04 Junho 2024
"Mas… quem sabe, talvez já no século XXI, um bispo de Roma, confortado na sua escolha por um grande Concílio de “padres” e “madres”, reconhecerá que as mulheres também podem atuar todos (todos!) os ministérios eclesiais", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 03-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
“Não às mulheres diáconas”: há quatro meses do início da segunda sessão do Sínodo dos Bispos dedicado precisamente à “sinodalidade”, o Papa Francisco antecipa a sua negação a uma hipótese que aquela Assembleia teria de enfrentar, suscitando assim fortes críticas, especialmente por parte de teólogas católicas.
Com a sua resposta inesperada - expressa em abril a uma emissora estadunidense, mas divulgada pelo Vaticano no final de maio - Francisco atraiu os aplausos daqueles, clero e fiéis, que eram e são muito contrários a tal possibilidade, na sua opinião “subversiva” em relação à tradição eclesiástica; mas, também, aberto dissenso especialmente daquelas biblistas que há muito apoiam a plena legitimidade de tal perspectiva.
Para entender os aplausos e/ou decepções pelas palavras do pontífice, é necessário lembrar que o Sínodo, na sua primeira sessão de outubro de 2023, sobre o tema em questão resumiu o debate da seguinte forma: “Alguns consideram que este passo - o acesso das mulheres ao ministério diaconal - seria inaceitável por estar em descontinuidade com a Tradição. Para outros, porém, que, concedendo-o, se restauraria uma prática da Igreja primitiva”. Esperava-se então a continuação da pesquisa histórica e pastoral sobre o tema. Agora, em muitas propostas de episcopados locais ou de grupos variados em vista da próxima sessão, se levanta a hipótese de mulheres diáconas; em outras, que parecem minoritárias, se excluem. Assim, depois de ter iniciado o debate, dada a aparente orientação para o "sim" que pareceria prevalecer, Bergoglio, para não ser desmentido, encerra abruptamente o jogo. Veremos, na segunda “rodada”, como será recebido esse “não” autoritário; a julgar pelas primeiras reações do mundo teológico, prevalece a amarga surpresa pelo método utilizado pelo papa: desautorizar o Sínodo cancelando antecipadamente um debate sobre um tema importante.
Mas, se o Papa se orientou pelo “não”, por que primeiro decidiu que a Assembleia de 2023 falasse a respeito, e depois, prevendo que no próximo outono provavelmente seria desmentido, retirou o tema? No pano de fundo, está o próprio conceito de "sinodalidade": é de admirar, de fato, que de uma Assembleia eclesial em curso de trabalho, seja subitamente retirado um tema que interessou milhares de grupos em todos os continentes, bem como os/as sinodais há oito meses. Quanto ao mérito - “Jesus previa mulheres em todos os ministérios da sua comunidade?” - é um interrogativo que aqui não podemos abordar adequadamente; mas o “sim” seria apoiado por robustos argumentos bíblicos e históricos. De qualquer forma, no futuro, talvez os “conservadores” se imponham, e para todo o sempre ressoará o “não” de Francisco.
Mas… quem sabe, talvez já no século XXI, um bispo de Roma, confortado na sua escolha por um grande Concílio de “padres” e “madres”, reconhecerá que as mulheres também podem atuar todos (todos!) os ministérios eclesiais. Seria a confirmação de um antigo e consolador ditado curial: "Papa bolla e papa sbolla" (Papa chancela e papa deschancela). Há esperança, portanto.
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Imagem: Praising © Mary Southard www.ministryofthearts.org/ Used with permission | Arte: IHU
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Não do papa às mulheres diáconas. Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU