13 Julho 2024
"No meio desta forma de ler os acontecimentos, quem discorda – tanto no Ocidente como no bloco adversário – revela-se um traidor", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 12-07-2024.
Eis o artigo.
Apontando para o “relativismo ético”, Bento XVI teria compreendido, com bastante antecedência, a causa subjacente do colapso do Ocidente. Vemos isso bem hoje em dia, tanto que um massacre em Kiev parece ruim e outro em Gaza muito menos.
Essa leitura é bem fundamentada, mas também parcial. Na verdade, exclui o ponto de vista da outra parte. Os outros também têm seu relativismo. Do outro lado da cerca, verifica-se que um massacre em Gaza é ruim, e um em Kiev, muito menos.
No meio dessa forma de ler os acontecimentos, quem discorda – tanto no Ocidente quanto no bloco adversário – revela-se um traidor. Então surge a minha ideia sobre o que mina a batalha de Ratzinger contra o relativismo ético: ela é minada pelo identitarismo, que é o verdadeiro inimigo do sucessor, de Francisco e do seu ensinamento sobre a fraternidade. O identitarismo é a doença do nosso tempo, por isso o meu povo está sempre certo, os outros estão sempre errados. Todos nós sofremos da mesma doença.
Agora, o porta-voz do exército israelense, Hagari, diz que dentro de cinco anos em Gaza ainda estaremos falando sobre o Hamas e seu terrorismo. O primeiro-ministro Netanyahu ficou furioso com essas palavras: onde terminaria sua, sempre iminente, “vitória definitiva” dessa forma?
Mas os jornais noticiam uma repreensão privada de Netanyahu, segundo quem existe o Hamas na Cisjordânia, mas não existe poder executivo do Hamas; na Alemanha existe o nazismo, mas não existe um poder executivo nazista. Ao dizer isso não estamos mais falando da necessidade de erradicar o mal – o Hamas, nesse caso – mas do seu poder executivo. Nessa chave tudo muda.
Se olharmos de perto, o que parecia ser um terrorismo reduzido ao seu último reduto – Rafah – reaparece todos os dias em qualquer área declarada “limpa”. Talvez o Netanyahu não oficial, aquele que não fala da destruição do Hamas, mas do seu poder executivo, esteja mais certo do que o outro. Então: para ele, escolher esse outro caminho já teria sido possível há meses. E teria produzido melhores resultados.
O mesmo acontece do outro lado da cerca. O líder do Hezbollah, Hasan Nasrallah, vem dizendo há meses que só irá parar quando um cessar-fogo for declarado em Gaza. Agora ele diz que se o Hamas desistir de obter uma cessação preventiva das hostilidades, ele também concordará. Portanto, os fundamentalistas, que acusam de covardia ou traição quem os contradiz, contradizem-se a si próprios.
Não teria sido melhor mudar de ideia antes de 4.000 casas libanesas terem sido destruídas por essa guerra, com centenas de aldeias arrasadas e 100.000 refugiados forçados a fugir do sul do Líbano? Tudo sem qualquer perspectiva: apenas para propaganda! Embora nenhum órgão da resistência islâmica ligado ao Hezbollah questione essas pessoas desesperadas e suas vidas.
Mas o relativismo – mais ou menos ético – não diz respeito apenas aos “durões”, mas também aos chamados moderados. Representados por muitos como “razoáveis” – aqueles que já não se curvam ao fundamentalismo – mas estão prontos para as razões da paz: isto é, os sauditas. Eles escolhem essas mesmas horas para restabelecer voos diários entre seu país e a Síria de Assad. O amigo do Irã, afilhado do Hezbollah, é portanto mimado pelos rivais dos iranianos e do Hezbollah.
O poder judicial francês emitiu um mandado de detenção internacional contra Assad por crimes contra a humanidade: apenas o francês, dado que nenhum país do mundo acionou o Tribunal Internacional de Justiça contra Assad, nem do Ocidente nem da outra frente.
O fato de a razoabilidade hoje inocentar os culpados de crimes contra a humanidade – estamos falando de massacres de civis indefesos com armas químicas – demonstra que o relativismo ético excedeu em muito os seus limites. Embora certamente haja quem queira nos convencer de que isso é certo. Mas não me parece.
Leia mais
- Diário de guerra. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (2). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (3). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (4). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (5). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (6). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (7). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (8). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (9). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (10). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (11). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (12). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (13). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (14). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (15). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (16). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (17). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (18). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (19). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (20). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (21). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (22). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (23). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (24). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (25). Israel acusado de genocídio. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (26). Os Houthis. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (27). O compromisso. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (28). O pronunciamento. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (29). A Propaganda. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (30). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (31). Uma saída para Gaza. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (32). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (33). Gaza para além do preto e branco. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (34). Egito e refugiados. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (35). Subindo do poço. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de Guerra (36). Uma boa notícia. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de Guerra (37). Eleições: o Irã está se preparando
- Diário de guerra (38). O sonho de Francisco. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (39). Algo novo no horizonte. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (40). As crianças. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (41). Impasse. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de Guerra (43) Síria, Jordânia, Irã. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (44). Apenas boas notícias. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (47). Khamenei e as Cruzadas. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (48). O narcotráfico. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de Guerra (49). Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (51). Processos de paz
- Diário de guerra (53). A profecia de Francisco. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (54). Fumaça negra nos pulmões. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (55). A frente da resistência. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (56). Paz e o Ocidente
- Diário de guerra (57). Vozes do Líbano. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de guerra (58). Entre Washington e Paris. Artigo de Riccardo Cristiano
- Diário de Guerra (59) Parolin no Líbano. Artigo de Riccardo Cristiano