04 Julho 2024
Estudo do WWF-Brasil indica que a área alagada na última temporada de chuvas foi menor do que a registrada no ano passado, com tendência negativa.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 04-07-2024.
Mais um alerta sobre a gravidade da situação no Pantanal. Uma análise divulgada nesta 4ª feira (3/7) pelo WWF-Brasil revelou que a última temporada de chuvas no bioma foi mais seca que a do ano passado. Isso resultou em uma perda de cerca de 40 mil hectares de área coberta por água na comparação entre os últimos períodos chuvosos e de seca.
Segundo a nota técnica elaborada pela ArcPlan, entre janeiro e abril de 2024, a média de área coberta por água foi de apenas 400 mil hectares, abaixo da média de 440 mil ha registrada na estação seca de 2023. Outro reflexo é o nível do rio Paraguai: neste ano, ele não passou de 1 metro de profundidade, 68% a menos do que o esperado para esse momento do ano e muito abaixo dos 4 metros que servem como indicativo para a ocorrência de seca.
O estudo utilizou dados do satélite Planet para o período a partir de 2021 e do MapBiomas, que possui menor resolução, mas cuja série histórica remonta a 1985, além de leituras do nível do rio Paraguai em Ladário (MS), local de referência de medições. As conclusões apontam para um Pantanal cada vez mais seco, prejudicado pela sucessão recente de temporadas chuvosas abaixo da média para esse período.
“A área alagada nas cheias é cada vez menor. Então temos mais áreas ficando secas, com as áreas alagadas ficando úmidas por menos tempo. Tudo isso gera instabilidades no ecossistema”, explicou Mariana Dias, geógrafa de geoprocessamento na ArcPlan e uma das autoras do estudo. “A partir de 2019, o bioma começa a ter o período mais seco que já observamos desde 1985.”
O Pantanal pode estar atravessando um ciclo natural de secas mais prolongadas, mas os fatores climáticos não são os únicos a influenciar a situação. A degradação ambiental no Cerrado também tem seu papel.
“As principais nascentes da bacia do Alto Rio Paraguai, que abastecem a planície pantaneira, estão situadas na área mais alta, no Cerrado”, observou Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil. “As cabeceiras foram muito desmatadas e temos riscos de barramento dos rios. Esses eventos diminuem a capacidade do Pantanal de ter seus pulsos de inundação de forma natural.”
O impacto do desmatamento do Cerrado também foi destacado pelo Estadão. Em 1985, primeiro ano da série, as nascentes dos rios pantaneiros tinham mais de 60% de vegetação nativa remanescente. Hoje, esse índice está abaixo dos 40%.
“A vegetação tem papel fundamental porque ela age basicamente como bomba d’água para fazer as evaporações, ajuda a fixar a água no solo e a alimentar lençóis freáticos. Uma área que foi desmatada não vai cumprir essa função no ciclo da água”, explicou Daniel Silva, do WWF-Brasil.
Agência Brasil, g1, Metrópoles, TV Cultura, Um Só Planeta e UOL, entre outros, repercutiram a análise.
Corumbá (MS) concentra dois terços dos focos de fogo registrados no Pantanal neste ano, de acordo com dados do INPE: até o final de junho, foram 2.356 pontos identificados. Correio Braziliense e Um Só Planeta deram mais detalhes. Já o UOL publicou imagens de satélite que mostram colunas de fumaça se erguendo na região de Corumbá.
O Senado aprovou o Projeto de Lei 1.818/2022, que institui a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. O objetivo é reduzir os danos dos incêndios florestais no país promovendo o manejo integrado do fogo. O texto vai à sanção, informa a Agência Senado.
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Pantanal em chamas: bioma caminha para nova crise hídrica histórica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU