O grito do Nobel Mukwege: “Sem defesas contra o coronavírus corre-se o risco de hecatombe”

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01 Abril 2020

O ginecologista premiado em Oslo em 2018, depois de fundar um hospital em Bukavu, no Congo oriental, para tratar mulheres estupradas por soldados e rebeldes: "Os africanos são obrigados a sair de casa para buscar comida. Nenhum confinamento é possível e a Covid-19 está se espalhando a uma velocidade recorde".

A reportagem é de Petro Del Re, publicada por La Repubblica, 30-03-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

É na África, a parte mais indefesa do planeta por suas economias deterioradas, seus sistemas de saúde em ruínas e suas doenças letais crônicas, como tuberculose, malária e Aids, que o coronavírus poderia fazer o maior número de vítimas.

"Temo o massacre porque não temos meios de combatê-lo e porque os africanos são obrigados a sair de casa para buscar comida. Portanto, nenhum confinamento é possível e a Covid-19 está se espalhando em velocidade recorde", explica por telefone. o ginecologista Denis Mukwege, Prêmio Nobel da Paz em 2018 por ter fundado um hospital em Bukavu, no Congo oriental, onde atende e trata mulheres estupradas por soldados e rebeldes que lutam há mais de vinte anos". Ao contrário de outros lugares, o coronavírus será mais agressivo contra as mulheres aqui, porque nos poucos hospitais disponíveis, as infectadas irão para lá sozinhas e ninguém cuidará delas".

As previsões

Ora, de acordo com Lancet, a próxima onda de infecções atingirá o Continente Negro, onde na maioria dos hospitais faltam ventiladores e até oxigênio. "Os sistemas de saúde mais frágeis em breve estarão sobrecarregados pela disseminação do vírus, que abrirá facilmente o caminho entre as camadas mais pobres da população, forçadas a viver em áreas urbanas superlotadas e pobres, muitas vezes sem serviços básicos, sem a possibilidade de isolamento, sem pagamento de salário por afastamento ou sistemas de assistência social", escreve a revista científica inglesa.

Os valores

De acordo com dados divulgados ontem pelo Centro de Controle de Doenças da União Africana, pelo menos 46 dos 54 países africanos foram atingidos pela pandemia, com um total de quase 5 mil casos de infecção e 150 mortes. Os países mais afetados são a África do Sul, com mais de 400 pacientes, a Argélia com 230, o Marrocos com 230, a Nigéria com 9, o Senegal com 80 e o Quênia com 50. Aqueles com o maior número de vítimas são todos os países do norte da África: o Egito com 40 mortes, a Argélia com 31 e o Marrocos com 26. Tanto que na Europa já existem aqueles que temem os possíveis desembarques de imigrantes "contaminados". Enquanto isso, devido à necessidade de conter a disseminação da Covid-19, mais de 450 detidos serão libertados em breve na Líbia.

As medidas

Nos últimos dez dias, além do toque de recolher, o fechamento de aeroportos internacionais e restaurantes, foram decretadas em muitas capitais a restrição de viagens e a parada para atividades não essenciais. Há três dias, também foi imposto um bloqueio em Lagos, que com seus 20 milhões de habitantes é a cidade mais populosa da Nigéria e de toda a África. Mas lá, como em outras metrópoles africanas, há o problema de suas populosas favelas, onde os serviços essenciais não são garantidos e onde a clausura é quase impossível de ser imposta e respeitada. Começando pelas crianças que, com as escolas fechadas, preferem ficar circulando o dia inteiro a ficar trancados nos barracos com os pais. Desde ontem, em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, os táxis não permitem o embarque de mais de três pessoas e as vans, mais de dez. Em Freetown, no entanto, a capital da Serra Leoa, onde o Ebola matou 11.323 pessoas entre 2014 e 2016, a Covid-19 não assusta muito.

As consequências

Na África, a pandemia deixará cicatrizes profundas. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento divulgado ontem demonstra como o golpe socioeconômico nos países pobres e em desenvolvimento levará anos para ser superado. A tal ponto que quase metade dos empregos poderia ser perdida em todo o continente.

 

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