Orbán e a “raça mista”

Viktor Orbán. (Foto: Alan Santos/PR - Palácio do Planalto | Flickr CC)

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01 Agosto 2022

 

Só quem nunca prestou muita atenção aos slogans de Viktor Orbán sobre a imigração é que pode se surpreender hoje com as frases pronunciadas nos últimos dias pelo primeiro-ministro húngaro contra a “raça mista”, palavras que levaram uma de suas conselheiras mais próximas, Zsusza Hegedus, a renunciar.

 

A reportagem é de Paolo M. Alfieri, publicada por Avvenire, 29-07-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

Porque há anos o primeiro-ministro húngaro ataca não só e não tanto a imigração em geral, mas, especificamente, os imigrantes muçulmanos e os provenientes da África e do Oriente Médio. Ainda em abril passado, Balázs Hidvéghi, estrategista do Fidesz e membro do círculo restrito de Orbán, ressaltava ao Avvenire que os ucranianos em fuga da guerra acolhidos por Budapeste eram deslocados “de verdade”, ao contrário dos imigrantes africanos e do Oriente Médio, aos quais devia ser impedida a passagem para defender “a identidade e o interesse da Hungria”.

 

Trata-se, em suma, de uma posição bem específica do primeiro-ministro húngaro, que ainda em fevereiro de 2018, em um discurso sobre o estado da nação, lançava-se contra os outros países europeus: “Querem nos fazer aceitar os imigrantes e nos transformar em um país com uma população mista”.

 

Palavras alinhadas com as pronunciadas nos últimos dias na Romênia: Orbán acusou a “esquerda internacionalista” de querer criar um “mundo de raça mista, no qual os povos europeus se misturam com os que chegam de fora da Europa”. “Estamos dispostos a nos misturar, mas não queremos nos tornar povos de raça mista”, acrescentou. Um discurso que a sua conselheira Zsusza Hegedus definiu como “uma tirada puramente nazista, digna de Joseph Goebbels”, apresentando, assim, a sua renúncia.

 

As palavras do primeiro-ministro húngaro foram definidas nessa quinta-feira como “imperdoáveis” pelo porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price. No mesmo dia, Orbán tentou se defender, alegando que na Hungria as suas expressões “representam um ponto de vista cultural e de civilização”.

 

Mas novas críticas contra o primeiro-ministro – reeleito em abril com uma maioria esmagadora – chegaram dos membros da Academia Húngara das Ciências, que se disseram “chocados” em um abaixo-assinado online. “A raça humana é uma só. Portanto, a ideia das raças humanas e da sua mistura é biologicamente viciada”, escrevem os acadêmicos. “A referência política a elas traz de volta uma ideologia historicamente fracassada e desastrosa.”

 

“Achamos inaceitável – concluem – que o primeiro-ministro associe o futuro do povo húngaro a uma doutrina cientificamente insustentável e a uma ideologia tão perigosa.”

 

No seu discurso, Orbán também pareceu fazer referência às câmaras de gás nazistas quando criticou o plano da União Europeia de reduzir a demanda de gás em 15%: “O passado mostra o know-how alemão nessa matéria”, observou. Palavras que chocaram a Hungria, onde os nazistas mataram mais de meio milhão de judeus, muitos dos quais em Auschwitz.

 

O Comitê Internacional de Auschwitz se disse “horrorizado” e convidou a União Europeia a “se distanciar de tais conotações racistas”. “Nunca comentamos as observações feitas pelos responsáveis políticos europeus. O que fica claro é que a União Europeia tem um certo número de valores que estão inscritos nos Tratados e implementa políticas que estão relacionadas com esses valores”, disse o porta-voz-chefe da Comissão Europeia, Eric Mamer, a respeito de Orbán.

 

Nessa quinta-feira, porém, o eurodeputado do Renew, Guy Verhofstadt, apresentou o pedido de uma sessão especial do Parlamento Europeu para quebrar o “silêncio inaceitável” da União Europeia sobre as “palavras racistas de Orbán”.

 

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