Bombas sobre Moscou: a Itália que ignora o Dr. Fantástico. Artigo de Raniero La Valle

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04 Agosto 2023

"Hoje o bombardeio de Moscou remove as últimas restrições a uma guerra controlada, põe em jogo a popularidade de Putin como capaz de defender seu país, excita os generais dissidentes, críticos da condução circunspecta da guerra, dá razão a Prigozhin, pode forçar a Rússia a uma reação desesperada e trazer a novidade de uma guerra civil mundial: distinta, mas não para melhor, da própria guerra nuclear", escreve Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 03-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Segundo ele, "hoje não há mais necessidade, para atacar duas torres no coração das capitais inimigas, de sacrificar terroristas que se apoderam de aviões e os sequestram: existem drones controlados remotamente, que não custam nem o estresse psicológico do destruir e do matar. Na guerra em curso, um evento desse tipo pode causar consequências imprevisíveis".

Eis o artigo.

Zelensky bombardeou Moscou, atacando dois prédios, aparentemente duas torres no centro da cidade. Ele disse que dessa forma a guerra está chegando à Rússia, sobre seus centros simbólicos e sobre as bases militares, e que esse "é um processo inevitável, natural e absolutamente correto".

Seu erro, devastador e absolutamente irracional, reside no fato de que o curso de uma guerra não é de forma alguma um processo natural. Há nela eventos que são imprevisíveis e muito menos inevitáveis e que são capazes de produzir consequências impensáveis. Pearl Harbor provocou a transformação da guerra europeia na Segunda Guerra Mundial. Hiroshima e Nagasaki provocaram a passagem da guerra convencional para a guerra atômica e fundaram as relações entre os Estados nas décadas seguintes sobre a ameaça nuclear e o equilíbrio do terror. O ataque às Torres Gêmeas em Nova York produziu a luta global contra o terrorismo e contra uma variedade de "estados párias" e a passagem da estratégia militar estadunidense do conceito de defesa e resposta a uma agressão ao conceito de prevenção e ofensiva como a melhor defesa. E essa "doutrina" foi depois consagrada em todas as sucessivas "estratégias de segurança nacional dos Estados Unidos" e na ideia de que tal segurança está na dominação do mundo. 

Hoje não há mais necessidade, para atacar duas torres no coração das capitais inimigas, de sacrificar terroristas que se apoderam de aviões e os sequestram: existem drones controlados remotamente, que não custam nem o estresse psicológico do destruir e do matar.

Na guerra em curso, um evento desse tipo pode causar consequências imprevisíveis.

Pensávamos que Dr. Fantástico fosse apenas um filme; não é assim. Putin errou seus cálculos, ele queria fazer uma “operação militar especial” e não uma guerra, mas o país atacou e toda a linha adversária, que se tornou cada vez mais forte, preferiu a guerra e a quer até a vitória. Hoje o bombardeio de Moscou remove as últimas restrições a uma guerra controlada, põe em jogo a popularidade de Putin como capaz de defender seu país, excita os generais dissidentes, críticos da condução circunspecta da guerra, dá razão a Prigozhin, pode forçar a Rússia a uma reação desesperada e trazer a novidade de uma guerra civil mundial: distinta, mas não para melhor, da própria guerra nuclear.

Nós, como todos os aliados menores da Ucrânia, não temos nenhum controle sobre esse processo, mas estamos explicitamente envolvidos nele. Como as armas que enviamos de presente para a Ucrânia são classificadas, pode-se até pensar ou poderiam nos dizer que fomos nós que fornecemos os drones que bombardearam Moscou. E a tudo isso a opinião pública baixa a cabeça, o Parlamento cala-se e o governo consente.

Resta o Presidente da República: a guerra depende dele. Poderia dizer a Giorgia Meloni, e talvez ao Parlamento, que a política externa da Itália não é feita apenas de intimidade com os Estados Unidos, mas também das relações com a Rússia, China, Palestina, Tunísia; que aqui existe uma inversão da política externa italiana; e que isso não deveria ser decidido apenas pelo governo ou mesmo, dado que o ministro das Relações Exteriores não parece se importar muito, apenas pela primeira-ministra.

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