13 Novembro 2024
Pelo telefone ouve-se o barulho constante dos drones israelenses.
A reportagem é de Francesca Caferri, publicada por La Repubblica, 12-11-2024.
No início, o padre Gabriel Romanelli brinca com a situação: “Você também os ouve? Eles nunca nos deixam sozinhos”. Depois, ele fica sério e continua: “As pessoas aqui não aguentam mais. Tê-los sobre a cabeça é um estresse constante, que se soma ao medo, à falta de uma casa, de remédios e, é claro, de comida e água. Há um mês, graças à ajuda do Patriarcado Latino de Jerusalém, distribuímos pela primeira vez em um ano um frango e uma caixa de ovos por família. E algumas verduras: pela primeira vez em um ano. Consegue imaginar o que isso significa?”
O padre Romanelli fala da paróquia da Sagrada Família, a única igreja católica de Gaza, que se tornou o refúgio de toda a comunidade cristã da Faixa, tanto ortodoxa quanto cristã. Desde 5 de outubro - quando Israel lançou uma nova ofensiva no norte de Gaza, seguindo as indicações do “plano dos generais” que prevê esvaziar a área mesmo ao custo de deixar aqueles que vivem ali sem comida nem cuidados - para os 500 cristãos fechados no complexo, a situação se deteriorou ainda mais.
A paróquia fica a um passo das áreas de bombardeio mais intenso: Jabalia, onde trinta pessoas foram mortas há dois dias, fica a 4 quilômetros de distância. Nuseirat, onde vinte pessoas foram mortas ontem, está à mesma distância, mas do lado oposto. O que separa o complexo dessas áreas são apenas esplanadas de destroços. “Os prédios estão destruídos: e isso faz com que o barulho das bombas seja ainda mais alto, porque nada o abafa”, explica o padre. E ainda: “Ao contrário de algumas das áreas ao nosso redor, não recebemos uma ordem de evacuação. Mas eles nos informaram que estamos na zona vermelha e indicaram dois corredores humanitários para deixar a região”. Ninguém os utilizou. “Para ir para onde?”, o padre se pergunta. “Não há zonas seguras em Gaza. E há muita gente aqui que não pode se mover: primeiro as 58 crianças com deficiência ou patologias graves que as irmãs de Madre Teresa atendem em sua estrutura. Depois, os idosos e os doentes. Os israelenses sabem disso muito bem”.
Tudo isso não poupou a Sagrada Família do horror da guerra. Em dezembro passado, duas mulheres foram mortas por um franco-atirador no pátio da igreja; há algumas semanas, uma explosão danificou um dos muros do complexo: só o acaso quis que ninguém estivesse perto. Nem mesmo naquele momento alguém cruzou os portões do complexo. “Antes da ofensiva, havia pessoas que saíam, talvez para verificar suas casas e depois voltavam. Agora não, é muito perigoso. Não vamos sair daqui: temos fé e a ela nos apegamos. É assim desde o início: ao redor da igreja, tentamos criar uma bolha. Há a cozinha que prepara refeições para todos, nós nos revezamos para lavar as roupas, temos aulas para as crianças estudarem e momentos de recreio depois da escola. Há as missas e rezamos o terço todas as noites, esperando a ligação do Papa, todos os dias às 20h. Quando chegam as ajudas enviadas pelo Patriarcado da Ordem de Malta, também distribuímos alimentos para as pessoas do bairro”.
Mas por quanto tempo essa pequena comunidade poderá resistir? “Não cabe a nós dizer. Nós rezamos e ficamos grudados à nossa igreja. Tudo o que pedimos é paz”, conclui o sacerdote.
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A paróquia de Gaza: “Cercados por bombas, mas não vamos sair daqui” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU