16 Julho 2025
Um partido religioso anunciou sua saída da coalizão governista em Israel, por oposição à revogação da isenção do serviço militar anteriormente concedida a estudantes judeus ultraortodoxos. A retirada deixa o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu com uma maioria muito estreita no Parlamento. A crise no governo pode se agravar ainda mais. O partido sefardita Shas, por sua vez, ainda não deixou claras suas intenções.
A informação é publicada por RFI, 15-07-2025.
As cartas de renúncia dos ultraortodoxos asquenazes do partido Degel Hatora (A Bandeira da Torá) passarão a valer em até 48 horas. A coalizão governista de Benyamin Netanyahu, que se mantém graças a uma aliança entre o partido do primeiro-ministro, o Likud, formações de extrema-direita e partidos judeus ultraortodoxos, ficará com uma maioria apertada: 61 deputados dos 120 da Knesset, segundo o correspondente da RFI em Jerusalém, Michel Paul.
Mas não há intenção, por enquanto, de derrubar o governo ou votar a dissolução do Parlamento para convocar eleições antecipadas. Muito pelo contrário. Os ortodoxos já estão impondo suas condições para retornar. Eles exigem o cancelamento das dezenas de milhares de convocatórias de alistamento enviadas a jovens estudantes de institutos talmúdicos, as Yeshivot.
Em 2024, foram enviadas 7 mil convocações pelas autoridades militares a membros da comunidade ultraortodoxa em Israel no ano passado. E menos de 700 novos recrutas concluíram o processo de alistamento.
O Partido Judaísmo Unido da Torá (UTJ) anunciou, na noite de segunda-feira (14), a demissão de seis de seus membros de seus cargos em comissões parlamentares e ministérios. No entanto, deu a Benjamin Netanyahu 48 horas para tentar resolver a crise que vem minando a coalizão há meses.
Outro partido ultraortodoxo, o Shas, pode seguir os passos do UTJ, privando a coalizão governista da maioria no Knesset.
Mesmo enfraquecido, Netanyahu ainda teria os votos necessários para que seu gabinete de segurança aprove um possível acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, que continua sendo negociado no Catar.
O primeiro chefe de governo de Israel, David Ben Gurion, permitiu em 1948 que cerca de 400 ultraortodoxos estudassem a Torá e os textos sagrados em vez de cumprir o serviço militar. Hoje, são dezenas de milhares os que têm essa isenção. Dos 66 mil ultraortodoxos em idade de combate, apenas algumas centenas se alistaram no exército. Esse é um tema — o alistamento dos ultraortodoxos — que divide profundamente o país, especialmente em tempos de guerra.
Benyamin Netanyahu, por sua vez, tenta ganhar tempo. Ele precisa resistir ainda cerca de dez dias até o início do recesso parlamentar. Isso porque o Degel Hatora não tem cadeiras suficientes na Knesset para derrubar o governo de Netanyahu, a menos que outro partido ultraortodoxo, o Shas, siga o mesmo caminho. Embora o Shas tenha feito essa ameaça, o partido ainda não tomou nenhuma decisão sobre o assunto, informa o The Times of Israel.
Os maiores beneficiados dessa crise são os ministros extremistas de direita, Ben Gvir e Smotrich: suas pressões para impedir qualquer acordo de trégua em Gaza agora são muito mais fortes. As tensões com os partidos ultraortodoxos decorrem de um projeto de lei e da decisão da Suprema Corte no ano passado, de suspender a isenção do serviço militar anteriormente concedida a estudantes de seminários religiosos.
Este privilégio era rejeitado pelos militares, ainda mais após a morte de cerca de 450 soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF), desde o início da guerra em Gaza.
À frente de uma coalizão fragmentada – a mais direitista da história de Israel –, Benjamin Netanyahu também está sob pressão de partidos de extrema-direita que se opõem a qualquer acordo de cessar-fogo em Gaza, alguns dos quais defendem abertamente a anexação do enclave e de grande parte dos territórios palestinos na Cisjordânia ocupada.
"Assim que o acordo adequado estiver sobre a mesa, o primeiro-ministro poderá aprová-lo", garantiu o porta-voz de Netanyahu, Topaz Luk, à Rádio do Exército de Israel na terça-feira.