29 Julho 2024
A Cidade-Luz prometeu realizar os Jogos Olímpicos mais “verdes” da história, mas a magnitude colossal do evento dificulta uma redução efetiva de seus impactos ambientais.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 29-07-2024.
Depois de muita expectativa, os Jogos Olímpicos de Paris-2024 começaram na última 6ª feira (26/7) com uma abertura diferente das anteriores. Ao invés da celebração acontecer em um estádio, ela teve como palco o rio Sena, que corta a capital francesa e serve como eixo para alguns dos principais pontos turísticos, como a Catedral de Notre-Dame, o Museu do Louvre e a Torre Eiffel.
Há alguns anos, o Sena sofria com a poluição de suas águas. A limpeza do rio foi um dos principais projetos e um símbolo daquilo que Paris mais vendeu em sua divulgação – a de que os Jogos deste ano seriam os “mais verdes” da história.
Como observou o Valor, um dos objetivos mais ambiciosos de Paris-2024 é reduzir sua pegada de carbono pela metade em relação aos jogos de Londres-2012 e Rio de Janeiro-2016, que emitiram 3,3 milhões de toneladas equivalentes de CO2 (tCO2e) e 3,6 milhões de tCO2e, respectivamente. A meta francesa é fechar a Olimpíada emitindo, no máximo, 1,58 milhão de tCO2e.
Para tanto, os franceses contaram com a infraestrutura de sua capital, que precisou de poucas obras preparatórias para a realização dos Jogos. O transporte público parisiense é outro chamativo, que permite aos espectadores ir para qualquer lugar da cidade por meio de sua extensa rede de metrô, trens e ônibus.
Outro ponto é o tipo de construção realizada especificamente para os Jogos. O governo francês utilizou materiais menos intensivos em carbono para reduzir a pegada de carbono do evento. A Reuters mostrou o exemplo do Centro Aquático Parisiense, onde ocorrerão as competições de natação; nele, o concreto foi trocado por madeira e as piscinas estão sendo aquecidas pelo calor capturado nos data centers locais.
Os esforços dos franceses para reduzir os impactos dos Jogos de Paris-2024 devem servir como novo benchmark de sustentabilidade de eventos esportivos de grande porte. No entanto, nem tudo nessa vie está en rose: por mais que essas medidas sejam bem-vindas, elas não modificam a realidade cada vez mais insustentável desses tipos de eventos.
“Na cidade onde os líderes globais assinaram um acordo histórico para limitar o aquecimento global a 1,5ºC, estamos recebendo uma versão reciclada do capitalismo verde que é alheio em seu incrementalismo, vago com sua metodologia e frouxo com sua responsabilidade”, disparou Jules Boykoff na Scientific American.
Para ele, não há solução que não passe por atacar o gigantismo que esse tipo de evento adquiriu nas últimas décadas. “Se os organizadores olímpicos realmente querem ser sustentáveis, os Jogos precisam reduzir seu tamanho, limitar o número de turistas que viajam de longe, tornar completamente verde suas amplas cadeias de suprimentos e assumir uma responsabilidade genuína.”
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Paris-2024: o desafio de realizar uma “Olimpíada Verde” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU