Tensão elevada no Oriente Médio. Destaques da semana

Destaques da semana de 27 de julho a 02 de agosto

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

03 Agosto 2024

Ao chegar aos 300 dias de conflito, a guerra em Gaza mudou de patamar e caminha em direção ao conflito generalizado no Oriente Médio, após o assassinato dos líderes do Hezbollah e Hamas por Israel. Nas últimas horas os EUA anunciaram o envio de navios de guerra para a região. Seguimos falando sobre o recrudescimento da violência contra os indígenas, a crise climática e o uso da Inteligência Artificial - IA como arma de guerra. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana do IHU.

Confira os destaques na versão em áudio.

Massacre de Golã

Um erro de cálculo, segundo o Hezbollah, matou 12 crianças drusas que jogavam futebol nas Colinas de Golã, área que pertencia à Síria e que foi conquistada por Israel durante a Guerra dos Seis Dias. Faltaram até palavras para os analistas que descreverem o massacre. Israel prometeu retaliação e na terça-feira (30-07), as forças israelenses afirmaram que haviam assassinado um dos principais líderes do Hezbollah, Fouad Shukur, em Beirute, capital do Líbano. Começava aí a evolução do conflito do Oriente Médio para um novo patamar.

Bomba-relógio

Na quarta-feira, o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, elevou ainda mais a tensão no Oriente Médio. Ao matar o “negociador do cessar-fogo”, Israel demonstrou seu desprezo pela paz e provocou, mais uma vez, o Irã. O crime, ocorrido em Teerã, fez até o presidente turco Recep Tayyip Erdogan ligar para o papa Francisco e soar o alerta: “O assassinato de Haniyeh é uma ameaça à humanidade”. Erdogan conclamou o papa a juntos criarem uma aliança humanitária. Analistas já preveem uma “guerra sem limites” no que está sendo considerado o “momento mais perigoso” em 10 meses de guerra. Não sabemos no que vai resultar a escalada dos conflitos pelo Oriente Médio, mas as luzes já se acenderam para o retorno dos movimentos radicais.

 

IA: fábrica de assassinatos em massa

O uso indiscriminado da IA na guerra em Gaza tem, mais uma vez, levantando questionamentos éticos. O jornalista Javier Bornstein explicou como a tecnologia está dizimando os palestinos.

“A IA Habsora (esta palavra significa "evangelho") é capaz de identificar edifícios que abrigariam membros e operativos militares do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina. Em paralelo, a IA Lavender faz um trabalho semelhante focado nos indivíduos, buscando identificar membros de ambas as organizações. O sistema é completado por uma terceira IA denominada Where’s Daddy?, que permite realizar o rastreamento dos alvos humanos uma vez localizados, priorizando o bombardeio desses em suas residências. A designação de alvos militares é acompanhada em todo momento pela estimativa de vítimas civis colaterais do ataque, estabelecendo-se um intervalo aceitável que vai desde 15 para um soldado raso do Hamas até 300 para um alto cargo. O resultado desse sofisticado sistema é que nas primeiras semanas de guerra, Israel foi capaz de gerar mais de 37.000 alvos militares, em comparação aos 50 anuais que os serviços de inteligência eram capazes de gerar anteriormente. Alvos militares diretamente vinculados aos ataques israelenses e que contribuem para explicar as esmagadoras 15 mil vítimas mortais que ocorreram nas primeiras seis semanas do conflito”.

Genocídio

Sim, há muito estamos denunciando que a Guerra em Gaza se trata de um genocídio articulado por Israel, que “lançou quase 75.000 bombas e projéteis em Gaza em 200 dias, 20 vezes mais do que os EUA lançaram no Iraque em seis anos de guerra”. Um conflito que tem mostrado que, aos soldados israelenses, a vida não tem valor. A destruição de mais de 600 locais que faziam atendimento de saúde, e o bloqueio da ajuda humanitária, Israel levou a doença para quase toda a população que sobreviveu às bombas. São doenças como poliomielite, icterícia, hepatite, diarreia e sarna, além, claro, da fome. Além disso, as prisões continuam funcionando como centros de tortura, os colonos seguem com ataques violento na ocupação dos territórios palestinos, enquanto o primeiro-ministro israelense é recebido com pompa e honrarias nos Estados Unidos. Será possível a paz vencer a guerra

Mais mortes

Um vídeo essa semana marcou a morte de mais dois jornalistas no cerco à Palestina. Ao todo, 164 profissionais da imprensa foram assassinados por Israel. O jornalista @AnasAlSharif0 fez o relato ao vivo do assassinato de seus colegas Ismail Al-Ghoul e Rami al-Rifi. “Não tenho vergonha de ficar na frente da câmera e dizer que estou com fome. Muitas crianças me pedem algo para comer sem saber que, como elas, fico acordado à noite com fome”. (Ismail Al-Ghoul, o mais recente dos 164 jornalistas mortos por Israel em 299 dias de guerra em Gaza)

 

 (Ate: Lauren Palma | IHU)

Extermínio dos povos originários

O genocídio dos povos indígenas no Brasil segue com o cerco do agronegócio às retomadas e à Constituição. Lula esteve em Corumbá/MS essa semana e não se encontrou com os indígenas Guarani Kaiowá, que viajaram à capital federal para conversar com o presidente. O povo Guarani da retomada em Douradina está sitiado pelos fazendeiros e há um iminente massacre dos Guarani Kaiowá. Em carta, as lideranças do povo Guató do Pantanal foram contundentes: “ausência do Estado brasileiro visa exterminar física e culturalmente os povos originários”.

