24 Abril 2025
“O futuro Papa não é um sucessor de seu antecessor, mas um sucessor de Pedro”: estas são as palavras do cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller, membro da ala conservadora do Colégio Cardinalício.
A entrevista é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Repubblica, 24-04-2025.
Eminência, quais são os seus sentimentos neste momento?
Um capítulo na história da Igreja se fechou. É claro que o julgamento final pertence a Deus, não podemos julgar as pessoas. Se falamos do pontificado, porém, há opiniões diferentes. Há uma apreciação unânime pelo compromisso de Francisco com os migrantes, os pobres e com a superação das divisões entre o centro e a periferia. Por outro lado, porém, às vezes ele era um pouco ambíguo, por exemplo quando falava com Eugenio Scalfari sobre a ressurreição. Com o Papa Bento XVI, tínhamos uma clareza teológica perfeita, mas cada um tem seus carismas e habilidades, e acho que o Papa Francisco os tinha mais na dimensão social.
O senhor apreciou o fato de Francisco ter governado até seu último suspiro, sem renunciar?
Sim. É claro que não quero criticar o Papa Bento XVI por sua decisão, mas sempre disse que devemos evitar a impressão de que a missão do Papa é apenas uma função. A renúncia deve ser uma exceção, não se pode pensar que os apóstolos se aposentaram...
Na sua opinião, o próximo Papa deveria mudar a bênção dos casais homossexuais?
É preciso deixar isso claro. O documento aprovado por Francisco queria ajudar essas pessoas pastoralmente, mas a doutrina católica do matrimônio não deve ser relativizada.
O senhor disse que as assembleias convocadas pelo Papa eram um simples simpósio.
Os bispos têm uma autoridade que não pode ser confundida com a capacidade de todos os batizados de falar. É um simpósio, legítimo, mas não é um sínodo, não é uma expressão do magistério da Igreja. É claro que aqueles que não entendem nada ou pouco de teologia católica dizem: agora o Papa está mudando a Igreja de uma autocracia para uma democracia. Mas a premissa errada é confundir a Igreja com uma organização política, como o Fórum Econômico Mundial ou a ONU.
O Papa Francisco nomeou uma mulher prefeita de um dicastério do Vaticano: seria uma boa ideia repetir esse tipo de escolha no futuro?
O problema não é a mulher, o problema é um leigo chamado a presidir o que antes era uma congregação, que é uma expressão da autoridade do Colégio Cardinalício. A impressão das pessoas lá fora foi: ah, finalmente uma mulher! E eu acho que quando se trata de cargos administrativos como o Governatorato não há problema em eles serem administrados por leigos, mas a Cúria Romana é um órgão eclesiástico.
O Papa Francisco tem se mostrado muito comprometido com o diálogo com o islamismo: na sua opinião, isso deve continuar?
Já Tomás de Aquino distinguia: no plano da razão podemos dialogar com eles: eles respeitam certos princípios da ética natural e creem em Deus à sua maneira. Mas devemos nos perguntar como é possível que alguém que acredita em Deus, o criador de todos os homens, possa matar em nome de Deus. Diálogo sim, mas evite qualquer forma de relativismo: a fé católica não é uma expressão singular de uma religião mundial universal criada pelo fórum de Davos.
Bergoglio assinou um acordo histórico com a China: continuaremos neste caminho?
Devemos chegar a um acordo com esses ditadores poderosos, mas não podemos trair os princípios da nossa fé, não podemos aceitar que comunistas ateus, inimigos da humanidade, escrevam nossos catecismos ou levem a imagem de Xi Jinping para as igrejas. Não podemos aceitar que os comunistas nomeiem os bispos.
O que o próximo papa deve fazer e que perfil ele deve ter?
Todo Papa deve servir a missão de São Pedro: ele é servus servorum Dei. O futuro Papa não é sucessor de seu antecessor, mas sucessor de Pedro.
O senhor acha que suas posições são compartilhadas no Colégio dos Cardeais? Se sente uma minoria?
Alguns podem dizer: estes teólogos falam, outros são pragmáticos, pensam mais no poder, na influência… Não sei. Todos devem lembrar que somos o corpo místico de Cristo e não uma organização humanitária e social internacional. Isso agrada muitas pessoas secularizadas, a elite, os oligarcas, que gostariam que o Papa fosse um símbolo de sua religião, mas o Papa não é um símbolo da religião secularizada.