25 Julho 2025
"Como é possível que justamente os mais religiosos entre os políticos de Israel sejam os mais violentos e mais cheios de ódio?", escreve Vito Mancuso, ex-professor da Universidade San Raffaele, de Milão, e da Universidade de Pádua, em artigo publicada por La Stampa, 18-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Muitos comentários apareceram sobre meu artigo de 13 de julho, incluindo três neste jornal, respectivamente de Anna Foa, Elena Loewenthal e Roberto Della Rocca. A única que compreendeu o cerne da questão que levantei foi Anna Foa, escrevendo que "o messianismo agressivo e fanático dos colonos e dos partidos religiosos extremistas de Israel é o motivo absolutamente primário daqueles que acreditam não apenas agir em nome de Deus, mas também que seu Deus lhes permite cometer atos terríveis".
Essa é, de fato, a questão que levantei quando, comentando a proposta do atual ministro do governo israelense, Itamar Ben-Gvir, de uma "suspensão total das ajudas humanitárias", perguntei-me que tipo de religião é o judaísmo, se produz homens que visam o extermínio total da população de Gaza, ora com as bombas, ora com as balas (é de poucos dias atrás, a notícia de crianças mortas pelo exército israelense enquanto faziam fila para pegar água), ora com morte por desnutrição.
Então, repito a questão: como é possível que justamente os mais religiosos entre os políticos de Israel sejam os mais violentos e mais cheios de ódio? Se o judaísmo é a religião da paz (shalom) e da proteção dos mais fracos, entre os quais os estrangeiros, como explicar que justamente os partidos religiosos sejam os menos inclinados à paz e à convivência com os estrangeiros? E, inversamente, como explicar que os esforços pela paz na direção dos dois Estados venham justamente dos políticos israelenses não religiosos, mas laicos, como Yitzhak Rabin, assassinado exatamente por esse motivo em 04-11-1995 por um fanático religioso?
Ao problema que levantei se responde geralmente de duas maneiras:
1) como qualquer outra religião, o judaísmo é, por definição, intolerante e fanático, e enquanto houver religiões, não haverá paz;
2) os crentes que fomentam a violência interpretam mal os textos sagrados, que, vindos de Deus, ensinam apenas paz e justiça.
A primeira resposta é aquela dos ateus, a segunda, aquela dos religiosos. E é nessa segunda perspectiva que se situam as respostas de Loewenthal e de Della Rocca, segundo os quais o conceito de herem, presente na Bíblia, não deve ser interpretado como "extermínio", como eu e outros estudiosos sustentamos (por exemplo, Mario Liverani: "A prática do herem é totalmente funcional ao projeto de substituição total dos povos 'estrangeiros' pelo povo 'escolhido'"), mas de outra forma, e por isso não deve ser repudiada de forma alguma, mas sim aceita, porque nada na Bíblia, dizem eles, deve ser repudiado. Normalmente, portanto, ao problema por mim posto se responde de forma maximalista: ou nada ou tudo. Nada para os ateus, para os quais a religião é apenas o mal; tudo para os crentes, para os quais a religião é apenas o bem (obviamente, "a nossa", não aquela dos outros).
Eu penso, em vez disso, que a religião, como todo fenômeno humano, contém tanto o bem quanto o mal, e que a tarefa de uma reta consciência teológica consiste em exercer o discernimento. O mal contido no judaísmo, chamei-o de ‘israelismo’, um neologismo que criei para explicar o fenômeno Ben-Gvir e o fenômeno dos colonos. Esses fenômenos, de fato, precisam ser explicados, e isso deve ser feito levando em conta o que Anna Foa escreveu: que, para essas pessoas, a leitura dos textos sagrados é "o motivo absolutamente primário".
Deve-se considerar também que sujeitos como Ben-Gvir sempre estiveram presentes em "todas" as religiões. Assim como existe um ‘israelismo’, existe um cristianismo e um islamismo (para nos atermos aos três monoteísmos). O cristianismo também tem seus Ben-Gvir e seus colonos, que outrora se chamavam de inquisidores e cruzados e que cometeram terríveis massacres, na maioria das vezes justamente contra os judeus, e que também hoje grassam especialmente entre os evangélicos próximos de Trump e entre os ortodoxos próximos de Putin, mas também entre alguns católicos com óbvias simpatias nazifascistas e profundo antissemitismo. Sobre o islamismo e suas derivas islâmicas, das quais o terror do Hamas é apenas uma das expressões; não creio que seja necessário dizer mais nada, tão evidente é o fenômeno.
