"É como a tragédia do Titanic, a orquestra continuava tocando enquanto o navio afundava. Esse é o grande perigo para o Estado de Israel: o que afunda não é o povo palestino, que é bastante jovem, resistente e prolífico, o que afunda pode ser o Estado de Israel", escreve Raniero La Valle, jornalista, ex-senador italiano, em artigo publicado por Chiesa di tutti Chiesa dei poveri, 26-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O escândalo não é o presidente de Israel, Herzog, enquanto prossegue o longo terrorismo de Estado em Gaza, que de acordo com a Convenção da ONU já seria um genocídio, ter vindo a Roma e ter sido recebido por Mattarella, nem que, por praxe, tenha sido invocada a solução "dois povos, dois Estados" e a necessidade de evitar o risco de ampliação do conflito. Nem surpreende que Herzog tenha ficado tão satisfeito com o encontro com o Chefe de Estado a quem agradeceu "por sua clareza moral e por estar ao nosso lado".
Tampouco é escandaloso ter passado, de cortesia em cortesia, como é costume entre os governos, pelo Palazzo Chigi, onde a Presidente do Conselho o recebeu reiterando "a necessidade" de dois povos e dois Estados na Palestina, mesmo sabendo que isso já se tornou um estereótipo cerimonial, porque a criação de um Estado palestino na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental exigiria que Israel fizesse o que o Tribunal Internacional de Haia determinou há apenas alguns dias, em 20 de julho, em um parecer apresentado à Assembleia Geral da ONU. De acordo com o Tribunal, a presença contínua de Israel nos Territórios palestinos ocupados é ilegal e é uma anexação de fato, a que Israel deveria pôr um fim cessando imediatamente todas as atividades de assentamento, evacuando todos os colonos, ressarcindo os danos causados e devolvendo as terras e os bens confiscados desde o início da ocupação em 1967. Pedido a que Netanyahu respondeu que nem se cogita, pois, o povo judeu não é conquistador em sua própria terra, nem em Jerusalém, nem na Judeia e Samaria.
O escândalo está no fato de que, ao passar por Roma, Herzog estava a caminho de Paris para os Jogos Olímpicos. A tradição das Olimpíadas é bem conhecida, como alternativa à guerra ou, pelo menos, como um tempo de pausa da guerra, e ainda mais de um extermínio.
O escândalo - certamente não para o povo judeu, que é totalmente inocente, mas para o Estado que afirma representá-lo - é matar indo aos jogos, e participar dos jogos matando. É como a tragédia do Titanic, a orquestra continuava tocando enquanto o navio afundava. Esse é o grande perigo para o Estado de Israel: o que afunda não é o povo palestino, que é bastante jovem, resistente e prolífico, o que afunda pode ser o Estado de Israel, porque a grandíssima ascendência que tem sobre toda a comunidade internacional e, quando a trágica memória do Holocausto tiver desaparecido e os Estados Unidos tiverem chegado ao seu declínio, corre o risco de fracassar ou ter de usar a bomba. Israel acreditava que o perigo estava no fato de ter de conviver com outro povo na mesma terra, mas, em vez disso, sua paz e segurança estariam no fato de viver naquela terra reconciliado com o povo cujas casas tomou.
É claro que se fala de tempos longos e perspectivas distantes, mas o povo judeu está acostumado a pensar em termos de milênios: a promessa da terra feita por Deus a Abraão e reiterada a Moisés tem três mil anos e por muito tempo não foi cumprida.
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Os jogos ou a guerra. Artigo de Raniero La Valle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU