A dramática situação criada após o traiçoeiro ataque do Hamas contra Israel no sábado, 7 de outubro, continua a interpelar também o Papa e os patriarcas cristãos de Jerusalém, que também enfrentam dilemas difíceis. O principal está entre o reconhecimento do direito do Estado judeu à legítima defesa dos seus cidadãos e, ao mesmo tempo, à afirmação da necessidade de Israel garantir a segurança da população civil da Faixa de Gaza.
O comentário é de Luigi Sandri, publicado por L’Adige, 16-10-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Francisco disse no domingo, 15-10-2023, no Angelus: “Renovo o apelo pela libertação dos reféns e peço veementemente que as crianças, os doentes, os idosos, as mulheres e todos os civis não sejam vítimas do conflito. O direito humanitário deve ser respeitado, especialmente em Gaza, onde é urgente e necessário garantir corredores humanitário e socorrer toda a população. Irmãos e irmãs, em muitos já morreram. Por favor, que não se derrame mais sangue inocente, nem na Terra Santa, nem na Ucrânia, nem em qualquer outro lugar!
Chega! As guerras são sempre uma derrota, sempre!”
Os dois milhões e trezentos mil habitantes de Gaza são quase todos muçulmanos, encerrados num território menor que Val di Non; entre eles, os cristãos são uma pequena minoria de aproximadamente duas mil pessoas, a maioria greco-ortodoxa; os católicos são menos de duzentos: portanto, seja o Vaticano como os patriarcas de Jerusalém, aos quais estão ligados os cristãos de Gaza, sabem bem que a destruição da Faixa provavelmente resultaria no desaparecimento dessas comunidades periféricas.
Mas, o que está pesando sobre os líderes das Igrejas (greco-ortodoxos, católicos romanos, melquitas, sírios, coptas, armênios, anglicanos, luteranos) é o juízo a ser proferido sobre a tragédia em curso, dado que a grande maioria de seus fiéis é árabe. Ora, na sua maioria, todos eles discordam quanto a ferocidade do Hamas mas, ao mesmo tempo, ressaltam que diante de uma Autoridade Nacional Palestina impotente, que mal e mal governa a Cisjordânia, o Movimento Islâmico de Resistência enfrenta o Estado Judeu. Daí a dificuldade dos patriarcas de nomear, condenando-o pela sua carnificina, o Hamas.
No entanto, defendendo uma sua proposta, Bergoglio disse ontem: “A oração é a força mansa e santa a ser oposta à força diabólica do ódio, do terrorismo e da guerra. Convido todos os crentes a se unirem à Igreja na Terra Santa e a dedicarem a terça-feira, 17 de outubro, à oração e ao jejum”. Veremos amanhã como o mundo católico acolherá essa iniciativa.
O pontífice acrescentou ainda: “Expresso a minha proximidade à Comunidade Judaica de Roma, que amanhã comemora o octogésimo aniversário da incursão nazista." Foi, de fato, em 16 de outubro de 1943 que as SS nazistas reuniram à força 1.024 judeus da capital (entre eles duzentas crianças) no Pórtico de Otávia – perto da grande sinagoga de Roma – e depois os transportaram em vagões de gado chumbados para Auschwitz, na Polônia, para serem exterminados. Deles, apenas dezesseis pessoas voltaram para casa.
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O Papa e as escolhas dramáticas para Gaza - Instituto Humanitas Unisinos - IHU