Migrantes, mundo digital e conflitos. Prevost divide a direita EUA

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17 Mai 2025

A eleição de Robert Francis Prevost divide a direita EUA. Trabalho, meio ambiente, imigração, guerras, inovação digital. Em nenhuma dessas questões há alinhamento real entre a Igreja de Leão XIV e os conservadores estadunidenses.

A reportagem é de Giacomo Galeazzi, vaticanista, publicado por La Stampa, 25-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Na análise realizada pelo Izi nas redes sociais, o Conclave passa de evento religioso para instrumento político. Nas contas dos bispos, o sentimento positivo chega a 72,22%, com mensagens de oração e celebração. Alguns líderes republicanos, por outro lado, usam a figura do novo Papa para "reforçar narrativas conservadoras". Marjorie Taylor Greene, Ron DeSantis, Jim Jordan e Matt Gaetz veiculam um sentimento positivo, descrevendo Prevost como um símbolo da defesa dos valores cristãos estadunidenses. Em contrapartida, 25% dos posts de influenciadores e comentaristas conservadores como Candace Owens, Charlie Kirk e Ben Shapiro amplificam as críticas, contribuindo para o sentimento negativo de 48,04% entre os usuários. Os ataques dizem respeito às percepções de progressismo e globalismo: o termo "woke" aparece em 5.707 comentários, atribuindo uma agenda liberal ao Pontífice.

O professor Agostino Giovagnoli, historiador da Universidade Católica do Sagrado Coração, relata ao La Stampa: "A Igreja estadunidense está em profunda transformação; sua composição étnica mudou radicalmente em poucos anos devido à presença latina. É uma Igreja tradicionalista em questões de família e sexualidade. Seu papel na sociedade se fortaleceu muito, não é mais uma minoria marginalizada. Hoje, a comunidade católica ocupa um espaço importante, mas está mudando de aspecto, de identidade. Contraditoriamente, está se tornando menos ‘católica’, isto é, menos universal e mais fechada em um tradicionalismo que é o contrário da tradição autêntica que exige comunhão com o Papa, seja ele quem for: algo que não aconteceu com Francisco. Veremos agora se seguirão Leão ou o antipapa Trump”.

Um dos temas mais comentados é a imigração, com 129 comentários acusando o novo Pontífice de apoiar políticas de imigração excessivamente abertas. "Vamos enviar todos os imigrantes ilegais para o Vaticano" e "o Papa não deve interferir na política": o tom hostil nas conversas da direita populista mostra como a mensagem de inclusão de Leão é percebida como uma ameaça à identidade estadunidense.

Para Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, "Prevost se posicionará contra expulsões em massa. Não toleraremos isso. Os dez milhões de imigrantes ilegais que invadiram o país na época de Biden irão embora. Faremos isso de forma humana, com valores cristãos." Um conflito entre o Vaticano e a direita estadunidense está no horizonte.

Explica isso ao La Stampa o Padre Giulio Albanese, missionário comboniano: "Na Igreja EUA, convivem duas correntes de pensamento opostas. Uma de matriz missionária, ligada aos temas sociais, e outra tradicionalista, devocionista e pré-conciliar. De um lado, a missio ad gentes, com forte sensibilidade para com as desigualdades e os direitos violados. Seu foco principal é a doutrina social, a evangelização, as marchas contra discriminação e pena de morte. De outro, o setor mais conservador, que interpreta a piedade popular na forma de devoção aos santos, recuperação do latim nas celebrações litúrgicas, a contestação aos padres que usam o clergyman em vez da batina. É o catolicismo inspirado por Madre Angélica, a clarissa fundadora da Eternal Word Television Network (EWTN), amada pelos idosos."

O Padre Albanese continua: "Prevost vem de uma religiosidade tradicional estadunidense, mas a experiência missionária no Peru mudou sua abordagem. À patrística da formação agostiniana, ele acrescentou o dinamismo da missão que encarna e atualiza a Palavra de Deus. Assim, a mensagem evangélica e a transmissão que os Padres da Igreja fazem são vivificadas para iluminar o presente".

Segundo o Padre Albanese, "a Igreja estadunidense é a metáfora do nosso tempo, da mudança de época pela qual estamos passando. É uma Igreja na linha de fratura entre um antes e um depois. Leão XIV, precisamente por suas origens de uma realidade tão magmática e complexa, será capaz de criar a síntese entre aqueles que aceitam os desafios da secularização e da tecnologia transformada em ideologia e aqueles que pressionam para retornar ao passado".

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