02 Agosto 2024
Dados do INPE indicam que o total de focos de calor em todo o Brasil em julho superou 22,4 mil, o pior mês desde 2005.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 02-08-2024.
Julho foi marcado pelo fogo no Brasil, em uma dimensão que não se via há quase 20 anos. De acordo com o Programa BDQueimadas, operado pelo INPE, 22.478 focos de calor foram registrados no último mês, o pior índice para o período desde 2005, quando foram registrados mais de 30 mil focos. Os dados foram destacados pelo MetSul.
Na Amazônia, o cenário é preocupante. Foram observados 11.434 focos de calor em julho passado, muito acima do número registrado no mesmo mês em 2023 (5.772) e da média histórica (6.164). Esta é a 1ª vez desde 2005 que julho fechou com mais de 10 mil focos. Só o Amazonas concentrou mais de 37% desse total, com 4.241 focos, o novo recorde para julho no estado.
Já no Pantanal, a situação é parecida. Julho fechou com 1.218 focos registrados, muito acima da média histórica para o mês (441). Esse número só fica atrás daqueles observados em julho de 2005 (1.259) e de 2020 (1.684), este último na pior temporada de incêndios já vivida pelos pantaneiros. Desde o começo do ano, o total de focos no bioma supera 4.696, o pior índice para o período da série histórica, acima dos 4.218 registrados há quatro anos.
A escalada do fogo em todo o Brasil impulsionou a aprovação da nova Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, sancionada na última 4ª feira (31/7) pelo presidente Lula. A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) celebrou a notícia, destacando a importância de articular a resposta contra o fogo nas três instâncias do poder público.
“O enfrentamento tem na raiz uma combinação terrível de mudança do clima, desmatamento e incêndios. Essa química perversa faz com que a gente veja as cenas que vimos [nos últimos meses]. O fogo não é estadual, não é federal, não é municipal. É algo a ser combatido e manejado adequadamente”, afirmou Marina.
Mesmo assim, para especialistas, o enfrentamento ao fogo precisa de mais investimentos e planejamento para dar conta do desafio. “Locais com difícil acesso, como no Pantanal e na Amazônia, precisam que o Brasil invista em um esquadrão de combate ao fogo, inclusive com aviões de grande porte dando suporte a esse combate. Não adianta termos somente brigadistas em parte do ano”, avaliou Rômulo Batista, do Greenpeace Brasil, ao Projeto Colabora.
CNN Brasil e O Globo também abordaram o panorama do fogo na Amazônia e no Pantanal no mês de julho.
A escalada do calor no Brasil e no mundo surpreende um dos climatologistas mais reconhecidos do país. Em entrevista ao jornal O Globo, Carlos Nobre reconheceu que as altas temperaturas médias registradas nas últimas semanas ao redor do mundo não têm uma explicação clara, já que não temos mais um El Niño “aprontando” no clima global como no ano passado.
“A tendência de aumento não tem explicação conhecida e não sabemos quando e se vai parar. A emissão de gases de efeito estufa não aumentou tanto [em 2023] em relação a 2022 (1%), nada que justifique tamanha elevação. (…) O ano de 2024 muito provavelmente baterá 2023”, disse Nobre.
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Brasil incendiado: país viveu o pior julho em registros de incêndio em quase duas décadas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU