Uma manifestação de jovens entoando cânticos entre as bandeiras da nova Síria em Raqqa — que naquele momento ainda não havia caído nas mãos do ISIS — é a última imagem do Padre Paolo dall'Oglio. Já se passaram 12 anos desde aquela noite, entre 28 e 29 de julho de 2013, quando o jesuíta romano desapareceu, tendo retornado à Síria em desafio ao regime de Assad, da qual havia sido expulso em junho de 2012.
A informação é de Luca Geronico, publicada por Avvenire, 29-07-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Poucas horas depois, segundo testemunhas, ele teria sido visto entrando na sede local do Daesh para tentar o que ele mesmo havia confessado ser uma "mediação difícil", talvez para libertar reféns ou para entregar uma mensagem dos curdos, segundo reconstruções não confirmadas. Depois veio o silêncio, quebrado apenas por rumores soltos de que seu corpo havia sido encontrado em alguma vala comum, mas nunca com provas ou testemunhos objetivos.
Paolo Dall’Oglio | Foto: Jesuítas Brasil
Se o Padre Paolo dall'Oglio, durante seus meses de sofrido exílio, dedicados a dar conferências sobre a "Primavera Síria" na Itália e na Europa, gostava de se autodenominar o "capelão da revolução" para derrubar o regime de Assad, agora a mudança de regime em Damasco ocorreu de fato com uma repentina e enigmática "cavalgada" de dez dias das milícias de Ahmed al-Sharaa, de Idlib a Damasco. E agora o pensamento do fundador do mosteiro de Mar Musa parece recuperar destaque e atualidade em uma Síria que, abalada pelas revoltas étnico-confessionais de drusas e alauítas e ataques às comunidades cristãs, tenta, em meio a tantas incertezas, iniciar um processo de reforma constitucional e de democratização.
“A mudança radical que a Síria vem experimentando desde 8 de dezembro de 2024", escrevem os monges e monjas de Deir Mar Musa, "nos permitem, pela primeira vez em muitos anos, organizar novamente encontros e seminários e falar publicamente sobre o Padre Paolo dall'Oglio em seu país de adoção."
Hoje, aniversário exato de seu desaparecimento, será o dia do "Jardim das Figueiras", pois é a única árvore, na devastação de 13 anos de guerra civil, capaz de sobreviver mesmo nas encostas mais áridas e inóspitas da província de Idlib. No Vale do Nebek, sob uma tenda, o Bispo sírio-católico de Homs, Jacques Mourad, monge de Deir Mar Musa, presidirá a Eucaristia, concelebrada com outros bispos na presença de representantes das comunidades muçulmanas. O Núncio Apostólico na Síria, Cardeal Mario Zenari, também estará presente, assim como representantes do atual governo de Damasco.
Após a comemoração, as árvores centenárias ao redor do mosteiro serão transformadas em um símbolo de resistência e um convite à memória. Em cada tronco será colocada uma foto com notas biográficas de alguns dos mais conhecidos "desaparecidos" nas violências ou nas prisões da Síria de Assad. Um caminho que "encarna o nosso desejo de paz" e pretende ser uma "trajetória simbólica onde cada um poderá depositar as suas feridas e encontrar força caminhando juntos", explicam os monges de Mar Musa.
A irmã Francesca Dall'Oglio, que, juntamente com toda a sua família, continua a pedir que "seja descoberta a verdade sobre o seu destino", enfatizou a atualidade do pensamento do Padre Paolo, recordando a sua última entrevista à Orient TV na noite anterior ao seu sequestro, quando disse: "Trabalhar para uma Constituição partilhada e pluralista. Um país federal. Todas as particularidades geográficas devem ser respeitadas. O federalismo existe. Encontremos as razões que nos unem e comprometamo-nos a ficar juntos." E concluiu: "As suas palavras são ainda mais atuais hoje do que ontem." Paolo Dall'Oglio, 12 anos depois, como profeta do diálogo e da inclusão para a nova Síria em construção.