23 Julho 2024
A ocupação dos territórios palestinos por Israel é ilegal e é uma anexação de fato que deve cessar o mais rapidamente possível. Isso está estipulado em uma sentença não vinculante do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, o mais alto tribunal das Nações Unidas (não confundir com o Tribunal Penal Internacional, também sediado em Haia). "Os assentamentos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, e o regime associado a eles, foram criados e mantidos em violação à lei internacional", disse o presidente do tribunal, Nawaf Salam, ao ler a decisão emitida pelos 15 juízes: "O Estado de Israel tem a obrigação de pôr fim à sua presença ilegal nos Territórios Palestinos ocupado o mais rapidamente possível, de cessar imediatamente todas as novas atividades de assentamento, de evacuar todos os colonos e de ressarcir os danos causados”. As Nações Unidas e os Estados devem se considerar obrigados, considera o Tribunal, a não reconhecer os assentamentos e negar-lhes apoio. Cerca de 50 países participaram do processo, mas Israel não estava presente.
A reportagem é de Anna Maria Brogi, publicada por Avvenire, 23-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
“O povo judeu não é um conquistador em sua própria terra", trovejou em resposta o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, "nem na nossa capital eterna, Jerusalém, nem na terra de nossos ancestrais na Judeia e Samaria [Cisjordânia, nota do editor] e nenhuma falsa decisão de Haia distorcerá essa verdade histórica, assim como a legalidade dos assentamentos israelenses em todos os territórios de nossa pátria não pode ser contestada". Os ministros de extrema-direita Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich chegaram ao ponto de pedir explicitamente a anexação de grandes partes da Cisjordânia. Da oposição, o centrista Benny Gantz, que as pesquisas vêm apontando como o futuro primeiro-ministro há meses, fala da "judicialização de um conflito político" e de "mais uma evidência de ingerência externa contraproducente para a segurança e a estabilidade regional". "Continuaremos a nos defender", acrescenta ele, "daqueles que buscam a nossa destruição".
Para além das polêmicas, a opinião da Corte Internacional de Justiça não tem o poder de incidir sobre os desenvolvimentos da situação. Mais impactante é o erro humano, admitido pela Defesa israelense, que impediu que as sirenes e o fogo antiaéreo disparassem quando um drone carregado de explosivos entrou no espaço aéreo de Tel Aviv. Chegando à noite, vindo do mar, atingiu um apartamento no centro da cidade, próximo à embaixada dos EUA, matando um homem de 50 anos e ferindo levemente oito pessoas.
O ataque foi reivindicado pelos Houthis do Iêmen, apoiados pelo regime de Teerã. O porta-voz do movimento, Yahya Saree, disse que havia entrado em ação um "novo drone chamado Yafa, capaz de contornar os sistemas de interceptação". Há meses, os Houthis vêm lançando drones e mísseis contra navios no Mar Vermelho e cidades israelenses, mas até agora nunca haviam atingido Tel Aviv. “O Irã está financiando, armando e direcionando seus agentes terroristas em seus ataques contra Israel e o resto do mundo", denunciou o porta-voz militar Daniel Hagari. Não permitiremos que o Irã e seus agentes aterrorizem nossos civis e continuaremos a fazer todo o possível para proteger o povo e as fronteiras de Israel".
De acordo com as declarações de um oficial israelense citado pelo site Ynet e retomadas por outras mídias, o Estado judeu teria a intenção de atacar em resposta o território iemenita. O próprio ministro da Defesa, Yoav Gallant, prometeu "acertar as contas com qualquer um que cause danos ao Estado de Israel ou direcione o terror contra Israel". Enquanto crescem os temores de uma escalada, dos Estados Unidos o secretário de Estado Antony Blinken mostrou-se positivo em relação à possibilidade de um cessar-fogo em Gaza: as negociações, segundo ele, estão próximas da linha de chegada, embora os últimos metros "costumam ser os mais difíceis". De acordo com a imprensa israelense, Netanyahu insistiria para que a passagem de Rafah e o Corredor Filadélfia, entre Gaza e o Egito, permanecessem sob controle israelense. Os EUA se opõem a isso, pois prefeririam confiá-los a forças de segurança palestinas e internacionais.
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