22 Novembro 2023
"Usei a palavra 'compromisso': para mim, é a mais nobre, mesmo diante das mais elevadas idealidades. Apenas o compromisso pode ser o ponto possível para recomeçar: e esse ponto surge da percepção comum e lancinante da dor que, 'naturalmente', coloca tudo o mais em segundo plano", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 21-11-2023.
Eis o artigo.
Duas linhas políticas, mas principalmente culturais, estão se delineando cada vez mais claramente no mundo islâmico enquanto o conflito avança em Gaza. No momento em que escrevo esta página do diário, o esperado acordo para a libertação de cerca de cinquenta reféns israelenses capturados em 7 de outubro e – pelo menos aparentemente – alguns dias de cessar-fogo ainda estão "em definição".
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A linha de frente é a dos fundamentalistas, como resumido pelo aiatolá Khamenei no domingo passado. Ao apresentar ao mundo o novo míssil hipersônico "Fattah II" em Teerã, juntamente com os líderes dos Pasdaran (Guardiães da Revolução Iraniana), a liderança espiritual da revolução iraniana expressou seu ponto de vista sobre o evidente fracasso de Israel: "O Ocidente não consegue realizar seus programas". Para ele, a ação do Hamas, imediatamente "louvada", expõe Israel ao fracasso, e com Israel, todo o Ocidente falha, principalmente os Estados Unidos.
O contexto em que Khamenei quis proferir seu discurso é significativo. Ninguém sabe com precisão o que diferencia o míssil "Fattah II" do "Fattah I": certamente, foi apresentado sem ter sido testado; é um míssil capaz de viajar a uma velocidade cinco vezes superior à do som, capaz de percorrer e atingir até 1.400 quilômetros de distância. Mas se não está claro tudo sobre a "balística" e a real operacionalidade do míssil, o contexto bélico e belicoso é eloquente.
A outra linha é representada pelo príncipe saudita Turki bin Faysal: atualmente sem um cargo oficial, mas amplamente conhecido como ex-chefe da inteligência saudita e embaixador em Washington, um ministro muito respeitado por muitos anos. Ele escreveu "(nesta guerra) não há heróis", condenando a ação do Hamas assim como a reação de Israel, com suas "muitas" vítimas civis.
Nessas poucas palavras, assim como nas poucas palavras de Khamanei – todas quase textualmente reproduzidas aqui – estão os extremos aos quais se agregam as numerosas posições de corolário.
Certamente, complementar à visão do príncipe saudita é a declaração do príncipe da coroa e chefe de governo do Bahrein, Salam bin Hamad: o primeiro líder que, dos esplêndidos palácios árabes, condenou o Hamas e a reação de Israel com suas vítimas civis, pedindo um cessar-fogo que deveria levar a negociações "sensatas", ou seja, que conduzam à solução usual "Dois povos, dois Estados".
Como corolário da posição de Khamenei, está o que seu "megafone", o proprietário do jornal Kayan, Hossein Shariatmadar, está propagando, segundo o qual quem fala dos "dois Estados" é um traidor da causa. Nessa visão, qualquer tentativa de compromisso é sempre e em qualquer caso uma traição; portanto, logicamente, é impossível entender por que alguém do mesmo "campo" pediria um cessar-fogo. Para essas pessoas, as vítimas em nome da "causa justa e santa" são mártires que se aproximam do momento supremo da vitória: então, por que querem o cessar-fogo?
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Não faltam outros extremismos cegos: aquele que, em Israel, está recusando qualquer compromisso possível. Vale a pena dizer que esse extremismo é mais consistente em negar qualquer disposição a um cessar-fogo. Portanto, as partes já muito distantes podem se afastar cada vez mais, sem um "amanhã". O vice-presidente do Parlamento israelense, a Knesset, afirmou que "é hora de queimar Gaza" e o deputado Tzvika Fogel chegou a acusar os parentes dos reféns de representar mais o Hamas do que Israel.
No quadro delineado, no entanto, procuro alguma palavra à qual ainda possa me agarrar, com um pouco de confiança. O passo mais significativo da intervenção do príncipe saudita Turki bin Faysal foi aquele em que afirmou, mais ou menos, que todos devem admitir suas próprias culpas pelo fato de a busca de compromisso não ter progredido nos últimos vinte anos: um discurso crítico para todos, portanto, também autocritico. Esta é a novidade que vejo. E é uma novidade que imporia a todos os campos confrontar-se com sua própria história e fraquezas, com os oportunismos que bin Faysal mesmo incorpora, tendo sido, em anos cruciais, uma figura proeminente de um país crucial no cenário do Oriente Médio, como a Arábia.
Ao ler e procurar nos jornais árabes, uma surpresa também vem do ministro das Relações Exteriores iraquiano, Fuad Hussein, que, oficialmente, deve ecoar o campo iraniano. Bem, em uma entrevista "fora do padrão", Hussein essencialmente disse: "esperamos que os americanos consigam parar Israel, caso contrário, esta guerra pode queimar todos nós". O reconhecimento aos americanos de um possível papel positivo é realmente incomum para aqueles que lidam diariamente com Teerã. Portanto, vamos pegar o que é dito e ver onde podemos chegar em breve, com sorte.
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No centro da atual cena, coloco com confiança a determinação do Papa Francisco de receber hoje – quarta-feira, 22 – alguns parentes dos reféns israelenses e alguns parentes dos palestinos atingidos em Gaza. O evento não é importante pela sua alegada "equidistância", mas sim pela prontidão em encontrar um tempo e um modo de se comunicar como seres humanos, talvez como crentes. O terreno é o do reconhecimento mútuo como vítimas inocentes, sendo elas crianças, mulheres, idosos...
Usei a palavra "compromisso": para mim, é a mais nobre, mesmo diante das mais elevadas idealidades. Apenas o compromisso pode ser o ponto possível para recomeçar: e esse ponto surge da percepção comum e lancinante da dor que, "naturalmente", coloca tudo o mais em segundo plano.
Francisco quer tocar nesse ponto com a escolha de receber, mesmo em momentos separados, israelenses e palestinos, no mesmo dia, no mesmo lugar, acolhedor para todos.
Como tive a oportunidade de escrever aqui várias vezes – como leigo – parece-me que não há outra autoridade moral global neste momento tão difícil e delicado. Apenas Francisco pode e, talvez, deva arriscar em uma pista cada vez mais estreita e difícil. Sinceramente, parece-me desejável que, na medida do possível, ele consiga pelo menos contribuir!
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Diário de guerra (9). Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU