25 Abril 2025
”No Conclave, como todos os cardeais, levarei as instâncias da terra que represento. Para a Igreja do futuro, teremos que ver como o novo Papa pensará. Será muito importante ouvir as vozes dos cardeais de todo o mundo, para entender e fazer uma síntese geral”. Essas são as palavras do Patriarca de Jerusalém Pierbattista Pizzaballa, na véspera de sua partida para Roma. Esta manhã ele celebrará uma missa em sufrágio do Papa Francisco no Santo Sepulcro e depois partirá para Roma, para assistir ao funeral do pontífice e depois ao conclave.
A entrevista é de Nello Del Gatto, publicada por La Stampa, 23-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ele não quer ouvir falar de previsões nem da Igreja que virá.
Vamos falar apenas do Papa Francisco, o que a Igreja será só Deus sabe. Não sei que Papa que estamos procurando, ainda nem fizemos o funeral, não podemos falar sobre o futuro. Neste momento, devemos estar unidos no luto, tentar entender seu legado, depois avaliaremos o que fazer.
Portanto, vamos começar disso. O que Francisco deixou?
O Papa – explica o cardeal – insistiu muito em certos elementos: atenção aos pobres e aos últimos, a paz. Basta pensar no vínculo especial com a paróquia de Gaza. Isso não é novidade na Igreja, mas foram temas típicos desse pontificado. Ele colocou a paz como uma questão central na vida religiosa, não como uma das questões. O Papa disse repetidamente que não se pode ser um crente, não se pode ter uma relação com Deus se não se deseja a paz em geral. Também, ele sempre foi a favor do diálogo com as igrejas, com as culturas, pensemos em Abu Dhabi, na encíclica Fratelli tutti, por exemplo.
Como explicou Pizzaballa, líderes religiosos, políticos palestinos, o presidente israelense Herzog, que também publicou uma mensagem, e o ministro do Interior Moshe Arbel e líderes do Shas, em caráter pessoal, expressaram suas condolências. No entanto, Francisco não teve uma relação fácil com o mundo judaico.
O Papa falou várias vezes sobre o que está acontecendo na Terra Santa, condenando tanto o massacre de 7 de outubro quanto o que está acontecendo com os palestinos em Gaza. Ele sempre foi muito claro. Também foi mal interpretado, até mesmo quando fez um apelo moral para resolver a situação. A guerra não é travada apenas com as armas, mas também com as palavras. Seus pensamentos sobre aqueles que sofrem em todo o mundo sempre foram claros. Francisco falou muito sobre a guerra, de forma espontânea. As autoridades locais às vezes não ficavam muito felizes com o que ele dizia, mas sempre respeitavam muito a posição do papa. Tivemos mal-entendidos, não pessoalmente, mas entre a Igreja e a comunidade judaica. Mas o desejo de diálogo ainda existe. Precisamos aprender com esses mal-entendidos e aprender como evitá-los e como melhorar. O desejo é ter um diálogo melhor e retomar os contatos.
No entanto, há desafios pela frente.
Os desafios são estes: evangelização, como podemos testemunhar Cristo neste mundo, assim como ele é agora. A questão não é o que, mas como, já que o mundo é tão diverso: Ásia, África, América do Sul. A mensagem é sempre a mesma, mas temos de traduzi-la em realidade com respeito às diferentes culturas e situações, permanecendo unidos. Acredito que, nas discussões entre nós, isso ficará muito mais claro. Há também uma necessidade de unidade no mundo. A unidade é um elemento que deve caracterizar não apenas a vida da Igreja, mas do mundo em geral, onde estamos vendo cada vez mais fragmentação.
O senhor disse que todos trarão suas próprias instâncias. Quais são as suas?
A Terra Santa precisa de paz e de um diálogo melhor entre os diferentes líderes religiosos e políticos. O legado de Francisco permanecerá. O nosso é um microcosmo de situações e conflitos que podem ser encontrados em todo lugar. O que precisamos aqui é o mesmo que se precisa em todo o mundo. Estamos em uma situação paradigmática. A Igreja da Terra Santa – explica o Cardeal – desde sempre é uma Igreja minoritária. Isso não é um drama. O importante é estar presente, poder dizer uma palavra no território onde vivemos, com muita liberdade. Ser pequeno, não ter poder, também lhe permite ter uma liberdade que às vezes o poder não lhe permite. É uma liberdade em relação a todos, especialmente nessa situação tão polarizada. Portanto, acima de tudo, compreender a importância do diálogo ecumênico. Ninguém consegue fazer isso sozinho, sempre precisa da ajuda dos outros. Trabalhar junto com os outros é muito mais difícil, mas muito mais enriquecedor e dá muito mais frutos. O mesmo acontece com o diálogo inter-religioso. Estando aqui e vendo as diferenças culturais, se aprende muito. Não são barreiras, mas são limites superáveis em que cada um continua sendo si mesmo, mas pode aprender muito com os outros. E aprender a construir perspectivas, diálogos, canais de solidariedade é algo que, especialmente durante esse período de guerra, foi muito importante. Durante os tempos mais sombrios, era muito bonito ver como se podia encontrar unidade ao fazer algo juntos para quem estava precisando.
Que lembranças tem do Papa?
Eu o conheci há vinte anos. Como Custódio, eu estava em Buenos Aires e deveríamos encontrá-lo, ele era o Cardeal. Estávamos atrasados. Entramos correndo com o carro, o deixamos mal estacionado e entregamos as chaves a um padre que estava lá, explicando que estávamos com pressa. Não era um padre qualquer, era o Cardeal Bergoglio que estava nos esperando. Em 2014, ele veio em peregrinação aqui como Papa. No Getsêmani, ele me chamou de lado e me levou para a sacristia, eu estava preocupado. Ele me disse que eu tinha dez dias para organizar um encontro de oração entre Peres, o então presidente israelense, e Abu Mazen. Era assim que ele era.