03 Novembro 2023
Entrevista de Gian Marco Chiocchi, diretor do TG1, transmitida ontem, quarta-feira, 01-11-2023. Alguns trechos das reflexões de Francisco.
A edição é publicada por Il Sismografo, 02-11-2023.
Toda guerra é uma derrota. Nada se resolve com a guerra. Nada. Tudo se ganha com a paz, com o diálogo. Eles entraram nos kibutzim e fizeram reféns. Eles mataram pessoas.
Dois povos que devem viver juntos. Com essa solução sábia: dois povos, dois estados. O acordo de Oslo: dois Estados muito limitados e Jerusalém com um estatuto especial.
O problema mais sério até agora são as indústrias de armamento. Uma pessoa que entende de investimentos, que conheci em uma reunião, me disse que hoje os investimentos que mais geram renda são as fábricas de armas.
Lembro-me de um momento muito difícil no início do pontificado, quando a guerra estourou na Síria com tanta força e fiz um ato de oração na praça, onde cristãos e também muçulmanos rezavam e trouxeram o tapete para rezar. Este é um momento muito difícil.
"Entre Maradona e Messi, prefiro Pelé!"
— Vatican News (@vaticannews_pt) November 1, 2023
Esta noite, 1o de novembro, foi ao ar pelo telejornal "Tg1" @Tg1Rai da televisão pública italiana uma longa entrevista com #PapaFrancisco pic.twitter.com/iPXTVQPLgT
Infelizmente, o antissemitismo permanece oculto. Podemos ver os jovens, por exemplo, aqui e ali fazendo alguma coisa. É verdade que neste caso é muito grande mas há sempre algo de antissemita e nem sempre basta ver o Holocausto que cometeram na Segunda Guerra Mundial, estes 6 milhões de mortos, escravizados e não passou.
Muito pouco se fala agora sobre o conflito russo-ucraniano, onde o Vaticano investiu muito. No entanto, a resposta ucraniana às tentativas do Vaticano nem sempre correspondeu às suas expectativas. Por quê?
No segundo dia da guerra na Ucrânia fui à embaixada russa, senti que tinha que ir para lá e disse que estava disposto a ir até Putin se fosse de alguma utilidade. O bom embaixador, ele não está mais lá agora, um funcionário da Rússia. E a partir desse momento tive uma boa conversa com a embaixada russa.
Quando apresentei os presos, fui lá e eles libertaram, libertaram também do AZOV. Em suma, a embaixada comportou-se muito bem ao libertar as pessoas que podiam ser libertadas. Mas o diálogo parou aí. Naquele momento, Lavrov me escreveu: “Obrigado se quiser vir, mas não é necessário”. Eu queria ir nos dois sentidos.
Houve más migrações no pós-guerra, mas hoje é sempre uma coisa muito dramática e há cinco países que mais sofrem com a migração: Chipre, Grécia, Malta, Itália e Espanha. São eles que mais recebem.
A Europa deve ser solidária. Estes cinco países não podem acolher todos, e os governos europeus devem encetar o diálogo. Há cidades pequenas e vazias com dez, quinze idosos e precisam de gente para ir trabalhar lá. Existe uma política migratória com as etapas da migração: recebê-los, acompanhá-los, promovê-los e inseri-los no trabalho.
Uma política de migração deve ser construtiva para o bem do país e para o seu próprio bem e também de toda a Europa. Gostei quando a presidente da Comissão Europeia foi a Lampedusa ver: gosto disto porque ela está a tentar levar isto adiante.
Você está falando de ordens. Há aí um problema teológico, não um problema administrativo. As mulheres podem fazer qualquer coisa na Igreja, mesmo que você tenha um governador, não há problema. Mas do ponto de vista teológico, ministerial, são coisas diferentes: o princípio petrino, que é o da jurisdição, e o princípio mariano, que é o mais importante porque a Igreja é mulher, a Igreja é noiva, a Igreja não é homem, ela é mulher.
É necessária uma teologia para compreender isto e o poder da Igreja feminina e das mulheres na Igreja é mais forte e mais importante do que o dos ministros do sexo masculino. Maria é mais importante que Pedro, porque a Igreja é feminina. Mas se quisermos reduzir isto ao funcionalismo, perdemos.
