O cineasta do Oscar: “Fui vendado e zombaram de mim”

Cisjordânia (Foto: Anadolu Agency)

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28 Março 2025

“Fiquei vendado por 24 horas. Passei frio a noite toda. Era um quarto, eu não conseguia ver nada.... Ouvi a voz dos soldados rindo de mim”. Está livre Hamdan Ballal, 36 anos, codiretor da No Other Land, que foi agredido por colonos na noite de segunda-feira e preso pelos militares israelenses.

A reportagem é de Marta Serafini, publicada por Corriere della Sera, 25-03-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Foi uma noite de pesadelo, que começou no Iftar, o jantar que quebra o jejum do Ramadã. “Estávamos em casa, com minha esposa e três filhos, quando chegaram homens armados em uniformes militares”, conta Ballal ao Corriere. Sua casa é em Susya, um pequeno vilarejo cercado por assentamentos. O mais sitiado na área de Masafer Yatta, a mesma onde, na década de 1980, o então Ministro da Agricultura Ariel Sharon decidiu construir um campo de tiro.

Avanço rápido para 2022, quando a Suprema Corte israelense decide que, sim, o campo de tiro deve ser construído. E até 7 de outubro de 2023, quando o Hamas ataca Israel e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordena novas ofensivas em Gaza e na Cisjordânia. Escolas destruídas, casas queimadas, poços fechados com concreto, menores presos. Pessoas deslocadas. E mortos. Mas o que faz o mundo falar novamente de Masafer Yatta é, acima de tudo, uma estatueta de ouro entregue a milhares de quilômetros a oeste.

O pastor vizinho de casa de Ballal, está assustado. Suas cabras também. Depois dos colonos - havia pelo menos duas dúzias deles – vieram as IDF.

Nenhuma reação às violências por parte dos soldados, contam as testemunhas. Um roteiro já visto dezenas de vezes. Então, os homens de uniforme tiram Ballal da ambulância e o levam embora com outros dois palestinos, a acusação é de atirar pedras contra os soldados. Na porta de Ballal, os vidros quebrados do para-brisa do carro apedrejado e o sangue dos ferimentos. O mesmo sangue que Billal tem no rosto e nas roupas quando chega ao hospital em Hebron, depois de ser liberado da delegacia de polícia de Kiryat Arba, na Cisjordânia.

“Estou morrendo”, conta sua esposa tê-lo ouvido gritar quando o levaram embora diante de seus três filhos. O agressor de Ballal, entre outros, teria sido um colono conhecido que o havia ameaçado no passado. É o mesmo homem que pode ser visto com outros colonos mascarados em um vídeo divulgado em agosto. Eles ameaçam Ballal. “Esta é a nossa terra, ela nos foi dada por Deus”, dizem eles. E então a promessa: “Da próxima vez não vai ser bonito”.

De acordo com Basel Adra, outro codiretor do filme e importante ativista palestino na zona, houve um aumento maciço nos ataques dos colonos e das forças israelenses desde a vitória do Oscar. “Os soldados estão ali apenas para facilitar as violências. Estamos vivendo dias sombrios aqui, em Gaza e em toda a Cisjordânia.... Ninguém pode impedir isso”, explica ele ao Corriere. Mas não se trata apenas de No Other Land. A guerra na Faixa desencadeou uma onda de violência na Cisjordânia, com o exército israelense realizando operações militares em larga escala, matando centenas de palestinos e forçando o deslocamento de dezenas de milhares. E o avanço dos ministros da ultradireita Itamar Ben Gvir e Bezalel Smotrich, aliados de Benjamin Netanyahu, deu nova força aos colonos e fez com que se sentissem completamente acima da lei.

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