Violência explode

A lei inconstitucional do Marco Temporal fez explodir a violência contra os povos originários e está colocando em risco a vida dos indígenas. Há mais de dez dias os Avá Guarani sofrem ataques e intimidações na TI Tekoha Guassu Guavirá, em Terra Roxa e Guaíra, no Paraná. Em virada histórica do judiciário brasileiro, Paulo Gonet rompeu com a tradição de proteção aos indígenas ao não contestar a determinação do Ministro do STF Gilmar Mendes, que determinou a criação de uma Comissão Especial, em que a PGR foi designada apenas como observadora.

Cheque especial

Na semana que o planeta passou a viver no cheque especial, já que consumimos acima da capacidade de renovação de recursos, no resto do ano vamos usar o limite do cheque especial, tomando emprestado do futuro. Na semana do Dia da Sobrecarga da Terra, as notícias ambientais não são nada confortadoras.

Em um único dia conseguimos superar o total de queimadas de julho no Pantanal, com o registro do INPE de 179 focos ativos de calor no domingo (28/7). A Agência Nacional de Águas (ANA) declarou situação crítica de escassez de recursos hídricos nos rios Madeira e Purus, na Amazônia. Batemos recorde nas queimadas e nas secas das cidadesLula quer aumentar a exploração de combustíveis fósseis na Bolívia. Está tramitando no Senado o PL 4994/2023, que foi aprovado na Câmara em dezembro passado, e que pode atropelar a suspensão da licença-prévia do asfaltamento da BR-319. Um novo estudo revelou que mudança climática levou à diminuição da produção de pólen de plantas. O setor aéreo começou a declinar da descarbonização. Ufa!

Mas, a ciência não para. A descoberta do “oxigênio preto”, produzido no fundo do mar, é sinal de vida marinha e pode barrar a exploração de petróleo nas profundezas.

O Banquete dos Deuses

Deu o que falar a encenação, na abertura das Olimpíadas, do Banquete dos Deuses. Um jantar onde os deuses estão reunidos para um banquete celebrando o casamento de Tétis e Peleu, no Monte Olimpo. Os bispos morderam a isca da guerra cultural e cobraram explicações. Até o Conselho Mundial de Igrejas surfou na onda que Trump classificou como “desgraça” e outros como blasfêmia e zombaria. Uma manifestação multicultural da pós-modernidade que nos faz lembrar que o “cristianismo é, por excelência, uma mensagem dirigida a tod@s”.

O teólogo Umberto Rosario Del Giudice foi assertivo em sua análise: “a sensibilidade católica se sentiu "atingida" em três elementos: a Ceia, a mulher e o amor. A fé cristã terá que repensar exatamente nesses três elementos essenciais a sua abordagem crítica com a modernidade”. [...] Se a fé não for capaz de suportar o bom e o belo, também não será capaz de sustentar o verdadeiro, correndo o risco de se tornar um vilipêndio de si mesma; um tanto reacionária, um tanto iconoclasta, um tanto trash". Luca Casarini lembrou que não é a blasfêmia que ofende a Deus, mas as bombas.

Tráfico humano

A semana foi marcada pelo Dia Mundial de Enfretamento ao Tráfico Humano e pelo alerta das irmãs: as guerras em Gaza e na Ucrânia estão aumentando o tráfico de pessoas, em especial de crianças. Isabel do Rocio Kuss, irmã que coordena a Rede Um Grito Pela Vida conversou com o IHU essa semana e falou mais sobre a situação. As irmãs ao redor do mundo têm trabalhado na erradicação do problema.

Campanha das Irmãs Catequistas Franciscanas (Card cedido pela entrevistada)

Higienização social

Nada pode atrapalhar a vista das centenas de apartamentos de luxo de Balneário Camboriú, no litoral catarinense. A cidade, que tem o metro quadrado mais caro do país, promove uma “política higienista” segundo o Ministério Público de Santa Catarina – MPSC, com a internação compulsória de pessoas em situação de vulnerabilidade ou de rua pelo serviço de Abordagem Social. Quem se nega a entrar na “carrocinha humana” é agredido. "O direito ao uso da cidade é negado às pessoas em situação de rua, principalmente quando são expostas pelo poder público a ações de retiradas de pertences, ocasionando a perda de documentos, de medicamentos e de outros recursos, através das ações de equipes de 'limpeza e zeladoria' das prefeituras", destacou também o texto de Veridiana Farias Machado.

Impasse Venezuelano

A delicada situação da Venezuela está deixando todos apreensivos. A solução para o impasse entre a oposição e o governo Nicolás Maduro ainda está longe do horizonte. Pepe Mujica disse: não há informação credível. Temos diferentes análises publicadas para quem deseja aprofundar o assunto.

Em tempo

A descolonização foi tema de duas entrevistas, com diferentes perspectivas. A primeira, tratou da descolonização e a redução de desigualdades no mundo científico durante o XX Congresso Brasileiro de Primatologia. A segunda foi inspirada pelo dossiê publicado no British Medical Journal, que chamou a atenção para a presidência do Brasil no G20 e o “SUS que rompe formalmente com ideias e práticas da colonialidade”, com Deisy Ventura. Também aprofundamos a discussão sobre o freio da extrema direita nas eleições francesas com o professor Giuseppe Cocco, que morou na França no último ano. Antonio Risério falou sobre o livro que está lançando, Identitarismo (LVM/ R$ 60/ 280 págs.).

Festa de Santo Inácio

Em 31 de julho celebrou-se o dia de Santa Inácio de Loyola, "um santo de tempos novos". 

"Estes nossos tempos, novos e turbulentos, pedem de todos nós, críticos, inquietos e vigilantes, uma constante re-leitura dos novos “sinais” que surgem, a necessidade de viver em estado de atenção permanente, capacidade de re-analizar tudo o que vemos, e decidir a seu respeito no discernimento".

Desejamos uma boa semana a todas e todos!