17 Dezembro 2020
Cinco anos depois da assinatura do Acordo de Paris, o mais ambicioso de todos os tempos para reduzir o impacto da mudança climática, uma pandemia obrigou a comemorar a data de forma virtual.
A reportagem é publicada por Paralelo 32, 14-12-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
No último sábado, na cúpula de um dia organizada pela Organização das Nações Unidas junto ao Reino Unido e França e na qual participaram 75 líderes mundiais, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apontou que a meta traçada em 2015 para limitar o aquecimento global a um máximo de 2° C, com relação a níveis pré-industriais, “não avança na direção correta” e que se não mudar o rumo “poderia superar os 3° C neste século”.
Diante desse panorama, Guterres instou aos dirigentes do mundo a declarar o estado de “emergência climática”, para estimular recortes mais rápidos nas emissões de gases de efeito estufa.
“Alguém pode negar ainda que enfrentamos uma emergência dramática? É por isso que hoje faço um chamado aos líderes de todo o mundo para que declarem um estado de emergência climática em seus países até que se alcance a neutralidade de carbono”, afirmou o líder das Nações Unidas.
Suas declarações foram feitas justamente um dia depois da União Europeia (UE) pactuar reduzir as emissões de gases de efeito estufa do bloco a menos de 55% para 2030, com respeito aos níveis de 1990. Um primeiro passo no caminho a conseguir o objetivo macro de zero emissões líquidas de carbono para 2050.
Apesar dos danos sanitários e econômicos da pandemia, Guterres disse que os pacotes de recuperação financeira para superar esta emergência são uma oportunidade para acelerar a transição para um futuro com baixas emissões de carbono. Não obstante, o português asseguro que não está ocorrendo, ou ao menos não o suficientemente rápido.
“Até agora, os membros do G20 estão gastando 50% mais em seus pacotes de estímulo e resgate em setores vinculados à produção e consumo de combustíveis fósseis que em energia de baixo carbono (...) Isso é inaceitável. Os bilhões de dólares necessários para a recuperação pela covid-19 é dinheiro que estamos pedindo emprestados a gerações futuras”, enfatizou.
Nas vésperas da cúpula, o coanfitrião Reino Unido anunciou que encerraria o apoio direto a projetos de combustíveis fósseis no estrangeiro, com o fim de impulsionar medidas similares adotadas por outros países para acelerar uma transição para o uso de energias mais limpas.
“Ao mesmo tempo, podemos criar centenas de milhares de postos de trabalho, milhões de empregos em todo o planeta à medida que nos recuperamos coletivamente do coronavírus”, disse o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, ao se referir a um trabalho em conjunto para reduzir radicalmente a dependência dos combustíveis fósseis, mudar as práticas agrícolas e reverter o processo mediante o qual, durante séculos, a humanidade esteve gestando uma cobertura tóxica de gases de efeito estufa.
Por sua vez, Xi Jinping, o presidente da China, considerado o país mais poluente do mundo, anunciou que seu país pretende ter mais de 1.200 gigawatts de capacidade eólica e solar instalada até 2030. Ou seja, mais do que o dobro da capacidade atuais no país.
A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, órgão de planejamento estatal, tem como objetivo ter 240 Gigawatts de energia eólica e a mesma quantidade de capacidade solar instalada até o final deste ano.
Em setembro passado, Pequim surpreendeu com um impulso ao Acordo de Paris, anunciando que teria como objetivo zero emissões líquidas de carbono até 2060, ratificando que mudaria de combustíveis fósseis para energia renovável.
“Vamos tomar medidas sólidas para implementar as metas anunciadas recentemente e contribuir ainda mais para enfrentar o desafio climático global”, disse Xi Jinping durante seu discurso na sexta-feira.
O anúncio foi feito pelo papa Francisco, representante do menor Estado do mundo.
O pontífice argentino, que defende as causas ambientais desde que foi eleito em 2013 o máximo representante da Igreja Católica, afirmou no encontro virtual que a cidade-estado de cerca de 44 hectares, rodeada por Roma, se dispõe a contribuir com o seu grão de areia para combater o aquecimento global.
“A atual pandemia e as mudanças climáticas não são relevantes apenas para o meio ambiente, mas também afetam ética, social, econômica e politicamente, acima de tudo, a vida dos mais pobres e frágeis”, disse ele em mensagem de vídeo transmitida na cúpula.
Francisco prometeu que o Vaticano “reduzirá as emissões líquidas a zero até 2050”, bem como intensificar os esforços de gestão ambiental e promover o uso racional dos recursos naturais, como água, e plantar mais árvores.
“Além de tomar algumas medidas que não podem mais ser adiadas, é necessária uma estratégia para reduzir a zero as emissões líquidas”, alertou.
Dentro das medidas específicas, o Vaticano informou em um comunicado que está avançando nos planos para substituir todos os seus carros com motor de combustão por veículos elétricos ou híbridos.
Da mesma forma, Jorge Mario Bergoglio lembrou que desde 2008 começou a instalar painéis solares e proibiu as sacolas plásticas descartáveis no ano passado. A cidade-estado garante que atualmente recicla 65% dos seus resíduos e tem como meta elevar para 75% até 2023.
O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, disse que seu país está dobrando o número de fontes de energia limpa e está a caminho de atingir os limites de emissão estabelecidos no Acordo de Paris.
A Índia, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa que levam ao aquecimento global, está prevendo 450 gigawatts de capacidade de energia renovável até 2030, anunciou Modi durante seu discurso na Cúpula Global sobre Ambição Climática. A capacidade de energia renovável alcançaria 175 gigawatts em 2022, disse ele.
Embora o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, não tenha participado do encontro, já que sua posse ocorrerá até o próximo dia 20 de janeiro, ele fez um anúncio importante durante a realização da cúpula.
O democrata disse que assim que assumir oficialmente a presidência dos Estados Unidos, seu país voltará ao ambicioso pacto contra as mudanças climáticas, do qual foi retirado pelo atual presidente Donald Trump.
Trump tomou a decisão em meio a fortes críticas da comunidade internacional, após justificar o crescimento econômico das indústrias fósseis e mesmo após afirmar que a mudança climática é uma “farsa”.
“Sob o governo Biden-Harris, vamos aderir ao Acordo de Paris desde o primeiro dia e liderar o mundo na luta contra as mudanças climáticas”, postou Biden em sua conta no Twitter.
O presidente eleito até se ofereceu para organizar uma cúpula extraordinária do clima, com a participação das grandes potências.
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A ONU pede para declarar estado de emergência climática até que se cumpra a redução de emissão de carbono - Instituto Humanitas Unisinos - IHU