29 Abril 2025
A homilia do Cardeal Giovanni Battista Re não foi apenas uma homenagem fiel ao Papa Francisco, mas também uma mensagem explícita às Congregações Gerais para que continuem no caminho do falecido papa.
A reportagem é de Salvatore Cannavò, publicada por Il Fatto Quotidiano, 27-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O decano do Colégio dos Cardeais, 91 anos, que serviu na Cúria sob o mandato de cinco papas, foi de fato o protagonista do primeiro discurso público sobre Francisco, diante de um auditório excepcional, tanto em quantidade quanto em qualidade. E quando ele recordou as viagens do papa recém-falecido a Lampedusa, Lesbos e à fronteira entre os EUA e o México, ou recordou “sua voz incessantemente alta implorando a paz e convidando à razoabilidade, à negociação honesta”, pareceu se dirigir às autoridades políticas presentes à sua esquerda. Uma escolha de fidelidade a Bergoglio, reforçada por um “plebiscito de expressões de manifestações de afeto” e uma lembrança espiritual que se desdobrou em três linhas.
A evangelização, em primeiro lugar, o ponto saliente do pontificado que acaba de se encerrar, e sua opção ao lado dos pobres: “A decisão de adotar o nome Francisco apareceu imediatamente como a escolha de um programa. Naquela escolha, assim como nas palavras proferidas na noite da eleição, já existe tudo. Nesse esforço, aqui está outro reconhecimento importante, o papa esteve “atento ao novo que estava despontando na sociedade”. Um papa inovador, portanto, porque estava conectado ao espírito do tempo e essa atitude, explica Re, era expressa por um “vocabulário que lhe era característico e por sua linguagem rica em metáforas”. Francisco, lembra Re, ofereceu “uma resposta à luz da fé, encorajando a viver como cristãos os desafios e as contradições desses nossos anos de mudanças”. A evangelização é, acima de tudo, uma Igreja que é “uma casa para todos; uma casa com portas sempre abertas”, um “hospital de campanha” “capaz de se debruçar sobre cada homem, para além de todo credo ou condição, curando suas feridas”. Mesmo aqueles que não se encaixam nas malhas rígidas das escrituras.
O decano dá o devido espaço, e aqui irrompe o aplauso espontâneo, ao tema mais caro a Francisco: “É significativo que a primeira viagem tenha sido a Lampedusa, ilha que simboliza o drama da emigração, com milhares de pessoas afogadas no mar. Na mesma linha foi também a viagem a Lesbos, juntamente com o Patriarca Ecumênico e o Arcebispo de Atenas, bem como a celebração de uma missa na fronteira entre o México e os Estados Unidos, por ocasião de sua viagem ao México”. Palavras sob medida para Donald Trump, sentado na primeira fila da área das autoridades, mas talvez também para o ministro do Interior italiano, Piantedosi, que não teve nenhum pudor em declarar sua total sintonia com o papa na questão dos migrantes. “A misericórdia e a alegria do Evangelho são duas palavras-chave do Papa Francisco”, continuou Re, “em contraste com o que ele chamou de ’cultura do descarte'”. E, portanto, a fraternidade e a oposição à guerra.
Fratelli tutti. Aqui há a menção à outra importante encíclica de Francisco, Fratelli tutti. A fraternidade produz a reflexão revolucionária e inédita, sobre a ecologia com a encíclica Laudato si', mas a fraternidade, acima de tudo, contra “a fúria das tantas guerras destes anos, com horrores desumanos e com inúmeros mortos e destruição: é sempre uma derrota dolorosa e trágica para todos”. O decano lembra a frase bergogliana “Construir pontes e não muros”, que parece se materializar nas fotos dos encontros à margem do funeral, entre Zelensky, Trump, Macron e outros.
O terceiro significado dessa homilia, finalmente, diz respeito ao depois de Francisco, que “costumava concluir seus discursos e encontros dizendo: ‘Não se esqueçam de rezar por mim’. Caro Papa Francisco”, diz o Cardeal Re, “agora lhe pedimos que reze por nós”, fazendo com que sigamos em frente, é a mensagem, com base em seu pontificado. Um discurso preparatório de um Francisco II, em resumo, que os irmãos cardeais, presentes à direita de Re, não podem ter deixado de ouvir.