O resultado é positivo. Conversamos sobre tudo com total liberdade. E isto é uma coisa linda e foi possível criar um documento final, que deve ser estudado nesta segunda parte para a próxima sessão de outubro, como o da família, também este é um Sínodo em duas etapas. Acredito que chegamos precisamente àquele exercício de sinodalidade que São Paulo VI queria no fim do Concílio, porque percebeu que a Igreja Ocidental tinha perdido a dimensão sinodal que tem a Igreja Oriental.
É uma lei positiva, não é uma lei natural: os padres nas Igrejas Orientais Católicas podem casar e nas Igrejas Ocidentais existe uma disciplina desde o século XII, creio eu, que começou com o celibato. Mas é uma lei que pode ser retirada, não tem problema. Eu não acho que isso ajude. Porque o problema é outro. Isso não ajuda.
Quando digo todos, todos, todos, são as pessoas. A Igreja recebe as pessoas, todos e não pergunta como você é. Então, por dentro, cada um cresce e amadurece na sua pertença cristã. É verdade que hoje está um pouco na moda falar sobre isso. A Igreja recebe a todos. Outra coisa é quando há organizações que querem entrar. O princípio é este: a Igreja recebe todos aqueles que podem ser batizados. As organizações não podem ser batizadas.
Num encontro anterior nosso ela falou sobre quando o Papa Bento XVI lhe entregou duas caixas de documentos e lhe disse: “Cheguei até aqui, agora é a sua vez”.
- Eu continuei. Muita limpeza foi feita. Foram todos casos de abuso e até alguns da Cúria foram mandados embora. O Papa Ratzinger foi corajoso nisso. Ele resolveu esse problema com suas próprias mãos, deu vários passos e depois o entregou para terminar. Isso continua. O abuso, seja de consciência, sexual ou qualquer outro, não deve ser tolerado.
- É contrário ao Evangelho, o Evangelho é serviço e não abuso e vemos muitos episcopados que fizeram um bom trabalho ao estudar o abuso sexual mas também outros.
- Não temos a cultura de trabalhar contra os abusos: por exemplo a estatística que recebi de uma entidade internacional que trabalha nisso, de 42 a 46% dos abusos ocorrem em famílias ou bairros e as pessoas têm o hábito de encobrir tudo. Isso é ruim, isso é ruim.
- A Igreja tem feito muito para combater a pedofilia. Sim, muito foi feito, mas ainda há muito por fazer. Qual foi o momento mais difícil do seu pontificado?
O Senhor sabe, mas sempre existe a melancolia do passado. Isso vem. Algo presente nas instituições e também na Igreja. Para trás.
São para eles que quero voltar, são os “atrasados”. Que não aceitam que a Igreja avança, que está a caminho. Porque a Igreja está sempre em movimento, deve crescer. E também o modo de ser Igreja deve crescer com os três belíssimos princípios de Vicente de Lerins, aquele pai do primeiro século, deve crescer a partir das raízes. Da raiz como o suco da árvore cresce assim, mas sempre presa à raiz, uma Igreja que se desprende das raízes vai para trás e perde esse suco da tradição saudável, que não é conservadorismo, não.
A tradição está crescendo. E deve seguir em frente. Pensemos, por exemplo, na pena de morte. Hoje se diz que a pena de morte não é moral. Até nós crescemos na escravidão. Os escravos já foram normais. Hoje eles não são normais. A consciência moral também cresce. A posse de armas atômicas.
Sim, irei para Dubai. Acho que vou estar de 1º a 3 de dezembro. Ficarei lá por três dias. Lembro-me que quando fui a Estrasburgo, ao Parlamento Europeu, e o presidente Hollande enviou a ministra do Ambiente, Segolène Royal, para me receber e ela me perguntou: “Mas vocês estão a preparar alguma coisa sobre o ambiente? Faça isso antes do encontro de Paris. Chamei alguns cientistas aqui, que se apressaram, foi lançado a Laudato si', publicado antes de Paris. E o encontro em Paris foi o melhor de todos. Depois de Paris, todos retrocederam e é preciso coragem para avançar nisso.
O #PapaFrancisco declarou que participará da @COP28_UAE, agendada para ocorrer em #Dubai. Esta será a primeira vez que um pontífice estará presente na cúpula climática das Nações Unidas. Em uma entrevista ao @Tg1Rai, o Papa disse que estará presente no evento de 1 a 3 de dezembro pic.twitter.com/eRZr8crJpE
— Vatican News (@vaticannews_pt) November 2, 2023
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Citações do Papa Francisco na entrevista de quarta-feira, 1º de novembro, no TG1 (Itália) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU