05 Junho 2025
"Há algo que não bate, na raiz do que o Papa disse sobre 'o homem e a mulher' – como se fossem simplesmente abstrações e não vidas [...] cada vida diferente da outra, todas mais ou menos capazes de amar cada uma à sua maneira, na alegria e na dor, na ausência e na presença. Na abençoada ignorância de nem querer saber o que é esse amor, e muito menos defini-lo", escreve Elena Loewenthal, escritora italiana, estudiosa do judaísmo, em artigo publicado por La Stampa, 03-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O casamento não é um ideal, disse o Papa, mas o cânone do verdadeiro amor entre o homem e a mulher.
Palavras fortes, sinal de uma clara direção em termos de ética contemporânea, prova de “resistência”, pensando bem, diante de uma sociedade onde tantos casais formados por um homem e uma mulher decidem constituir família e ter filhos sem a “necessidade” de receber os sacramentos do matrimônio.
Palavras que, sem meios termos, têm toda a aparência de um pé que pressiona vigorosamente o pedal do freio.
Palavras claríssimas: o verdadeiro amor é aquele que habita no casamento entre um homem e uma mulher.
No entanto, antes mesmo de qualquer juízo de ordem ética que se queira fazer e de qualquer reação impulsiva que se possa expressar – indignação, espanto, satisfação –, não se pode deixar de notar a substância, em certo sentido aproximativa, dessas palavras aparentemente tão firmes e inequívocas, porque elas se baseiam em um equívoco fundamental. Aquele segundo o qual haveria um amor verdadeiro e um falso.
Ou melhor, um único verdadeiro e muitos, muitos outros falsos. Entre um homem e uma mulher que não se casam, entre um homem e um homem, entre uma mulher e uma mulher.
Mas o amor não é um cânone. É um impulso, às vezes doce e suave, às vezes ardente e incontrolável, sorridente e raivoso, físico e espiritual, incompreensível, contagiante, exclusivo, altruísta, assassino. E muito mais. Não há cânone que segure, não há regra que se possa respeitar. Como, aliás, acontece com todos os nossos outros impulsos humanos. Aqueles que nos mantêm vivos dia após dia e que são ruins quando fazem o mal – a nós mesmos e aos outros. Que devem ser regulados justamente porque fazem parte daquela nossa esfera comum do “indomável”. Mas que não podem ser cânones por sua própria natureza de sentimentos, emoções e paixões.
E, vejam bem, que até mesmo o Antigo Testamento fala sobre isso: em muitas passagens dos Salmos, obviamente no Cântico dos Cânticos. Mas também na belíssima história de Rute, que escolhe o destino da tribo do marido falecido, apenas por amor, somente por amor.
À luz de tudo isso e muito mais, fica o espanto pelas palavras do Papa. É como se quisessem negar a evidência do que o amor é, faz e nos torna. O sentimento mais belo e surpreendente que existe no mundo, o impulso mais incompreensível que sentimos, contido dentro dos limites de um cânone incongruente pelo próprio fato de que deve definir os contornos de algo que quase todos nós cruzamos mais cedo ou mais tarde e que cada vez que nos acontece percebemos que não o conhecemos absolutamente. Seja para um homem ou uma mulher, para alguém do nosso sexo ou do outro ou de qualquer outra condição existencial.
Há algo que não bate, na raiz do que o Papa disse sobre “o homem e a mulher” – como se fossem simplesmente abstrações e não vidas (e se ele tivesse dito “um homem e uma mulher” talvez tivesse sido um pouco diferente, mais próximo da realidade), cada vida diferente da outra, todas mais ou menos capazes de amar cada uma à sua maneira, na alegria e na dor, na ausência e na presença. Na abençoada ignorância de nem querer saber o que é esse amor, e muito menos defini-lo.