08 Julho 2024
"A Hungria se permitiu quebrar a unanimidade violenta dos países europeus, anunciado que todo o seu mandato de seis meses será dedicado à tentativa de trazer de volta a paz à Europa, colocando um fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia por meio de negociações", escreve Raniero La Valle, jornalista, ex-senador italiano, em artigo publicado por Chiesa di tutti Chiesa dei poveri, 07-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nós amamos a Hungria, não porque a Sra. Meloni a ama, nem porque Salvini está empolgado em se juntar a Orban no novo grupo de direita, "Os Patriotas" do Parlamento Europeu. Em vez disso, amamos a Hungria porque esse era o alvo a ser destruído atribuído à Itália, por meio dos mísseis nucleares instalados em Comiso, na distribuição internacional do trabalho entre os países da área do Atlântico, no caso de estourar uma guerra atômica. Sabe-se lá por que justamente a Hungria. O fato é que, mesmo sem saber que o alvo era a Hungria, um movimento popular maciço se levantou na Itália contra os mísseis de Comiso. Somente na Sicília, um milhão de assinaturas foram coletadas para despejar os Cruise. Por fim, aqueles mísseis não foram disparados, a Hungria foi salva e nós também.
Aquela foi a última vez que a Europa e o mundo correram o risco de uma guerra mundial e de uma hecatombe nuclear. E agora estamos de novo nessa situação, devido a uma insensata decisão da Europa de voltar a dançar com o inimigo e não querer acabar com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, talvez para retribuir aos Estados Unidos, que lhe dão a cobertura militar da OTAN e que têm todo o interesse, pelo menos de acordo com os documentos da Casa Branca e do Pentágono, em que a guerra continue.
Mas a Europa decidiu impensadamente que a cada seis meses o Estado que detém a presidência da União deve mudar, e agora esse Estado é a Hungria, e a Hungria se permitiu quebrar a unanimidade violenta dos países europeus, anunciado que todo o seu mandato de seis meses será dedicado à tentativa de trazer de volta a paz à Europa, colocando um fim à guerra entre a Rússia e a Ucrânia por meio de negociações. É por isso que o primeiro-ministro húngaro Orban, como primeiro ato de sua presidência, foi a Kiev e Moscou para tentar propiciar um diálogo entre as duas capitais para pôr fim à guerra.
Nenhum líder europeu havia feito isso antes dele. Nem Johnson, que foi o primeiro a correr para Kiev para dizer a Zelensky que deveria rasgar o acordo que acabara de fazer com Putin na negociação de Ancara, quinze dias após o início da guerra; nem Macron, que queria enviar soldados europeus para reforçar o moribundo exército ucraniano no campo; nem Scholz, que seguiu imediatamente Macron ao atender a pretensão de Stoltenberg de suspender as restrições ao uso de armas da OTAN para atacar mais em profundidade o território russo.
Mas tampouco o tinha feito o presidente Mattarella, que desfruta da maior confiança entre os políticos italianos, tendo sido confirmado duas vezes pelo Parlamento para seus dois mandatos e alcançando 73% dos consensos nas pesquisas; mesmo assim, em relação à guerra, ele foi mais longe do que qualquer outro ao dar crédito às mais sinistras ilações, dizendo que a paz deve ser como a Ucrânia quer e que, se ela fosse derrotada, haveria uma deriva de agressões a outros países nas fronteiras com a Rússia e, a partir daí, se chegaria a "um conflito geral e devastador" como aquele provocado pela Alemanha entre 1938 e 1939.
Em vez disso, a Hungria fez isso agora, despertando a ira funesta das burocracias europeias (mas não da OTAN), de Charles Michel a von der Leyen, a Borrel, bem como da Polônia e da Lituânia; de acordo com esta, para o bem da paz, para Moscou se deveria levar as algemas, não apertos de mão.
No entanto, há uma verdade em tudo isso: a Europa das armas e da guerra está vacilando e entra em crise, como todos os gigantes armados que têm pés de barro; os Estados Unidos estão bem cientes disso, do Vietnã ao Afeganistão, Netanyahu está ciente disso, a quem vem faltando apoio do exército no auge do “seu trabalho”, e agora a Europa está ciente disso, que por causa de um seixo lançado pela pequena Hungria entra em pânico, não sabe mais o que fazer e está renegando a própria presidência da União.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Pés de barro. Artigo de Raniero La Valle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU