Nunca houve tantas guerras no mundo como hoje. O Instituto de Pesquisa para a Paz de Oslo (Prio), no último relatório divulgado ontem, oferece uma visão geral aprofundada daquela "terceira guerra mundial em pedaços” sobre a qual o Papa Francisco tantas vezes tentou sensibilizar os líderes políticos e a opinião pública global.
A reportagem é de Valerio Palombaro, publicada por “L'Osservatore Romano” de 11 de junho de 2024. A Tradução de Luisa Rabolini.
O 2023 foi o ano com maior número de conflitos desde 1946: 59 espalhados por 34 países. Os últimos três anos, segundo o relatório do Prio, foram os mais cruentos em termos de número de vítimas desde o fim da Guerra Fria. Três guerras em particular alimentaram esse dado dramático: aquela da região do Tigré, no norte da Etiópia, aquela da Ucrânia e a de Gaza. A guerra no Tigré causou 286.000 mortes no período de 2021-2022. Um número tão elevado que, depois dos acordos de paz de novembro de 2022, houve um declínio geral no número de mortes no mundo devidas aos conflitos em 2023, apesar das 71.000 vítimas na Ucrânia (só no ano passado) e das 23.000 vítimas em menos de três meses após a explosão do conflito entre Israel e o Hamas em Gaza.
O atual ano de 2024 também promete ser particularmente cruento, dado que essas duas guerras desastrosas não encontram uma solução, assim como outro grave conflito, aquele que explodiu em abril de 2023 no Sudão, que continua a cobrir de sangue a África. Justamente a África é o continente com o maior número de conflitos em nível estatal, 28, seguido pela Ásia com 17, o Médio Oriente com 10, a Europa com 3 e as Américas com 1 (Colômbia). O número de conflitos na África quase duplicou em comparação a dez anos atrás e nos últimos três anos registaram-se mais de 330.000 mortes ligados à guerra.
Entre esses conflitos está aquele ligado às violências do Boko Haram na Nigéria ou aquele que assola no leste da República Democrática do Congo. Na Ásia são assinalados, em particular, o conflito entre a junta militar no poder e os rebeldes em Mianmar e aquele na ilha filipina de Mindanao.
“O aumento dos conflitos estatais pode ser parcialmente atribuído à propagação do Estado Islâmico na Ásia, África e Médio Oriente, bem como ao crescente envolvimento de outros atores não estatais, como o grupo Jama'at Nusrat al-Islam wal-Muslimin" no Sahel e na África Ocidental, afirma Siri Aas Rustad, pesquisadora do Prio e principal autora do relatório. “Essa situação torna cada mais difícil para as agências humanitárias e as organizações da sociedade civil orientar-se no cenário dos conflitos e melhorar a vida da população", observa a autora do relatório.
No que diz respeito aos conflitos não estatais, ou seja, aqueles que não envolvem diretamente o governo de um estado, o maior número é identificado na América Latina, onde o relatório assinala um aumento das violências no México e no Brasil, por exemplo.
Por fim, alguns dados sobre tendências contrastantes chegam do Médio Oriente. Pela primeira vez desde 2015, o do Iêmen não é mais classificado como um conflito e na Síria tem havido um declínio das violências. Mas a progressiva diminuição no número de conflitos na região parou, passando de oito para dez entre 2022 e 2023. O Médio Oriente registou pouco mais de 5.000 mortes ligados a combates em 2022, o número mais baixo desde 2011. No entanto, no ano passado, o número aumentou novamente para cerca de 26.000, com quase 23.000 dessas mortes registadas em Gaza. “Os dados do Médio Oriente dão esperança de que a violência extrema e os conflitos complexos como os da Síria possam diminuir – conclui a autora do relatório -. No entanto, é preocupante que surjam cada vez mais novos conflitos extremamente violentos."
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