20 Outubro 2023
“Deus não tem bandeiras aqui na terra, nem no céu, Deus é onisciente, onipotente e onipresente. Ele está em todas as culturas. “Deus não faz diferença entre as pessoas” (At 10, 28.34-35). No Novo Testamento, não há povos escolhidos, somos todos iguais e estamos submetidos ao mesmo plano de salvação. Seria uma perversão se o mandamento “não matarás” excluísse qualquer pessoa ou nação”, escreve Pablo Carías, sociólogo e professor da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, em artigo publicado no jornal colombiano El Heraldo, 19-10-2023. A tradução é do Cepat.
Quando os europeus descobriram a América, perguntavam-se se os seus habitantes tinham alma. Este dilema começou a tomar um novo rumo depois de um século, quando alguns religiosos - liderados por Bartolomé de las Casas - abriram um debate que terminaria com a declaração do Papa Paulo III, em 1537, sob a bula Sublimis Deus, reconhecendo oficialmente a natureza racional dos indígenas. Com isto, colocava-se a necessidade de cristianizá-los e, de forma declarativa, respeitar os seus direitos.
Na sua luta contra os independentistas cubanos, na segunda metade do século XIX, quando negros e mulatos foram feridos ou mortos em combate, os espanhóis “descobriram” que eles tinham sangue assim como os brancos.
Ainda é atual o interesse em explicar as guerras e o domínio imperial sob velhos conceitos de civilização versus barbárie e com a separação que se faz entre o bem e o mal. Nos últimos conflitos bélicos travados pelos Estados Unidos no Oriente Médio, a propaganda oficial se orientou a explicar que a intervenção tinha o propósito de ajudar aqueles povos a construir a democracia, uma democracia que fosse inspirada nos valores e tradições das grandes potências. Ao final, os Estados Unidos deixaram uma violência maior nesses lugares e nações fragmentadas do ponto de vista geográfico, político e religioso.
Um problema que se acentuou com a criação do Estado israelense, em 1948, ganhou relevância internacional, nos últimos dias, com o confronto entre as Forças Armadas do Estado judeu e o grupo Hamas. Os israelenses, de modo silencioso e em alguns casos de forma violenta, têm se apoderado dos territórios palestinos, a tal ponto que hoje a chamada Faixa de Gaza, de apenas 365 quilômetros quadrados, tem uma população de 2,26 milhões de habitantes. Nos últimos tempos, os habitantes da Faixa de Gaza têm vivido como estrangeiros em seu próprio território.
No conflito armado dos últimos dias, entre palestinos e judeus, mais de 4.000 pessoas morreram e milhares ficaram feridas. Todos os serviços públicos foram fechados aos palestinos, que receberam a ordem de uma evacuação forçada, o que agrava a crise humanitária que a população já atravessa.
Nessas condições, trava-se uma guerra midiática. Na América Latina e em outras partes do planeta, ouvimos jornadas de oração, não em favor da paz, mas para que os israelenses, com o apoio dos Estados Unidos, se imponham e consolidem o seu domínio sobre o povo palestino e sua influência em outros territórios árabes. Fez-se acreditar em certas igrejas, especialmente evangélicas, que os israelenses são um povo escolhido de Deus.
Deus não tem bandeiras aqui na terra, nem no céu, Deus é onisciente, onipotente e onipresente. Ele está em todas as culturas. “Deus não faz diferença entre as pessoas” (At 10, 28.34-35). No Novo Testamento, não há povos escolhidos, somos todos iguais e estamos submetidos ao mesmo plano de salvação. Seria uma perversão se o mandamento “não matarás” excluísse qualquer pessoa ou nação.
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Os palestinos também são filhos de Deus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU