16 Janeiro 2024
"O caminho aqui traçado pode abrir espaço para o desenvolvimento de uma nova vocação universal para o ministério ordenado que não faça da diferença de sexo o pivô da eclesiologia", escreve o teólogo italiano Andrea Grillo, professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em Roma, em artigo publicado por Come Se Non, 12-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Num texto recém-publicado, um colega teólogo escreve, a propósito do tema da ordenação feminina, que “o magistério recente é claro e deve ser aceito”. Acredito, como ele, que o magistério deveria ser bem-vindo, mas me parece que isso não é nada claro. Esta disparidade de julgamento parece decisiva para alimentar um debate saudável e frutífero. Na admissão comum da assunção da posição magisterial, creio que se deve sublinhar que a sua recepção poderia ter sido plena e convincente se se baseasse em dados factuais e princípios de autoridade verdadeiramente claros. Mas é precisamente nestes dois pontos-chave que, 30 anos depois das posições mais claras (1994) e quase 50 anos depois das mais explícitas (1976), ainda permanecemos envergonhados, teológica e pastoralmente.
De onde vem o constrangimento? Pelo menos de três pontos da questão:
a) A Pacem in terris foi esquecida, embora tenha estado na origem da reflexão de há 50 anos. Os sinais dos tempos são frequentemente chamados de perigos.
b) Alguns fatos foram tornados absolutos, de forma drástica, tanto no nível histórico como no nível eclesial, com procedimentos argumentativos mal controlados.
c) A teologia da autoridade não teve autoridade suficiente para resistir à pressão das evidências durante mais de algumas décadas. E, portanto, alimenta uma teologia de “cabeça vazia” (Tomás de Aquino).
Seria mais simples recorrer às formas clássicas de raciocínio teológico: em particular a “identificação dos impedimentos” à ordenação, para investigar até que ponto podem ser novamente propostos ou se devem cair.
Este volume tem a intenção explícita de intervir no debate eclesial e sinodal sobre o tema do acesso das mulheres ao ministério ordenado e de abordar sistematicamente a tradição teológica sobre o sexo feminino como um impedimento à ordenação. São três questões fundamentais que são objeto de tantos capítulos: o aparecimento da questão da ordenação de mulheres após o Concílio Vaticano II e a solução adoptada a partir de 1976 com a Declaração Inter insigniores sobre a questão da admissão das mulheres ao sacerdócio ministerial; a questão da ordenação diaconal das mulheres discutida no recente Sínodo (2023-2024); o trabalho teológico necessário para aprofundar os curtos-circuitos magisteriais em relação às motivações da “reserva masculina” relativa ao ministério ordenado. O caminho aqui traçado pode abrir espaço para o desenvolvimento de uma nova vocação universal para o ministério ordenado que não faça da diferença de sexo o pivô da eclesiologia.
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Quando não está claro o magistério a ser acolhido: mulheres e ministério - Instituto Humanitas Unisinos - IHU