fundada por Dall’Oglio], os testemunhos que chegam até nós dos coirmãos de Paolo. Tudo isso nos dá uma grande força.
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Papa se encontra com a família do Pe. Dall’Oglio: ''Ele nos disse para continuar tendo esperança'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU