05 Novembro 2024
"O parágrafo 28 afirma: 'Os termos ‘sinodalidade’ e ‘sinodal’ derivam da antiga e constante prática eclesial de se reunir em sínodo. Nas tradições das Igrejas Oriental e do Ocidente, a palavra 'sínodo' refere-se a instituições e eventos que, ao longo do tempo, assumiram diferentes formas, envolvendo uma pluralidade de sujeitos. Em sua variedade, todas essas formas têm em comum o reunir-se para dialogar, discernir e decidir'", escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 04-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi realmente um Sínodo sem vencedores nem vencidos, ou “sem traumas e sem frutos” (o historiador Alberto Melloni), nada comparável à virada do Concílio Vaticano II (Enzo Bianchi, ex-prior de Bose)? Em essência, uma longa jornada que durou três anos (de 2021 até o final de outubro) e terminou com um salomônico empate que decepcionou os extremistas das duas curvas opostas. Por um lado, o extremo progressismo da esquerda dos bispos alemães (diaconato às mulheres e questão LGBTQ+, principalmente), do outro lado, a direita clerical que se opõe a uma deriva sinodal do centralismo do Vaticano, especialmente em questões de doutrina e liturgia. Vamos começar, então, justamente pelo significado da palavra sínodo, delineado no parágrafo 28 do documento final aprovado pela segunda sessão da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, realizada no Vaticano de 2 a 27 de outubro. Um total de 155 parágrafos para 355 votantes sobre o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão”.
O parágrafo 28 afirma: “Os termos ‘sinodalidade’ e ‘sinodal’ derivam da antiga e constante prática eclesial de se reunir em sínodo. Nas tradições das Igrejas Oriental e do Ocidente, a palavra 'sínodo' refere-se a instituições e eventos que, ao longo do tempo, assumiram diferentes formas, envolvendo uma pluralidade de sujeitos. Em sua variedade, todas essas formas têm em comum o reunir-se para dialogar, discernir e decidir”. Essa é uma definição que faz justiça às acusações feitas a Francisco de um lado e de outro. Prudente e conservador, para os extremistas progressistas. Ditador e tomador de decisões, para a direita clerical.
Na realidade, o método bergogliano desses onze anos de pontificado tem sido exatamente este: “Dialogar, discernir e decidir”. Em particular, o discernimento é um exercício paciente (pode-se representar como uma lenta mastigação) típico dos jesuítas. E Francisco é um jesuíta, não nos esqueçamos disso. Seu método não é de rompantes revolucionários. Em vez disso, é um gradualismo (reformismo) que nunca para de avançar e, de certa forma, evoca aquele grande centro pós-conciliar de Paulo VI. Não é por acaso que o papa já anunciou que não haverá uma Exortação Apostólica após o documento final. Pelo contrário, é o próprio documento que estará no centro do novo caminho universal de uma Igreja que sofre a dupla crise de fiéis e de vocações basicamente apenas na Europa, no Velho Continente. Desde sempre alérgico ao centrismo romano do catolicismo, Francisco quer alargar o governo dessa Igreja aos leigos em suas várias formas e também delineia uma maior autonomia para os bispos conforme um modelo “sinodal, missionário e misericordioso”.
Uma Igreja que, para além da questão feminina do diaconato, que de qualquer forma “permanece em aberto”, coloca os pobres no “coração da sinodalidade” (primeira parte do documento), “a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica” (parágrafo 19). E depois: paz, migrantes, abusos, “ecologia integral”, ecumenismo, crise da democracia e domínio das leis do mercado. Não parece que “a luz do magistério conciliar” tenha se apagado. Pelo contrário.
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Igreja. Pobres, paz, mulheres, abusos e ecologia: o Sínodo que decepciona progressistas e clericais. Artigo de Fabrizio D'Esposito - Instituto Humanitas Unisinos - IHU