E a questão é que "sempre" foi assim! Spinoza escreveu em 1670: "A religião não corresponde mais ao sentimento de caridade, mas à disseminação da discórdia entre os homens e à propagação de um ódio cruel, que eles escondem sob o falso nome de zelo divino e fervor ardente". O que valia em meados do século XVII vale para todas as épocas e para todas as religiões. Como é possível, de fato, que justamente aquele território chamado de Terra Santa (ou Israel ou Palestina, se preferir) seja o lugar da Terra onde é maior a violência, o ódio, o sectarismo, a incapacidade de convivência, os atentados, as bombas, o desejo de morte que daí emana para o Oriente Médio e se espalha por todo o mundo?
As passagens do Deuteronômio que recordei em meu artigo na tradução de Rav Elio Toaff (incluindo esta: "Devorarás todos os povos que o Senhor teu Deus te entrega, e não terás piedade deles"), e que representam apenas alguns exemplos da violência contida na Bíblia Hebraica, podem, aliás, devem ser comparadas às passagens violentas do Novo Testamento, dos Padres da Igreja e do magistério pontifício, bem como a passagens desse tipo contidas no Alcorão.
E reconhecer, final e publicamente, que falhamos. As religiões falharam em sua promessa de representar o amor de Deus e sua vontade de paz. Os ateísmos também falharam, que, quando tiveram a oportunidade de construir sociedades de acordo com sua ideologia, ficaram muito aquém da solução dos problemas do gênero humano e, em vez de difundir liberdade e igualdade, semearam repressão, corrupção e milhões de mortos. Todos nós fracassamos. O estado atual do mundo, com seu desespero niilista e a espiral de violência que agora parece realmente nos conduzir à beira da guerra mundial, atestam isso da maneira mais trágica. Acredito que a tarefa de todos aqueles que buscam o bem da humanidade é reconhecer o fracasso de sua própria tradição de pertença e trabalhar para elevar a consciência moral em direção a um único absoluto: ou seja, em direção ao que a Bíblia Hebraica chama de "direito e justiça" (mishpat e tsedakah), que deve valer para todo ser humano e para todo povo (e que, em vez disso, os chamados colonos, na realidade ladrões e usurpadores, pisoteiam de forma mais descarada, zombando do direito internacional e encontrando apoio nos partidos religiosos israelenses).
Essa primazia do direito e da justiça implica uma nova hermenêutica dos textos sagrados que deve rejeitar categoricamente qualquer traço de violência. As religiões, portanto, são chamadas a se converter a algo mais importante do que elas mesmas, ou seja, à paz do mundo, e por essa razão cada uma deve fazer limpeza a sua própria casa. Devem deixar de se considerar um absoluto para o qual tudo deve ser finalizado e começar a se conceber como relativas ao serviço da paz e da justiça.
Haveria não poucos esclarecimentos a serem feitos sobre o que o Rabino Della Rocca me atribui, interpretando de modo impróprio o meu escrito e atribuindo-me pontos de vista nos quais absolutamente não me reconheço, mas não pretendo prosseguir aqui; farei isso, se possível, em particular. Em vez disso, reconheço meu erro ao escrever sobre o Deuteronômio como um texto inteiramente imbuído de uma ideologia sectária e violenta, enquanto é verdade que também contém passagens que não o são de forma alguma e, na verdade, promovem os direitos humanos. Errei ao não exercer, para esse livro bíblico, aquela arte da distinção por mim auspiciada para toda a Bíblia (devo tal correção a um artigo do Rabino Gianfranco Di Segni, a quem agradeço pela atenção). Concluo propondo novamente a questão que inspirou meu artigo: como é possível que justamente os mais religiosos políticos de Israel sejam os mais violentos e mais cheios de ódio? Se o judaísmo é a religião que promove o shalom, como explicar que hoje, em Israel, justamente os partidos religiosos sejam os menos inclinados à paz e estejam até propondo a suspensão total das ajudas humanitárias para Gaza? Esse é o problema que precisa ser abordado, e até agora nenhum dos muitos que replicaram ao meu artigo neste jornal e em outros lugares o fez, exceto Anna Foa com sua costumeira e inestimável honestidade intelectual.