“Toda guerra é uma derrota. Nada se resolve com a guerra. Nada. Tudo se ganha com a paz, com o diálogo”. O Papa Francisco repetiu isso ontem à noite numa longa entrevista com Gian Marco Chiocci, diretor do Tg1, que foi ao ar imediatamente após o noticiário das 20h. Em 7 de outubro os terroristas do Hamas “entraram nos kibutzim, fizeram reféns, mataram”, depois houve a reação dos israelenses, lembrou Bergoglio. “Na guerra, uma bofetada provoca outra. Uma forte e outra ainda mais forte e assim por diante. A guerra é uma derrota. Senti isso como mais uma derrota”, disse novamente o pontífice, reiterando a posição histórica da Santa Sé sobre Israel e Palestina: “Dois povos que devem viver juntos, com aquela solução sábia do acordo de Oslo: dois Estados, bem limitados, e Jerusalém com um status especial".
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por Il Manifesto, 02-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Contudo, a posição pacifista do Papa não agrada a todos. Em particular, não agrada a Israel, que esperaria uma clara escolha de lado de Bergoglio (uma situação já vista na guerra na Ucrânia, com Zelensky muitas vezes crítico em relação ao pontífice não alinhado com as posições de Kiev e da OTAN). O Papa deve tomar partido: “Quero ouvir uma declaração muito forte também da Santa Sé” contra o Hamas, pediu o presidente israelense, Isaac Herzog, em conversa com Bruno Vespa no Porta a Porta na noite de terça-feira. E alguns dias antes, Riccardo Di Segni, rabino-chefe da comunidade judaica de Roma, havia escrito no La Repubblica, no dia de jejum e oração pela paz promovido pelo Papa: “Pode-se rezar pela paz, mas é preciso ver de que paz se trata, se é uma paz em que o mal é derrotado ou uma paz que satisfaz os agressores e os violentos, e deixa os derrotados feridos e ofendidos", lê-se na carta de Di Segni. “As guerras são sempre uma ofensa à dignidade humana, comportam morte e destruição, e devem certamente ser evitadas, mas quando está em jogo a própria existência diante de um inimigo irredutível, a alternativa pacifista é também moralmente questionável”.
No entanto, de parte do Papa desde o início houve tanto uma condenação do “terrorismo” do Hamas como os apelos à libertação dos reféns israelenses. Juntamente, porém, com a crítica à reação desproporcional de Tel Aviv, a denúncia da “situação desesperadora” em Gaza e sobretudo o não à guerra: “é a destruição da fraternidade humana, Parem!”. Talvez seja justamente isso que não agrada.
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