Padre Ibrahim Faltas é um frade franciscano egípcio conhecido em todo o mundo pelo seu trabalho incansável em terras devastadas pelo conflito entre israelenses e palestinos.
Eleito vigário geral da Custódia da Terra Santa de Jerusalém no ano passado, o religioso, que há 35 anos está diariamente empenhado na promoção do diálogo entre israelenses e palestinos, foi vice-pároco em Belém, pároco em Jerusalém e responsável pela Basílica da Natividade. Em 2002 foi raptado no ataque armado dos israelitas à Igreja da Natividade em Belém onde, durante os 39 dias de ocupação, atuou como mediador entre as duas partes em conflito.
A reportagem é publicada por Il Fatto Quotidiano, 10-10-2023.
Entrevistado por Alessandro Milan, no programa Uno, Nuovi, 100Milan (Radio24), o Padre Faltas reitera a sua dor pelas vítimas israelitas e palestinas e condena firmemente o desinteresse perpetuado nos últimos anos pela comunidade internacional, que apela por uma consciência séria e a uma decisão definitiva para a atual situação catastrófica:
“Neste momento só há violência e vítimas inocentes. É uma situação horrível, ninguém imagina o que estamos vivendo. Mísseis chegam constantemente, mataram e feriram gravemente até pessoas que eu conhecia. Gaza – continua – está totalmente fechada e sitiada com mais de 2 milhões de pessoas: não há água, não há comida, não há eletricidade, não deixam passar nada. Há muitas vítimas inocentes, incluindo muitas crianças, de ambos os lados. Sempre dissemos que a comunidade internacional deve intervir para resolver o problema do conflito no Médio Oriente o mais rapidamente possível. Mas apesar de tudo, a situação sempre foi a mesma durante anos”.
O franciscano, que viveu em primeira mão a Primeira e a Segunda Intifada, reitera que nunca viu uma violência tão feroz na Terra Santa. E volta à indiferença da comunidade internacional:
“É inútil simpatizar com uma ou outra parte no conflito ou enviar armas. A comunidade internacional deve encontrar uma solução pacífica. O coração do conflito é Jerusalém e a comunidade internacional deve ouvir o Vaticano, pelo menos uma vez. Jerusalém deve ser uma cidade aberta a todos, isto não pode continuar por mais 70 anos. Agora chegou a hora de resolver esse problema."
O Padre Faltas recorda as manifestações de protesto em que participaram multidões de judeus israelitas a partir de janeiro contra o governo de Netanyahu: “A política israelita influenciou a exacerbação do conflito, basta pensar em tudo o que fez em Jerusalém no passado mês de abril, quando a polícia israelita invadiu o Mesquita de al-Aqsa. Tudo isso não fez nada mais do que aumentar o ódio."
E à pergunta de Milão, que lhe pergunta se todos podemos concordar que o Hamas é um grupo terrorista, o vigário dá uma resposta cética: “Não sei. Dizer algo assim é difícil. O que digo é que precisamos de encontrar uma solução para este conflito. Chega de guerra, chega de mortes. É inútil dizer que o Hamas é uma organização terrorista, tal como é inútil dizer muitas outras coisas. É necessário que a comunidade internacional atue com intervenção concreta".
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