Às crianças de Gaza são negados os exames e, com eles, também o futuro

Crianças em Gaza após ataque de Israel | Foto: Anadolu Agency

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26 Junho 2024

  • Recentemente, cerca de 39.000 crianças em Gaza deveriam enfrentar seus exames de Ensino Médio... deveriam ter sido 39.000, mas é impossível saber quem não poderá comparecer.

  • Este ano não haverá a aplicação das provas escolares em Gaza: elas já foram canceladas com a destruição de tantas escolas. Também não haverá aplicação no próximo ano, interrompendo o crescimento e o desenvolvimento destas gerações.

  • Escolas, como os hospitais e os locais de culto, são lugares sagrados. Têm missões fundamentais para a cura do corpo, da mente e da alma. Respeitá-los é respeitar as vidas que protegem.

O artigo é de Padre Ibrahim Faltas, OFM, vigário geral da Custódia da Terra Santa de Jerusalém, publicado por Religión Digital, 26-03-2024.

Eis o artigo.

Recentemente, cerca de 39.000 crianças em Gaza deveriam enfrentar seus exames de ensino médio. Assim como tantas outras crianças palestinas, tantas crianças israelenses, tantas outras crianças ao redor do mundo. O exame de admissão é importante, marca uma etapa na vida, é a passagem para a idade adulta. Deveriam ter sido 39.000, mas é impossível saber quem não poderá comparecer porque não está mais aqui ou porque seus corpos ainda estão sob os escombros.

Quantos deles sofreram lesões e traumas? Quantos perderam seus pais e se tornaram subitamente responsáveis pela família que antes os apoiava e protegia? Quantos perderam amigos e colegas de escola com quem compartilhavam os bons anos da adolescência?

Minha experiência como diretor das escolas da Custódia da Terra Santa me permitiu conhecer bem as crianças e jovens desta terra. Vejo-os entrar nas salas de aula do jardim de infância, inicialmente agarrados às mães e depois correndo sorridentes e felizes para os braços das professoras. Vejo-os crescer em estatura e ouço-os superar incertezas e dificuldades com dedicação e determinação. Acompanho-os em suas angústias e preocupações que, junto com professores e pais, tento transformar em consciência de suas capacidades, confiança e esperança no futuro, um futuro que começa com o exame de conclusão do ensino médio e as primeiras escolhas na vida. Estes são os dias em que os meninos concluem uma jornada de quinze anos, muitas vezes na mesma escola e com os mesmos amigos, e são os dias que necessitam da proximidade de um olhar, um sorriso e uma palavra de encorajamento.

Este ano não haverá exames de ensino médio em Gaza: eles já foram cancelados com a destruição de tantas escolas, e tampouco os haverá no próximo ano, interrompendo o crescimento e o desenvolvimento destas gerações. As escolas, como os hospitais e os locais de culto, são lugares sagrados, têm missões fundamentais para a cura do corpo, da mente e da alma. Respeitar estes lugares é respeitar as vidas que protegem.

Após 260 dias, a violência e o ódio continuam sendo os principais protagonistas na Terra Santa e, como sempre, são a causa de todas as guerras. Nem mesmo na Cisjordânia os confrontos cessam, causando mortes, feridos, destruição e detenções.

Às crianças desta terra é negado o passado, seu presente é obstruído, seu futuro é obscurecido. As crianças precisam da força das árvores plantadas por seus antepassados nesta terra, precisam de suas raízes firmes e de seus galhos cheios de novas folhas. As raízes não representam apenas o passado e a força do vínculo familiar, mas são a história de todo ser humano. Os galhos são um sinal de renascimento e nova vida, um sinal visível da primavera que empurra os galhos em direção ao céu e, para nossos filhos, representam a esperança em um futuro melhor.

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