20 Janeiro 2025
“Acaba a guerra, não o conflito, mas como também dissemos como ordinários católicos da Terra Santa, a trégua é um passo necessário. Na população, sentimos uma sensação de libertação, o fim desse período terrível. Estamos felizes, mesmo que estejamos diante de uma trégua muito frágil que ainda tem muitos obstáculos pela frente, mas esses passos devem ser encorajados”.
A entrevista é de Nello Scavo, publicada por Avvenire, 19-01-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, olha com esperança e realismo para os dias que virão.
Quais são seus principais temores?
Haverá muitas dificuldades durante a trégua, o risco de incidentes e, nas últimas horas antes de o acordo entrar em vigor, ainda há tiroteios. Mas é preciso seguir em frente, incentivar e apoiar essas medidas.
Quais são os sentimentos que o senhor recolheu da paróquia de Gaza?
Suas maiores esperanças e preocupações são com o que ainda poderia acontecer. Mas estão muito felizes com o fim iminente dos confrontos armados e com a virada que uma trégua pode trazer. Ainda restam muitas perguntas, muitas preocupações. Mas, pelo menos, os confrontos terminarão e se deveria chegar a um período de calma que, em primeiro lugar, permitirá à população um momento de respiro e uma ideia do que precisará ser feito no imediato.
Quais são as necessidades mais urgentes?
Há três emergências principais. Alimentação, mas isso deveria ser resolvido rapidamente, permitindo a entrega de ajudas alimentares necessárias. A escola, muitos se esquecem de que centenas de milhares de crianças em Gaza não recebem nenhuma educação por dois anos. E, é claro, o sistema de saúde, que está quebrado, com hospitais quase todos destruídos, e, portanto, precisa de uma intervenção rápida e maciça.
O senhor está planejando uma nova visita à Faixa de Gaza?
É claro que voltarei a Gaza, mas também terá de haver um contexto interno e externo que torne isso possível, mas certamente voltarei. O Patriarcado já está empenhado há tempo, agora estamos avaliando como continuar a nossa ação de apoio, não sozinhos. Juntamente com outros, deveremos criar uma rede, por exemplo, com os anglicanos, os Cavaleiros de Malta, para conseguir alcançar o maior número possível de pessoas. Desde 7 de outubro de 2023, muitas coisas mudaram em todo o quadrante. O que uma trégua pode significar agora?
Houve muitas mudanças no Oriente Médio, mas a questão israelense-palestina, o cerne de todas as questões do Oriente Médio, precisa de uma mudança de perspectiva. Ainda haverá muito a ser feito. Precisamos de novas lideranças, precisamos de visão, precisamos de narrativas diferentes daquelas orientadas para a vitória, para a destruição e para o ódio. Para fazer isso, em primeiro lugar precisamos parar a guerra. A trégua é um ponto de virada importante, mas precisa de um compromisso sério de todos, políticos, religiosos, para que não seja apenas um episódio temporário, mas o início de um novo tipo de percurso.
Vocês continuaram a dialogar com todos. Acredita que existam, tanto na Palestina quanto em Israel, pessoas de boa vontade dispostas a seguir percursos comuns, com o pressuposto do reconhecimento mútuo?
As pessoas existem, mesmo que não estejam nos cargos mais altos neste momento. Mas as pessoas existem. As relações foram profundamente feridas, portanto, os tempos de cura serão muito longos. Espero e desejo que, com o tempo, essas figuras possam nos ajudar nas diversas esferas - política, religiosa, social, econômica - a construir perspectivas diferentes. Precisamos disso, não há alternativa. Vimos que com a linguagem da violência e do ódio, com as ações armadas, não se resolvem os problemas, que, ao contrário, são agravados.
Nas relações entre a Igreja Católica e o judaísmo, há tensões e, recentemente, novas recriminações ao Papa Francisco...
Houve mal-entendidos e não podem ser negados. Recentemente, foram expressos com muita clareza. Eu os vejo como um momento importante nas relações entre a Igreja Católica, o mundo religioso judaico e o povo de Israel. Uma oportunidade para fortalecer o diálogo que, ao contrário, deveria se tornar ainda mais verdadeiro e autêntico. A importância das relações entre nós deve prevalecer sobre as atuais incompreensões. Devemos trabalhar para superá-las e tornar nossas relações ainda mais fortes e firmes. Momentos de crise existem, e este é um deles, mas devem se tornar uma oportunidade para aprofundar e esclarecer as incompreensões. Sem ter a pretensão de sempre estar de acordo sobre tudo.