Parolin: “O mundo parece ter enlouquecido”

ou a atenção para o que chamou de “guerras neoimperialistas” e visões que recordam um passado que “se acreditava estar superado”. (Foto: Reprodução | Vatican News)

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09 Outubro 2023

  • De Camaldoli, onde termina neste domingo, 8 de outubro, um curso de cultura política organizado pela comunidade de monges e pela revista Il Regno, o secretário de Estado do Vaticano expressa seu horror pelos acontecimentos entre Israel e Gaza.

  • A escalada da violência põe em perigo as frágeis esperanças de paz que pareciam vislumbrar-se mesmo com o acordo com a Arábia Saudita.

  • Parece que confiamos apenas na força, na violência, no conflito, para resolver os problemas que estão aí, reais, e que devem ser resolvidos com métodos muito diferentes.

  • O cardeal chamou a atenção para o que considera guerras neoimperialistas: “é urgente reiterar a condenação dos nacionalismos, particularmente os de origem étnica. São uma mancha na história europeia e um prenúncio de novas tragédias.

A reportagem é de Antonella Palermo, publicada por Vatican News, 09-10-2023.

Iniciando o seu discurso em Camaldoli, Itália, no encerramento hoje, 8 de outubro, do seminário de quatro dias organizado por Il Regno e a Comunidade dos Monges sobre o tema "A terceira questão. A Igreja, os católicos e a Itália", o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, fez uma introdução improvisada sobre a escalada de violência em Israel.

Frágeis esperanças de paz ainda mais ameaçadas

“Os nossos pensamentos neste momento estão dirigidos para o que acontece no Médio Oriente, em Israel, na Palestina e na Faixa de Gaza”, disse, lembrando que o apelo à paz feito pelo Papa no Angelus foi repetido por quase todos os governos do mundo para acabar com a violência. “Estes desenvolvimentos põem ainda mais em perigo as frágeis esperanças de paz que pareciam vislumbrar-se mesmo com o acordo com a Arábia Saudita”, acrescentou.

O mundo parece ter enlouquecido, o que acontece está além da imaginação

Parolin acrescentou que “além dos esforços diplomáticos que não parecem ter grandes resultados – e digo isto também em referência à guerra na Ucrânia – devemos todos unir-nos numa oração coral pela paz”.

Na entrevista realizada à margem da conferência por Il Regno, a maior preocupação do cardeal: “Não sabemos como evoluirá e como terminará. O que acontece está além da imaginação”. Consternado, Parolin afirma que “o mundo parece ter enlouquecido, parece que confiamos apenas na força, na violência, no conflito, para resolver problemas que estão aí, reais, e que devem ser resolvidos com métodos muito diferentes.

Não vejo um papel claro para a paz que a Europa deva desempenhar

Além da destruição de vidas humanas, que testemunhamos de forma horrível, continua o cardeal, “as frágeis esperanças de paz que pareciam aparecer um pouco no horizonte estão desaparecendo completamente.

Portanto, “isto exigirá um esforço muito maior para juntar os fios e tentar chegar a uma solução pacífica, que é a única solução justa e a única solução eficaz que evitará que estas situações se repitam”.

Parolin apela à Europa e ao seu papel. “Porque a Europa se estabeleceu precisamente como uma experiência fundamental de paz depois das grandes tragédias do século XX e não só internamente, mas também externamente”, declarou. Contudo, “acredito que os problemas que existem no seio da União Europeia, e a dificuldade de se relacionar corretamente com outras realidades, dificultam esse papel de paz que a Europa deveria jogar no mundo. Esperamos que ele recupere esse papel e essa dimensão, mas não vejo isso com tanta clareza, não vejo com tanta clareza”, afirmou.

Condenação do nacionalismo

Precisamente “A Europa como horizonte de paz” foi o título da sua intervenção em Camaldoli. “A invasão da Ucrânia, a guerra e a devastação do seu território implicam também a destruição das normas e direitos internacionais em que se baseia a possibilidade de coexistência pacífica, até à ameaça do recurso extremo ao uso de armas nucleares. A Europa não pode aceitar regressar a um sistema que redesenha as fronteiras pela força”, sublinhou.

O cardeal chamou a atenção para o que considera guerras neoimperialistas e visões que recordam um passado que se acreditava estar superado. Disse que “é urgente reiterar a condenação dos nacionalismos, especialmente os de origem étnica. São uma mancha na história europeia e um prenúncio de novas tragédias. Os fundamentalismos e nacionalismos de vários tipos não podem ser legitimados, nem qualquer forma de sacralização e mitificação da ideia de nação. Uma é uma forma de negação da verdadeira inspiração religiosa, a outra é uma forma de neopaganismo. São formas que nada têm a ver com a valorização legítima da comunidade nacional e com uma busca autêntica do bem comum. Por outro lado, acredito que embora devamos agir para restabelecer a necessidade absoluta de uma ordem internacional baseada na solidariedade e na paz, não podemos deixar de reconhecer o pleno valor das ordens institucionais baseadas na participação democrática dos cidadãos, que são essenciais para banir o espectro da guerra”.

Que o Sínodo ajude a ser mais credível em relação à unidade e à paz

O secretário de Estado do Vaticano denuncia o grau de fragmentação da sociedade contemporânea “cheia de questões e de aporias”. Com esta observação, ele nos convida a levar novamente a mensagem do Evangelho à Europa e aos europeus. É a Palavra que salva, por isso pede “um anúncio alegre, uma cultura do diálogo, do respeito, da responsabilidade, da autoconsciência”. A sua oração refere-se também ao trabalho sinodal em curso: “Que o atual caminho sinodal nos ajude a redescobrir a comunhão como caminho de evangelização, para sermos hoje testemunhas mais coerentes e credíveis de unidade e de paz para o continente europeu”, conclui.

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