02 Agosto 2024
"Muitas vozes tiveram a coragem de se manifestar com clareza nessas horas dramáticas. Particularmente relevante foi o jornalista estadunidense Thomas Friedman, que sugeriu ao primeiro-ministro israelense Netanyahu que escolhesse Riad e não Rafah (o subúrbio de Gaza onde os últimos líderes do Hamas estariam escondidos). Mas a torrente de aplausos que acompanhou o discurso de Netanyahu perante o Congresso dos EUA não ajudou o primeiro-ministro israelense a fazer a escolha esperada", escreve Riccardo Cristiano, jornalista, em artigo publicado por Settimana News, 02-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mais uma vez, horas dramáticas para todo o Oriente Médio. Nesse contexto, é reconfortante que o diretor do principal jornal diário saudita em língua inglesa, Faysal Abbas, tenha sentido a necessidade de pegar caneta e papel e se dirigir com clareza aos seus leitores em todo o mundo árabe e islâmico.
Isso é muito importante, pois, em um momento tão delicado, a coroa saudita prefere se preocupar com a Copa do Mundo, que espera sediar em 2034. O diretor de seu principal jornal, no entanto, não foge da realidade e escreve em um momento crucial para toda a região - e, portanto, também para a coroa saudita.
"O assassinato em Teerã do chefe político do Hamas, o ataque aéreo israelense no sul de Beirute que matou o principal comandante militar do Hezbollah e outras ações militares que ocorreram nas últimas horas mostram que Israel tem os meios militares para agir, evitando massacres de civis. Portanto, seria preciso entender por que Israel decidiu reduzir Gaza a escombros, matar cerca de 40.000 palestinos e deixar 1.700.000 deles desabrigados.
Os israelenses respondem, corretamente, que nada disso teria acontecido sem o pogrom de 7 de outubro, mas foi o seu ministro da defesa deles que disse, logo depois, que os animais são combatidos como tais. No entanto, devemos reconhecer que há uma lição a ser aprendida: há uma década, 60% dos israelenses apoiavam a solução dos dois Estados, Israel e Palestina, e agora essa porcentagem caiu para 35%.
Nesses casos, a tentação é desumanizar o outro, como fazem os fundamentalismos opostos. E então Faysal Abbas enfatiza o que escreveu em seu jornal Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial, - para ele, a solução de dois Estados, um israelense e outro palestino, é a única opção para o futuro: "não podemos deixar que o terrorismo e as ameaças à própria existência de uma nação ditem nosso futuro".
Ronald Lauder não está sozinho. Muitas vozes tiveram a coragem de se manifestar com clareza nessas horas dramáticas. Particularmente relevante foi o jornalista estadunidense Thomas Friedman, que sugeriu ao primeiro-ministro israelense Netanyahu que escolhesse Riad e não Rafah (o subúrbio de Gaza onde os últimos líderes do Hamas estariam escondidos). Mas a torrente de aplausos que acompanhou o discurso de Netanyahu perante o Congresso dos EUA não ajudou o primeiro-ministro israelense a fazer a escolha esperada.
Portanto, só podemos olhar com preocupação para os desdobramentos político-militares, que ditam que todos mostrem os dentes. Há também as pesquisas que provam que as linhas-duras estão certas: as razões para a paz eram apoiadas por 60% dos israelenses há dez anos, agora 65% dos israelenses mostram que não acreditam mais nelas.
Mas justamente isso mostra que a base para reverter a tendência ainda existe. Quase um ano de ferocidade e agressões inauditas não apagaram a luz da razão em ambos os lados, e as pesquisas de opinião, embora impiedosas, comprovam isso.
Portanto, o diretor do Arab News pode escrever, com coragem e visão, que certamente o presidente do Congresso Judaico Mundial, que não é um antissemita, está certo em sua opinião, especialmente quando escreve: "Israelenses e palestinos têm o direito de viver e sonhar com um futuro pacífico e próspero para seus filhos. Não podemos permitir que os terroristas e as ameaças ao direito de existir de uma nação ditem nosso futuro".
O editor do Arab News parece estar dizendo aos seus editores sauditas que o futebol e os estádios não serão suficientes para construir um novo Oriente Médio. O próprio discurso, em minha opinião, poderia ser feito aos patriarcas do Oriente: mas não há nenhum jornal dos árabe cristão que chame seus pastores às suas responsabilidades comuns.
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Uma voz saudita sobre o Oriente Médio. Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU