14 Novembro 2024
"No site oficial do sínodo, breves vídeos ilustram as perspectivas de trabalho por meio das palavras do coordenador e mostram os nomes e rostos dos membros do grupo. Somente no caso do grupo 5 não há um conjunto de especialistas, homens e mulheres, prelados e teólogos, mas fotos sem indicações de qualificação, expressões do Dicastério para a Doutrina da Fé", escreve a teóloga italiana Emanuela Buccioni, consagrada do Ordo Virginum da Diocese de Terni, na Itália, doutora em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, em Roma, e professora do Instituto Superior de Ciências Religiosas de Arezzo, em artigo publicado por Rocca, nº 22, 14-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto em muitas realidades diocesanas já se projeta entrar de cabeça nas celebrações do Jubileu, alguns continuam com admirável perseverança a acompanhar os desenvolvimentos do sínodo.
A sessão de outubro, como sabemos, devia analisar dez temáticas de particular importância para o presente e o futuro da Igreja que haviam surgido do processo de escuta anterior. Cada temática devia ser aprofundada e discutida por um grupo de estudo específico. No entanto, consideráveis polêmicas acompanharam o misterioso Grupo de Estudo 5 sobre “Algumas questões teológicas e canônicas referentes a específicas formas ministeriais”.
No site oficial do sínodo, breves vídeos ilustram as perspectivas de trabalho por meio das palavras do coordenador e mostram os nomes e rostos dos membros do grupo. Somente no caso do grupo 5 não há um conjunto de especialistas, homens e mulheres, prelados e teólogos, mas fotos sem indicações de qualificação, expressões do Dicastério para a Doutrina da Fé. Não discussões abertas, mas um documento que estaria sendo preparado após o enésimo convite para enviar observações e propostas. Houve uma passagem em que os vários delegados tiveram a possibilidade de se encontrar e fazer perguntas aos membros dos vários grupos de estudo: no caso do grupo em questão, mais de cem delegados - religiosos e leigos, presbíteros, bispos e cardeais – se viram diante de duas pessoas da congregação que não responderam às perguntas feitas, nem mesmo sobre a composição do grupo. A assembleia, sem distinção de papéis, percebeu com indignação aquela que pareceu ser uma falta de correção.
O tema a ser abordado incluía a antiga questão da possibilidade de ordenação diaconal para as mulheres, mas as posições expressas até agora falam de “tempos não maduros”; do diaconato para os homens não ser significativo; dos ministérios do acolitato ou catequista para as mulheres, agora possíveis, mas não muito aplicados; de reflexão contínua sobre o papel das mulheres na Igreja, sem tocar a questão da ordem.
Causa perplexidade o recente pedido vindo do Prefeito Fernandez para que, a fim de alimentar a reflexão, se enviem “testemunhos de mulheres que estão realmente na liderança de comunidades ou que desempenham papéis importantes de autoridade. Não porque tenham sido impostas às comunidades, ou como resultado de um estudo, mas porque adquiriram essa autoridade sob o impulso do Espírito diante de uma necessidade do povo”. Por um lado, nos perguntamos por que, no caso das mulheres, o que seria um mandato episcopal com a atribuição de um ministério estável seria uma realidade “imposta à comunidade”, diferente do envio de um presbítero ou diácono. Por outro lado, parece-nos que, quando chegarem os testemunhos sobre mulheres que realmente respondem com autoridade pelo “impulso do Espírito” a uma necessidade do povo, será possível dizer que, uma vez que elas conseguem fazê-lo sem o diaconato, isso é a prova de que se pode continuar assim.
O encontro de 24 de outubro com o Prefeito Fernández, que deveria compensar aquele perdido, proporcionou uma oportunidade de comunicar que nomes e métodos eram distintos dos outros casos, porque a questão era anterior ao próprio Sínodo e os consultores muitos mais.
Entre as perguntas postas pelos delegados, destacar-se aquelas de quem indagou quais são sinais de amadurecimento que ainda estão sendo procurados; por que não se envolve oficialmente especialistas no tema indicados pelas faculdades de teologia, em vez de proceder de maneira um tanto arbitrária; por que se continua a buscar testemunhos de práxis de serviço eclesial de autoridade das mulheres, quando há uma grande quantidade de estudos e aprofundamentos publicados há décadas sobre essas temáticas.
É difícil não ter a impressão de que a referência às dezenas de consultores, entre os quais algumas teólogas importantes, sirva estrategicamente a ganhar tempo e evitar o gargalo imposto pelo progresso dos trabalhos sinodais. A postergação aos trabalhos da comissão sobre o diaconato é francamente desanimadora: oito anos se passaram entre a primeira e a segunda comissão, não se sabe nada sobre os trabalhos da primeira e os trabalhos da segunda parecem nunca ter começado, até mesmo porque nem todos os membros são especialistas em questões ministeriais.
A análise das Escrituras nos lembra que, nas passagens-chave em que a identidade do povo de Israel ou da Igreja é formada e desenvolvida, a passagem da convocação é essencial.
A identidade do povo é definida precisamente por meio da celebração da aliança após a experiência de caminhar no deserto. As assembleias convocadas para tal celebração são relatadas em Dt 29,1-14 com Moisés nas estepes de Moabe e em Js 24,1-28 com Josué em Siquem, além do Jordão: nessas duas situações em que a aliança é celebrada, nota-se como há uma convocação do povo em sua totalidade, mas também em sua articulação, incluindo categorias bastante invisíveis, como crianças, mulheres e estrangeiros. Com todos, Deus propõe fazer uma aliança, também com aqueles que não estão presentes naquele momento (cf. Dt 29,14), mas não basta dizer “todos”, os componentes devem ser tornados visíveis. A convocação sinodal parecia ir nessa direção. Por outro lado, as passagens sinodais são em vista de decisões, e as decisões são tomadas sobre pontos específicos e não podem se referir a questões com limites incertos, caso contrário, corre-se o risco de cair em exortações genéricas e ineficazes.
No relato de Js 24 se especifica que a aliança é “servir ao Senhor”. Da parte de Josué, há um pedido insistente para que as tribos reflitam cuidadosamente sobre suas intenções. A consciência da escolha é relevante: da escolha de quem se quer servir deriva a identidade do povo. Josué parece pedir para avaliar bem as consequências de suas escolhas a fim de construir o que hoje podemos chamar como elaboração de um “consenso compartilhado”. Algo semelhante acontece em relação à circuncisão e à eventual imposição da Torá aos pagãos que se abriram para a fé cristã (cf. Atos 15). É feita uma convocação e nota-se que já existe uma práxis que cria tensões e pergunta-se como proceder. Discute-se sobre o que causou o conflito e são elaboradas cláusulas de transição. O conflito como “lugar teológico” não pode, entretanto, colocar no mesmo plano quem é representado por sujeitos que têm como argumento: “elas não têm a estabilidade emocional para poder enfrentar o ministério”.
Se a prioridade é a evangelização e a promoção de um encontro libertador com o Senhor Jesus, continuar indefinidamente a despender energias vitais não parece sábio.
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Os “segredos” do sínodo e as decisões elusivas. Artigo de Emanuela Buccioni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU