13 Março 2025
"Naquelas palavras ditas por Francisco na noite de sua eleição, 13 de março de 2013, já estava todo o seu programa que ele então executou durante seu pontificado", escreve Stefania Falasca, jornalista, em artigo publicado por Avvenire, 13-03-2025.
Em 13 de março de 2013, Bergoglio se tornou Papa. Suas primeiras palavras foram proféticas. A estrada principal? Da colegialidade e pobreza da Igreja à missão e ao diálogo. Os textos e passagens para lembrar
São Vicente de Lérins faz uma comparação entre o desenvolvimento biológico do homem, entre o homem que cresce e a Tradição que, ao transmitir o depositum fidei de uma época para outra, cresce e se consolida com o passar do tempo. Era 13 de maio de 2007 em Aparecida, Brasil, onde havíamos chegado no voo papal de Bento XVI no dia da inauguração da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano. Sob os pórticos do grande santuário mariano, conheci o Cardeal Bergoglio, então Arcebispo de Buenos Aires, que eu havia conhecido cinco anos antes em Roma, quando ele veio como hóspede de nossa família. Perguntei-lhe sobre seu encontro com o Papa e as perspectivas desse encontro. Ele me fez essa referência a São Vicente de Lérins, à exortação de Paulo VI, Evangelii nuntiandi, e que falaríamos sobre isso novamente quando ele viesse a Roma.
Ele veio, como prometido, em outubro daquele ano para o Consistório, mas não pôde comparecer devido a uma dolorosa ciática. E o que ele me contou virou uma entrevista para a revista mensal internacional 30Giorni, a única que ele deu em todos esses anos sobre a visão da Igreja. Ele me falou sobre abertura ao trabalho missionário, coragem apostólica, misericórdia, o perigo da autorreferencialidade e da mundanidade espiritual na Igreja. Em essência, os pilares do seu ensinamento, que ele então transmitiu na sua exortação programática do pontificado Evangelii gaudium. As mesmas prioridades que ele também havia assumido nas Congregações Gerais do pré-Conclave que o levaram ao Trono de Pedro, e que ele já havia dito aos cardeais do pré-Conclave de 2005, em uma pequena página da qual tenho uma cópia.
Ainda me lembro quando, como paradigma da missão, ele me falou do profeta Jonas. Uma lembrança que ressurgiu mais tarde, em 7 de março de 2021, na Planície de Nínive, no Iraque, terra de Abraão e do profeta Jonas, quando, após sua viagem apostólica, vi o Papa Francisco entrar na Catedral de Al-Tahira crivada de balas, cercado pela multidão acenando palmas e cantando em aramaico, a língua materna do cristianismo siríaco, a falada por Jesus. "Sua Santidade, nós o acolhemos hoje como os ninivitas acolheram 'Jonas, o pregador da verdade', de acordo com nossa tradição siríaca", disse-lhe o Patriarca Católico Siríaco no meio da multidão de fiéis e apresentando a comunidade cristã de Qaraqosh, onde o cristianismo remonta ao tempo dos Apóstolos.
Naquela etapa, que parecia nascer de uma visão, à beira de um tempo trágico marcado pela pandemia, numa viagem emblemática e profética no centro do Oriente Médio, berço da humanidade e das crenças, devastado pelas guerras, Francisco havia assim se levado também aos lugares emblemáticos da abertura à missão. E voltando às origens da obra de Deus, daquela fonte de fé e de fraternidade, da terra do nosso pai Abraão, onde grassava a obra diabólica do ódio e da divisão, ele nos fez compreender mais uma vez não apenas "como superar os males e as sombras de um mundo fechado": ele também fez a Igreja progredir na espinha dorsal daqueles que são os grandes caminhos indicados pela Tradição na esteira do Concílio Vaticano II.
As do retorno às fontes do Evangelho, de um renovado espírito missionário, do diálogo ecumênico e inter-religioso em favor da busca da paz, da colegialidade e da pobreza na Igreja, que são o legado a ser seguido pelo Vaticano II e, ao mesmo tempo, são o selo da Tradição que caracterizaram estes doze anos de pontificado. Uma marca que Francisco já havia expressado programaticamente na própria noite de sua eleição, em sua primeira saudação, em sua primeira oração e em sua primeira bênção na sacada de São Pedro:
"Irmãos e irmãs, boa noite!
E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho de Igreja [...] seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela!
E agora quero dar a Bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim.
