16 Outubro 2024
"A questão do diaconato feminino no âmbito católico continua sem solução", escreve Giovanni Maria Vian, historiador e ex-diretor do L'Osservatore Romano, em artigo publicado por Domani, 13-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Está sendo realizado no Vaticano o chamado Sínodo sobre a Sinodalidade, que terminará em 27 de outubro. A reunião - fragmentada em pequenos grupos - teve sua primeira fase no ano passado e foi preparada por sete assembleias continentais, que, por sua vez, puxaram os fios de uma miríade de encontros que começaram em 2021 nas paróquias e dioceses. Trata-se, portanto, de uma grande consulta que, de fato, se estenderá até o próximo ano, quando se tentará fazer um balanço.
O “Sínodo dos Bispos”, órgão consultivo episcopal criado por Paulo VI em 1965, pouco antes da conclusão do Concílio, foi progressivamente diluído e ampliado - para padres e leigos (incluindo mulheres, portanto) - despertando perplexidades e críticas, particularmente entre os católicos de rito oriental. Para eles e para os ortodoxos, de fato, os sínodos são verdadeiros instrumentos de governança compartilhada, embora com diferentes variáveis.
A essas fundamentadas críticas sobre o método, que de fato enfraquece a colegialidade episcopal introduzida pelo Concílio Vaticano II, se somam outras sobre o mérito. Dos trabalhos destes últimos dias, de fato, vazam fortes maus humores sobre a questão - cada vez mais reconhecida como crucial, especialmente na base - do papel da mulher na igreja. Isso foi mencionado na última edição do semanário espanhol Vida Nueva por seu editor José Beltrán, porque os participantes do sínodo consideram que se tenha “congelado todo caminho de reflexão sobre o diaconato feminino neste pontificado”. Depois de ter indicado duas comissões sucessivas para estudar o assunto, o papa surpreendentemente encerrou essa possibilidade em 24 de abril em uma entrevista à rede estadunidense CBS. Dessa forma, o pontífice não dá seguimento às consultas que ele mesmo promoveu, disse ao Times Lucetta Scaraffia, que ao atraso agora insustentável sobre a questão feminina na igreja já havia dedicado em 2016 um livro muito lido - Dall'ultimo banco (Marsilio, traduzido para o francês, espanhol e holandês) -, também fruto de sua participação no sínodo sobre a família realizado no ano anterior. O primeiro vestígio
Apesar disso, a presença de diáconas nas comunidades cristãs, embora muito debatida, remonta às origens.
A primeira menção está, de fato, em um dos textos mais importantes de toda a história do cristianismo, a carta aos romanos, escrita por Paulo no ano 57, antes de sua chegada à capital do império. Nas saudações finais, o apóstolo de fato apresenta e recomenda “Febe, nossa irmã, que também é diácona da igreja que está em Cencreia”, o porto de Corinto. “Recebam-na em nome do Senhor como deve fazer o povo de Deus. Deem a ela toda a ajuda que precisar”, continua Paulo, pois “ela tem ajudado muita gente e a mim também. Febe, uma cristã abastada, talvez de origem pagã, é, portanto, quem levou a carta a Roma, onde mais tarde aparecem os nomes de várias mulheres: Priscila, Maria, Júnia, Trifena, Trifosa, Pérside, Pátrobas, Júlia, desmentido a crença comum que faria do apóstolo um misógino.
Muito se discutiu sobre esse primeiro diaconato feminino, minimizado ou, ao contrário, enfatizado.
Significativo, de qualquer forma, é o comentário mais antigo à carta de Paulo, obra de um dos maiores biblistas de todos os tempos, Orígenes, que o compôs por volta de 243. “Essa passagem”, escreve o intelectual alexandrino no longo texto que chegou na íntegra na tradução latina de Rufino, concluída em 406, “ensina com a autoridade do apóstolo que as mulheres também são constituídas no serviço da igreja (in ministerio ecclesiae)”.
As diáconas também aparecem em outra carta paulina, a primeira endereçada a Timóteo, e em um documento de um pagão, o relatório sobre os cristãos escrito em 111 ou 112 para o imperador Trajano por Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, a região da Ásia Menor mais próxima ao Bósforo.
Foi ali – e, de qualquer forma, no Oriente - que o diaconato feminino se mantém, resistindo à marginalização progressiva registrada no restante das comunidades cristãs, especialmente ocidentais.
