31 Agosto 2023
"Alegramo-nos com as repercussões das iniciativas ecológicas do Patriarcado Ecumênico não apenas no mundo cristão, mas também em outras religiões, nos parlamentos e entre os políticos, no campo da sociedade civil, da ciência, dos movimentos ecológicos e da juventude", disse o Patriarca Ecumênico Bartolomeu em sua Mensagem para o Início do Ano Eclesiástico e o Dia Solene de Orações pelo Meio Ambiente Natural (1º de setembro, 2023).
A reportagem é de Orthodox Times, 29-08-2023.
Expressamos ainda nossa satisfação por as pessoas terem compreendido definitivamente a conexão imediata entre questões ecológicas e sociais e, especialmente, o fato de que a destruição do ambiente natural afeta principalmente os pobres entre nós, acrescentou.
"É neste contexto que também devemos incluir e apreciar os terríveis efeitos criados pela invasão da Rússia na Ucrânia, que está associada a uma horrível devastação ecológica. Todo ato de guerra é também uma guerra contra a criação, na medida em que é uma ameaça grave contra o meio ambiente, enfatizou.
"A Santa Comunhão não é apenas a nossa união com Deus e com os outros, mas também a assunção do alimento, a aceitação e valorização do ambiente natural, a incorporação e não apenas o consumo de matéria. A sacralidade que acompanha tal atitude, o estremecimento divino que permeia tal relação, é o oposto diametral da tecnologia e a resposta ao nosso problema ecológico, concluiu o patriarca ecumênico.
Leia abaixo a íntegra da mensagem para o início do Ano Eclesiástico e o Dia Solene de Orações pelo Meio Ambiente.
Reverendíssimo irmão Hierarca e filhos amados no Senhor,
Com a graça do Chefe e Aperfeiçoador da nossa fé, entramos hoje num novo ano eclesiástico e celebramos com salmos e hinos, pela trigésima quinta vez, o Dia da proteção do ambiente natural.
Regozijamo-nos com as repercussões das iniciativas ecológicas do Patriarcado Ecumênico não só no mundo cristão, mas também em outras religiões, nos parlamentos e entre os políticos, no campo da sociedade civil, da ciência, dos movimentos ecológicos e da juventude. Afinal, a crise ecológica como desafio global só pode ser enfrentada por meio da sensibilização e mobilização internacional.
Expressamos ainda a nossa satisfação pelo fato de as pessoas terem compreendido definitivamente a ligação imediata entre as questões ecológicas e sociais e, especialmente, o facto de a destruição do ambiente natural afectar principalmente os pobres entre nós. A combinação de atividades ecológicas e sociais constitui a esperança para o nosso futuro, porque só podemos ter desenvolvimento e progresso sustentáveis quando nos preocupamos simultaneamente com a integridade da criação e a proteção da dignidade humana e dos direitos humanos.
É característico que hoje haja uma ênfase na "expansão ecológica" dos direitos humanos. De fato, fala-se de uma "quarta geração" de direitos – juntamente com direitos individuais e políticos, sociais, culturais e de solidariedade – que se refere à garantia de suas pré-condições ambientais. A luta pelos direitos humanos não pode ignorar que esses direitos estão ameaçados pelas mudanças climáticas, pela escassez de água potável, solo fértil e ar puro, mas também pela "degradação ambiental" em geral. As consequências da crise ecológica devem ser enfrentadas sobretudo ao nível dos direitos humanos. É evidente que esses direitos, em todos os seus aspectos e dimensões, compõem uma unidade indivisa e que sua proteção é inseparável.
É neste contexto que devemos também incluir e apreciar os terríveis efeitos criados pela invasão da Rússia na Ucrânia, que está associada a uma terrível devastação ecológica. Todo ato de guerra é também uma guerra contra a criação, na medida em que é uma grave ameaça contra o ambiente natural. A poluição da atmosfera, da água e da terra por bombardeios, o risco de holocausto nuclear, a emissão de radiação perigosa de usinas nucleares que produzem energia elétrica, a poeira cancerígena de edifícios explodindo, a destruição de florestas e o esgotamento de propriedades agrícolas aráveis – tudo isso testemunha o fato de que o povo e o ecossistema da Ucrânia sofreram e continuam a sofrer perdas incalculáveis. Repetimos enfaticamente: a guerra deve cessar imediatamente e o diálogo sincero deve começar.
Diante de todos estes desafios, a Santa Grande Igreja de Cristo continua a sua luta pela integridade da criação, com plena consciência de que a sua solicitude pelo ambiente natural não é apenas uma atividade acrescida na sua vida, mas a sua expressão e realização essenciais como extensão da Santa Eucaristia em todas as formas e dimensões do nosso bom testemunho no mundo. Este foi também o precioso legado do pioneiro da teologia ecológica, o falecido metropolita João de Pérgamo. Ao reconhecer a sua imensa contribuição, concluímos esta Mensagem Patriarcal por ocasião da Festa da Proclamação com o que ele escreve sobre a Santa Eucaristia como resposta holística aos problemas ecológicos atuais: "Na Divina Liturgia, o mundo natural e material, juntamente com todos os sentidos, participam numa unidade inseparável. Não há antítese entre sujeito e realidade objetiva, não há postura de conquista do mundo circundante pela mente humana. Este mundo não existe contra, não é objeto do homem, mas é assumido e comungado. A Santa Comunhão não é apenas a nossa união com Deus e com os outros, mas também a assunção do alimento, a aceitação e valorização do ambiente natural, a incorporação e não apenas o consumo de matéria. A sacralidade que acompanha tal atitude, o estremecimento divino que permeia tal relação, é o oposto diametral da Tecnologia e a resposta ao nosso problema ecológico. A Santa Eucaristia é, também por isso, o melhor que a Ortodoxia tem para oferecer ao mundo contemporâneo".
Desejamos-vos um abençoado ano eclesiástico, irmãos e filhos no Senhor!
1 de setembro de 2023
† Bartolomeu de Constantinopla
Suplicante fervoroso por todos diante de Deus.
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Patriarca Ecumênico: todo ato de guerra é também uma guerra contra a criação e o meio ambiente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU