Quisera este editorial jamais ter sido escrito. Quisera o horror da tortura, da perseguição, da morte ser um pesadelo escuro que se dissolve com o abrir dos olhos ao amanhecer. Uma sofisticada e complexa articulação civil-militar, com a participação de federações, entidades patronais, partidos políticos, embaixadores, presidentes, militares e mesmo a imprensa, levou o Brasil à escuridão de uma noite com mais de 20 anos.
"Não há tema mais atual do que a memória", afirma o pesquisador José Carlos Moreira. "Entender o passado como morto é o caminho mais rápido para eliminarmos nosso futuro", destaca ele em entrevista publicada nesta edição. O direito à memória e ao não esquecimento são as principais razões para a IHU On-Line publicar este segundo volume sobre os 50 anos do Golpe Civil-Militar. As duas edições inserem-se no contexto do Ciclo de Estudos 50 anos do Golpe de 64. Impactos, (des)caminhos, processos, promovido pelo Instituo Humanitas Unisinos - IHU.
O aprofundamento da discussão acerca da segurança pública deve passar, necessariamente, pelo papel e a natureza do sistema policial do Brasil. Nos últimos anos, sobretudo por conta do recrudescimento da violência nas ações, o tema da desmilitarização das corporações cresceu em importância. Entre os especialistas consultados nesta edição, há pelo menos três recorrências na leitura feita do fenômeno: a persistência de marcas da ditadura nas corporações, a ideia de que o inimigo precisa ser eliminado (o que explicaria tamanho grau de letalidade e truculência) e a falta de transparência e de controle externo sobre a atividade policial. Participam do debate suscitado pela revista IHU On-Line especialistas, ativistas, pesquisadores e pesquisadoras de diferentes áreas do conhecimento.