03 Junho 2025
Os diretores do documentário, o palestino Basel Adra e o israelense Yuval Abraham, convidam jornalistas e ativistas a visitar o local, mas soldados israelenses os impedem de entrar "para evitar distúrbios".
A reportagem é de Alejandra Agudo, publicada por El País, 03-06-2025.
Desde que o filme No Other Land, que narra a vida impossível dos palestinos sob a ocupação israelense da Cisjordânia, ganhou o Oscar de melhor documentário há três meses, a violência só aumentou na vila de Masafar Yata, 20 quilômetros ao sul de Hebron, onde foi filmado. Há uma semana, uma de suas 12 comunidades, Jalet Al Dabaa, foi praticamente arrasada por tratores do exército israelense e depois tomada por colonos.
Foi isso que os codiretores e protagonistas — o israelense Yuval Abraham e o palestino Basel Adra — quiseram mostrar a um grande grupo de jornalistas e ativistas internacionais nesta segunda-feira. Mas não foi possível. Militares e policiais bloquearam o acesso sob uma ordem "para evitar distúrbios" e instaram os presentes, incluindo o ministro palestino da Comissão de Assentamentos e Resistência ao Muro, Moayed Shaaban, a deixarem o local.
“Em 5 de maio, o exército chegou e destruiu 85% da estrutura da vila. Demoliram quase todas as casas, todas as cavernas antigas, os banheiros, os poços de água, os painéis solares que forneciam eletricidade mínima à comunidade, os encanamentos de água e deixaram os moradores praticamente sem abrigo”, descreve Adra na estrada que leva à sua casa, Al Tuwani, que ela não conseguiu atravessar.
“Na semana passada, os colonos chegaram, expulsaram uma família da caverna onde viviam e tomaram conta, estabelecendo-se ali, como se estivessem criando um posto avançado, trazendo centenas de ovelhas, cabras e camelos. E começaram a pastar nos pomares, nos campos, nas oliveiras e nos vinhedos”, acrescenta.
Basel Adra, jornalista e diretor palestino, lamenta que um governo em que não pode votar o esteja privando de suas terras e de seus direitos, como o de convidar quem quiser para sua casa. "Por que você não deixa meus convidados entrarem e verem? Esta é a única democracia no Oriente Médio?", pergunta ironicamente o jornalista e diretor palestino a um dos soldados encapuzados.
A decisão repentina, 24 horas antes da visita, de fechar o acesso a ativistas e à imprensa não surpreende ninguém. "É claro que eles têm muito a esconder. Eu sei o que eles têm a esconder porque vi com meus próprios olhos: a destruição, a violência dos colonos que nunca para. Eles estão prendendo pessoas que querem testemunhar e documentar essa violência. E eu acho isso errado", critica Abraham.
Nesta segunda-feira, Israel deportou a ativista sueca Susanne Björk, de 48 anos, após ela ter sido presa no sábado enquanto documentava a violência dos colonos em Khalet al-Daba. Junto com ela, o ativista irlandês D. Murphy, de 70 anos, também foi detido. Ele ainda está detido em um centro de detenção israelense e também está sujeito a outra ordem de expulsão, de acordo com o Movimento Internacional de Solidariedade Palestina (ISM).
Para Abraham, a intensificação dos ataques nos últimos meses, precedida por anos de perseguição, visa "impedir a criação de um Estado palestino e tentar minimizar o espaço que os palestinos têm, por meio de uma limpeza étnica generalizada". É o mesmo plano que o governo de Benjamin Netanyahu persegue com a guerra em Gaza ou com a aprovação de 22 novos assentamentos judaicos na Cisjordânia, o que representa a maior expansão no território ocupado desde os Acordos de Oslo de 1993, segundo a ONG Peace Now. "E acho que o passo final será expulsar todos os palestinos entre o rio e o mar. (...) E isso é errado, eu me oponho de todo o coração, acredito que tem que acabar", acrescenta.
O padrão é quase sempre o mesmo, explica Adra: “O exército chega com escavadeiras, destruindo a comunidade, e então os colonos criam violentamente seus postos avançados ilegais ao lado ou dentro da vila e começam a atacar a comunidade 24 horas por dia, 7 dias por semana, até que os moradores abandonem suas casas”.
Como ativista, Abraham se sente desencorajado por sua capacidade limitada de impedir essa "violação do direito internacional". Longe de proteger os habitantes de Masafer Yata, o Oscar por seu documentário tornou o local ainda mais alvo do exército israelense e dos colonos.
Para o diretor israelense, sem um envolvimento genuíno da comunidade internacional, a violência não cessará. Ele aproveitou a mídia internacional para criticar duramente seus líderes, especialmente os europeus. Palavras bonitas não bastam, diz ele. E pede ação: “Alguns dizem que só os Estados Unidos têm poder de influência. Eu não acredito nisso. Acredito que os governos europeus têm muito poder para impedir isso, para pressionar contra os assentamentos, para sancionar colonos e empresas, para cortar relações quando Israel viola o direito internacional. É errado que eles não estejam fazendo isso, porque nós, como ativistas, tentamos promover mudanças na prática, mas é muito difícil se a comunidade internacional estiver contra nós”.