“Honrarão as diáconas como o Espírito Santo”, lê-se na Didascália dos apóstolos, escrita em meados do século III na Síria. Sua função - motivada por razões de prudência - parece, no entanto, distinta daquela dos diáconos homens: “Como há casas em que não se pode enviar o diácono para atender as mulheres por causa dos pagãos, vocês enviarão as diáconas”, prescreve o mesmo texto. Além de atender as mulheres, as diáconas deviam estar presentes nas reuniões de outras mulheres com bispos, padres e diáconos, e a práxis indica com clareza o risco de agressões por parte de homens.
Disposições muito diferentes são encontradas nos primeiros concílios ecumênicos, todos realizados no Oriente com a participação de representantes do papa de Roma. O Concílio de Nicéia, em 325, trata das diáconas - mas talvez em um contexto polêmico em relação a um grupo dissidente - e lembra “que elas, não tendo recebido nenhuma imposição das mãos, devem ser contadas sem dúvida entre os leigos”. O Concílio de Calcedônia, realizado em 451, no entanto, reflete uma situação muito modificada. Um cânone inteiro é, de fato, dedicado às diáconas, que não devem ser ordenadas - literalmente, em grego, “receber a imposição das mãos” (cheirotonéisthai) - antes dos quarenta anos de idade. Mas se uma mulher, “após ter recebido a imposição de mãos e ter exercido o ministério por algum tempo, ousasse contrair casamento, desprezando assim a graça de Deus, que seja excomungada juntamente com aquele que se uniu a ela”.
No Oriente, as diáconas ainda são ordenadas no século VIII, e o rito prevê a imposição das mãos, a entrega da veste diaconal e o cálice a ser levado ao altar. No Ocidente, por outro lado, as diáconas sofreram oposição, a ponto de, entre o final do século IV e meados do século VI, uma série de sínodos na Gália proibir sua ordenação, embora em outros lugares tenham sobrevivido até o século XI. Traços do rito mantido no Oriente podem ser reconhecidos na cerimônia de admissão em algumas ordens monásticas femininas medievais. Muitos séculos mais tarde, um renascimento das diáconas ocorreu surpreendentemente entre os protestantes alemães, em 1836 em Kaiserswerth e em 1854 em Neuendettelsau, mas também em 1842 em Saint-Loup, na Suíça, de onde se estende já em 1845 para os valdenses italianos, que as mantêm até 1992. Outras comunidades de diáconas surgem na esfera anglicana em 1861 e depois entre os metodistas estadunidenses em 1888.
As diáconas anglicanas e protestantes devem ser colocadas no contexto mais geral de uma redescoberta “catolicizante” das experiências comunitárias. Estudado agora por Gianparide Nappi (Il cammino della vita consacrata nelle Chiese luterane e riformate, Edizioni Biblioteca Francescana), esse tipo de novo monasticismo é minoritário - as comunidades envolvidas são, de qualquer forma, mais de duzentas e as diáconas dezenas de milhares - mas foi definido em 2007 por Dom Wolfgang Huber como “um tesouro na Igreja Evangélica” alemã e deve muito ao exemplo e à influência de um grande cristão contemporâneo: Dietrich Bonhoeffer.
A questão do diaconato feminino no âmbito católico continua sem solução. Em 2003, um longo documento da Comissão Teológica Internacional sobre o Diaconato - elaborado após dez anos de estudo - não aprofundava realmente a questão, à qual eram dedicadas apenas poucas páginas, mas pelo menos reconhecia com clareza o dado histórico: “Um ministério de diáconas realmente existiu e se desenvolveu de forma desigual em diferentes partes da igreja”. O medo, mais do que evidente e reiterado à CBS pelo Papa Francisco, é que o reconhecimento do diaconato feminino abra a porta do sacerdócio para as mulheres. E sobre o difícil nó, que nas últimas décadas não foi desatado nem pela Comissão Teológica Internacional nem pelas duas comissões que ele mesmo criou sobre a possibilidade de diáconas na Igreja Católica, Bergoglio com autoridade declarou: “Se for uma questão de diáconos com as ordens sagradas, não, mas as mulheres sempre tiveram, eu diria, a função de diáconas sem serem diáconos, não?”
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O nó não resolvido do diaconato feminino: eis aqueles que temem o sacerdócio para as mulheres. Artigo de Giovanni Maria Vian - Instituto Humanitas Unisinos - IHU