São declarações nas quais ele imediatamente expressou seu desejo de proximidade, como expressão da "íntima união da Igreja com toda a família humana", conforme descrito no preâmbulo da constituição pastoral Gaudium et spes, que está na origem do convite à proximidade e do chamado à "conversão pastoral" que Francisco dirigirá a toda a comunidade eclesial. E com o mesmo convite que dirigiu aos fiéis naquela noite de 13 de março para fazerem "um caminho juntos como bispos e povo", ele se referiu diretamente ao segundo capítulo da constituição dogmática Lumen gentium sobre a natureza da Igreja, onde se afirma, com suas palavras exatas, que "os bispos e o povo fazem um caminho juntos".
Daí também a sinodalidade, que significa precisamente “caminhar juntos”, método e estilo que pertencem à natureza apostólica constitutiva da Igreja, e que nestes doze anos foi reativado nos sínodos promovidos pelo Papa, começando pelo sobre a família. Como Bispo da Igreja de Roma, "que preside na caridade a todas as Igrejas", ele também retornou à fonte do seu ministério universal, ao qual está confiada a tarefa de buscar a unidade dos cristãos como Sucessor de Pedro, tanto que Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico de Constantinopla, ouvindo estas primeiras palavras pronunciadas a São Pedro pelo Papa Francisco imediatamente após sua eleição, pegou o primeiro avião e chegou a Roma para encontrá-lo. E foi o primeiro Patriarca de Constantinopla, sucessor do Apóstolo André, a participar da cerimônia de inauguração de um pontificado no Vaticano.
Francisco, de fato, estava repetindo as palavras exatas de um teólogo do primeiro século, um Pai da Igreja, então indiviso, e mais tarde venerado como santo pela Igreja Ortodoxa e também pela Igreja Católica: Santo Inácio de Antioquia, chamado o Iluminador. E com essas palavras, destacando que é Bispo de Roma – razão pela qual é Papa, fonte do seu ministério universal – afirmou e destacou não só a dimensão constitutiva da Igreja como sinodal, mas também a tarefa que lhe foi confiada como Sucessor de Pedro: a da unidade. E pela primeira vez, uma encíclica, Laudato si', sobre o cuidado da criação, pôde ser chamada ecumênica por causa da responsabilidade comum, fraterna, a mesma que Atenágoras, em janeiro de 1969, precisamente no Avvenire, expressou com um "nós" para "oferecer juntos direções de esperança ao mundo". Francisco concluiu finalmente “para que haja uma grande fraternidade”.
Com esta oração, o Papa já havia prefigurado, portanto, a busca da unidade do gênero humano e da paz, próprias do ministério petrino e que o levaram, através do diálogo – valor enraizado na ação de Deus em relação ao homem, como evidencia toda a história da Salvação – a construir pontes do Ocidente ao Oriente.
E também com outras religiões, até a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em 04-02-2019 em Abu Dhabi com o líder sunita al-Tayyeb, realizando viagens apostólicas da Terra Santa ao Egito, do Marrocos ao Iraque, do Cazaquistão ao Bahrein, do Sudão do Sul à Mongólia, até os países do Extremo Oriente, tudo assinado pela encíclica Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social, que, como a Laudato si', se colocou sob o patrocínio de Francisco de Assis e indica uma fraternidade que se estende não apenas aos seres humanos, mas a toda a criação.
Naquelas palavras ditas por Francisco na noite de sua eleição, 13 de março de 2013, já estava todo o seu programa que ele então executou durante seu pontificado. Palavras que amadureceram a partir da aceitação do Concílio Vaticano II em sua totalidade, como um recurso, um "retorno às fontes", incluindo a natureza da Igreja à luz da Lumen Gentium e sua missão na esteira da Tradição. Um incipit que também nos faz entender que não é o Papa que faz a Igreja, e que não é apropriado olhar para o Papa como uma figura separada do corpo da Igreja, que é Cristo. Somente Cristo com a ação do Espírito pode movê-la e fazê-la seguir em frente, como ele mesmo sublinhou na entrevista de 17-11-2017 que me deu para Avvenire, depois da viagem ecumênica à Suécia, onde reiterou (e o fez várias vezes): "Não sou eu. Este é o caminho que o Concílio tomou, que se intensificou... motus infine velocior, como diz Aristóteles. Este é o caminho da Igreja. Eu sigo a Igreja." É isso que permanece ao longo do tempo e do qual não há como voltar atrás.