06 Abril 2024
"Os alemães precisam de alguma margem de manobra e boa vontade de Roma para suas ideias. Até agora, isso parecia impossível. Depois da última reunião, a porta parece ter se aberto um pouquinho. Pelo menos por enquanto, as tensões parecem ter relaxado um pouco, e ambos os lados parecem estar dispostos a trabalhar juntos", escreve o jornalista alemão Renardo Schlegelmilch em artigo publicado por National Catholic Reporter, 04-04-2024.
22 de março foi um dia significativo para os católicos alemães. Líderes da Conferência Episcopal do país viajaram a Roma para falar com representantes do Vaticano e procurar uma saída para o impasse em que se encontram.
O bispo de Limburgo, Dom Georg Bätzing, presidente dos bispos alemães, e outros se sentaram durante um dia inteiro com os cardeais Pietro Parolin, Víctor Fernandez, Robert Prevost, Arthur Roche e Kurt Koch. Ninguém deveria nem sequer saber sobre a reunião até que um funcionário do Vaticano contasse à imprensa. Naquela noite, às 20h, os dois lados publicaram uma declaração conjunta para informar ao mundo sobre seu compromisso. Um passo muito incomum.
Qual foi o compromisso? Para explicar, é preciso entender um pouco da mentalidade alemã aqui. Tudo se trata de conselhos, comissões, estatutos e assembleias.
Embora as assembleias do Caminho Sinodal tenham concluído ano passado com apelos por grandes reformas na Igreja, essas reformas, na maior parte, não serão implementadas antes de 2026, quando o conselho sinodal sucessor começar a trabalhar. Este conselho deve consistir no mesmo número de bispos e leigos para votar sobre quaisquer outras reformas na Alemanha juntos. Antes disso, no entanto, há outro grupo se reunindo, a comissão sinodal — cujo único propósito é estabelecer os estatutos e regulamentos para o próximo conselho sinodal.
Tudo um pouco confuso e tudo um pouco alemão.
Esta comissão sinodal foi o principal motivo das tensões mais recentes entre o Vaticano e os bispos alemães. Segundo funcionários do Vaticano, tal comissão, onde bispos e leigos têm poder compartilhado para votar e decidir como iguais, vai contra as normas do Código de Direito Canônico, pois o bispo como chefe de sua diocese teoricamente poderia ser derrotado. A Igreja alemã tem uma interpretação diferente, como o bispo de Essen, dom Franz-Josef Overbeck, já afirmou muitas vezes: a autoridade episcopal não é prejudicada pelo envolvimento de leigos na tomada de decisões, ela é fortalecida por isso.
Dois lados, dois pontos de vista e nenhum compromisso, mas só até este fatídico 22 de março e até a declaração conjunta da Santa Sé e dos bispos alemães.
Seu compromisso: a comissão sinodal alemã pode continuar trabalhando, mas o Vaticano precisa aprovar cada passo. Isso é uma vitória para algum dos lados? Os bispos alemães parecem pensar que sim, pois em 25 de março eles publicaram uma carta em conjunto com o principal grupo representante dos leigos, o ZdK (Comissão Central de Católicos Alemães), anunciando seus planos de votar sobre os estatutos da comissão sinodal no fim de abril e reunir a comissão em junho. Segundo a declaração, eles veem o compromisso com Roma como um incentivo para continuar no caminho da reforma.
Meios de comunicação e comentaristas mais conservadores discordam. Eles veem os alemães, que adoram reformas, sendo contidos, já que apontam para a aprovação romana agora explicitamente exigida para seus próximos passos reformistas. Este poderia ser o maior obstáculo no caminho da reforma sinodal alemã. Como sabemos, Roma é bastante crítica às ideias alemãs.
Embora os bispos alemães tenham aceitado este último compromisso, o próximo conflito já está agendado: quando a comissão sinodal se reunir em 14-15 de junho, Roma precisará aprovar suas decisões. As ideias de reforma já estão nos livros, pois a assembleia final do Caminho Sinodal as decidiu em março de 2023. O que acontecerá quando a comissão sinodal tentar implementá-las? Quando derem o passo para estabelecer oficialmente seu novo conselho e pedir aprovação a Roma? É difícil acreditar que as autoridades vaticanas simplesmente os deixarão passar.
Os alemães precisam de alguma margem de manobra e boa vontade de Roma para suas ideias. Até agora, isso parecia impossível. Depois da última reunião, a porta parece ter se aberto um pouquinho. Pelo menos por enquanto, as tensões parecem ter relaxado um pouco, e ambos os lados parecem estar dispostos a trabalhar juntos.
É um passo à frente do silêncio glacial dos últimos meses, mas de forma alguma um compromisso sobre questões de reforma reais. No entanto, ainda há dois aspectos positivos a serem tirados disso: ambos os lados estão dialogando novamente e estão dispostos a buscar um compromisso que permita que ambos os lados salvem a face. Como isso vai funcionar a longo prazo, teremos que esperar para ver.
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Vaticano e bispos católicos alemães chegam a um compromisso sobre o Caminho Sinodal — por enquanto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU