31 Julho 2024
"Faz sentido para os inimigos de Israel matar com um foguete os garotos desse povo culpados apenas de querer jogar futebol? O único sentido seria: eu posso atingir seu território. Quem vive lá não me interessa absolutamente nada", escreve Alberto Leiss, jornalista italiano, em artigo publicado por Il Manifesto, 30-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eu sabia pouco ou nada, confesso, sobre a população drusa que vive nos territórios de Golã. Ocupados pelos israelenses em 1967 e anexados ao seu estado em 1981. Uma decisão nunca aceita pelas Nações Unidas (mas, no final, foi aceita pelos EUA). Nos noticiários jornalísticos leio sobre sua intensa dor em torno dos caixões dos meninos mortos por um míssil supostamente lançado pelo Hezbollah de suas bases no vizinho Líbano.
É descrito o rigoroso fechamento com o qual celebram seu rito fúnebre. Não receberam bem os representantes do governo central israelense. São muçulmanos, mas bastante heréticos. Eles se consideram sírios, mas, considerando tudo, não viveriam tão mal naquele território (muitos outros residentes foram expulsos pelos israelenses), se não houvesse o risco constante e o efeito concreto da interminável guerra entre Israel, palestinos e outros sujeitos do mundo árabe. Por causa de seu status nacional incerto, não prestam serviço militar. E quando não caem foguetes, a beleza do lugar permite até mesmo boas atividades turísticas.
Faz sentido para os inimigos de Israel matar com um foguete os garotos desse povo culpados apenas de querer jogar futebol? O único sentido seria: eu posso atingir seu território. Quem vive lá não me interessa absolutamente nada.
Netanyahu voltou rapidamente e repetiu que sua resposta "será dura". Na realidade, vários ataques já foram realizados. Mas evidentemente não bastam. Como Chomsky disse há muitos anos, as vítimas não são todas iguais. As dezenas, centenas, milhares de crianças palestinas massacradas em escolas, hospitais, campos de refugiados, pelas bombas de Israel, evidentemente não valem tanto quanto os infelizes jovens drusos. Apenas porque foram mortos em solo israelense.
No La Stampa de ontem foi entrevistado um escritor e acadêmico israelense, Neve Gordon, professor em Londres, que também considera a ação atribuída ao Hezbollah "surreal e horrível". No entanto, ele diz algo que deveria ser evidente por si só: "Há uma forte ligação entre o que está acontecendo em Gaza e o que está acontecendo no Líbano: um fim das hostilidades na fronteira norte com Israel dependeria, sem dúvida, do que está acontecendo na Faixa".
Segundo ele, os Estados Unidos de Biden não são suficientemente coerentes em pressionar Israel a concluir as negociações de cessar-fogo e obter a libertação dos reféns ainda vivos. Sua avaliação sobre Netanyahu também é clara: "...ele é o principal responsável pela continuação das violências e pelo fracasso na libertação dos reféns. Sua única prioridade é sua própria carreira política".
Quem sabe. Talvez seria menos grave se ele acreditasse sinceramente ter que agir como age em nome de um interesse maior de seu povo. Mas que, em vez disso, corre o risco de arrastar uma espécie de trágico e paradoxal abismo moral. Mas há muitos israelenses que discordam dele.
Massimo Cacciari, sempre no La Stampa, escreve uma longa e sombria reflexão sobre o estado das coisas.
As palavras da lei, da justiça e da filosofia, diz ele, citando antigas polêmicas teóricas e teoréticas, não valem nada agora contra a "vontade de poder". E também eu me sinto incapaz de pronunciar uma palavra dotada de algum sentido.
Viro mais algumas páginas e leio sobre os outros infelizes cidadãos que vivem nos arredores da cidade russa de Belgorod, perto da fronteira com a Ucrânia, alvo de drones enviados por Kiev em resposta aos ataques russos. Outra guerra tão cruel quanto insensata: supondo que exista alguma "razão", quero dizer, seja de um lado e do outro, o que restará se o massacre não parar?
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Hoje estou sem palavras. Artigo de Alberto Leiss - Instituto Humanitas Unisinos - IHU