09 Mai 2025
Quais serão os desafios do novo Papa Leão XIV em relação ao governo da Igreja? Esta é a pergunta que La Vie fez a Agata Zielinski, religiosa xaveriana e professora de filosofia nas Faculdades Loyola de Paris.
A reportagem é de Agata Zielinski, publicada por La Vie, 08-05-2025. A tradução é do Cepat.
Rezando com os Evangelhos da Ressurreição nestes últimos dias, pensei que quando Jesus mostra suas chagas aos discípulos, não é somente, como se diz muitas vezes, para se fazer reconhecer. É também uma forma de lhes dizer: “Não se esqueçam dos sofrimentos do mundo, assim como eu não os esqueço, pois estão marcados na minha carne”. Isso me fez lembrar das palavras proferidas pelo cardeal brasileiro Cláudio Hummes ao recém-eleito Francisco: “Não se esqueça dos pobres”. Um dos desafios do governo para o próximo papa será não esquecer os sofrimentos do mundo, nem os sofrimentos que a Igreja às vezes inflige a si mesma, pelo mal cometido, pelas exclusões ou marginalizações que provoca. Um governo sensível ao sofrimento e a serviço da alegria do Ressuscitado.
Esperamos que o novo papa seja um homem espiritual, capaz de reconhecer e frustrar o instinto de dominação que espreita nele (como em cada um de nós) e ao seu redor, e capaz de ouvir o Espírito, que não sabemos de onde vem nem para onde vai.
Se considerarmos que o serviço é um poder, e que esse poder pode ser declinado como poder para (poder de agir, iniciativa) ou poder sobre (dominação, controle), um dos desafios do governo é proteger o poder contra os abusos de poder e o poder contra a onipotência (cf. Il a donné pouvoir à ses serviteurs. Cinq regards de femmes sur la gouvernance dans l’Église, La Xavière/Éditions Emmanuel, 2024). No contexto atual de uma Igreja que toma consciência da sua capacidade de maus-tratos devido aos diversos abusos de poder, o forte convite do Papa Francisco em sua Carta ao Povo de Deus (2018) deve ser implementado, com um claro compromisso de “promover uma cultura capaz não apenas de garantir que tais situações não se repitam, mas também que não encontrem terreno fértil para serem ocultadas e perpetuadas”.
Este convite para erradicar “um modo desviante de conceber a autoridade na Igreja”, a “vencer o apetite de dominação e de posse, muitas vezes na origem destes males” é um apelo dirigido a todos. “Dizer não aos abusos significa dizer não, de maneira categórica, a qualquer forma de clericalismo”. Devemos lembrar que a tendência ao clericalismo (que diz respeito tanto ao clero quanto aos leigos) só pode dar abertura a uma conversão através da “participação ativa de todos os membros do Povo de Deus”.
Precisamos de uma Igreja que escute. Mesmo que se tenha falado muito do autoritarismo e de uma certa verticalidade de Francisco, o que ele deixa como legado e como desafio é a escuta como modo de governo – e, além disso, o convite a uma escuta comum na Igreja: escutar não apenas uns aos outros, mas escutar juntos o Espírito.
Uma maneira de implementar isso é por meio do método das “conversações no Espírito”. Mas escutar significa expor as escolhas e as ações aos fiéis: a implementação de uma “prestação de contas” dos bispos aos seus diocesanos ainda precisa ser incentivada (Documento Final do Sínodo sobre o Futuro da Igreja, 2024, § 107).
Essa escuta pressupõe a confiança, como alternativa ao medo. O primeiro ato dessa confiança é amar suficientemente o mundo – à imagem de Deus que tanto amou o mundo (João 3, 16) – para continuar a entrar em conversação com ele, como o Concílio Vaticano II continua a nos convidar a fazer. O novo papa provavelmente terá que ter o cuidado para não assustar a cúria; mas também não deve ter medo da cúria e continuar sua reforma. Seguindo Francisco, espera-se que ele não tenha medo dos leigos, que governe com os leigos, que aproveite suas competências, suas habilidades, seu olhar, que esteja atento “a todos os dons de sabedoria que o Senhor distribui na Igreja”.
Ele não deveria ter medo das mulheres, da questão das mulheres, de governar com mulheres, de confiar-lhes responsabilidades. Não esqueçamos que a consulta do Sínodo sobre o Futuro da Igreja trouxe à tona uma preocupação de todos os continentes: a questão da participação das mulheres, não na vida da Igreja – aí elas já participam em grande medida! –, mas nas decisões relativas à vida da Igreja.
A escuta e a confiança deram origem à grande experiência do sínodo onde, pela primeira vez, leigos (incluindo mulheres) participaram das votações. Um desafio é continuar neste caminho e continuar a traçar o caminho da participação de todos os batizados (e, portanto, não apenas dos ministros ordenados) nos discernimentos, nas deliberações e até nas decisões relativas à vida da Igreja em todos os níveis: “Promover a mais ampla participação possível de todo o Povo de Deus nos processos de tomada de decisão é a maneira mais eficaz de promover uma Igreja sinodal”.
A sinodalidade é o estilo de uma Igreja que escuta, de uma Igreja que experimenta a confiança entre os batizados, de uma Igreja onde todos são encorajados a servir a missão de Cristo.