19 Junho 2020
"Conscientes de que esse projeto de unidade não se resolve na liquidez de um diálogo formal e político mínimo, muito menos anulando as diferenças e gerando homologação em vez de comunhão, por parte de cada um é preciso um compromisso ecumênico renovado e comum com relação ao qual a contribuição reflexão teológica não deve ser considerada secundária".
A opinião é de Francesco Cosentino, teólogo italiano e professor de Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana, em artigo publicado por Settimana News, 17-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
As “atividades e as iniciativas suscitadas e ordenadas para a promoção da unidade dos cristãos” (Unitatis redintegratio, n. 4), através da promoção não só de um o conhecimento mútuo e a superação de condenações e excomunhões mútuas, mas também de reais percursos comuns de diálogo doutrinal e pastoral, há tempo atravessam a história das várias igrejas cristãs com altos e baixos.
O ecumenismo foi, por algum tempo, um caminho iniciado com um certo entusiasmo que progrediu e alcançou importantes objetivos, como a Declaração Conjunta sobre a Justificação, mas, ao mesmo tempo, também houve reveses, arrefecimentos recíprocos e regurgitações, por todos os lados, de um pensamento e uma praxe cristã fortemente marcados pelo fechamento e pelo exclusivismo.
Em um simpósio realizado em preparação do Kirchentag em Berlim em 2003, o card. Walter Kasper, depois de recordar a longa e importante jornada conjunta feita pelas igrejas e pelas denominações cristãs, afirmou: “Estou convencido disto: não há alternativa ao ecumenismo. O mandato expresso de Jesus nos obriga a isso. A divisão contradiz expressamente a vontade de Jesus; é um pecado. Também seria um pecado se nos, desiludidos diante das dificuldades atuais, quiséssemos nos retirar do diálogo. O ecumenismo é uma obra do Espírito de Deus ... Quanto ainda vai demorar esse caminho? Eu não sou um profeta. De acordo com as medidas humanas, ainda poderia demorar bastante. Mas o Espírito de Deus pode nos reservar surpresas”.
Realizar a unidade do Espírito que harmoniza as diversidades e inicia um caminho para uma "diversidade reconciliada", como almeja o Papa Francisco na Evangelii gaudium, continua sendo uma tarefa essencial para as Igrejas de todas as denominações cristãs. Conscientes de que esse projeto de unidade não se resolve na liquidez de um diálogo formal e político mínimo, muito menos anulando as diferenças e gerando homologação em vez de comunhão, por parte de cada um é preciso um compromisso ecumênico renovado e comum com relação ao qual a contribuição reflexão teológica não deve ser considerada secundária.
É verdade que o que tem a ver com o diálogo e a comunhão mútua é resolvido acima de tudo no exercício constante das relações interpessoais e não é alcançado simplesmente concordando com uma teoria ou doutrina, mas, ao mesmo tempo, é uma mera ilusão pensar que podemos alcançar um verdadeiro ecumenismo entre as denominações cristãs sem a contribuição da teologia; o aprofundamento das questões doutrinais que nos diferenciam e suas implicações pastorais diversificadas nos vários contextos culturais é, de fato, uma pedra angular para o desenvolvimento de qualquer outro relacionamento interpessoal e eclesial.
Sem a teologia - e uma teologia orientada e desenvolvida com espírito ecumênico e método confessional – pode-se conseguir alguma amizade boa e pacífica, mas não se pode alcançar uma verdadeira e profunda unidade entre os cristãos capaz de melhorar, mesmo dentro das diferenças, o empenho dos batizados pelo futuro do cristianismo.
A esse respeito, acredito que uma importante e nova iniciativa teológica promovida pela Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Lateranense deve ser recebida com entusiasmo, a partir do próximo ano acadêmico 2020-21, que visa contribuir para o futuro do cristianismo no horizonte de um ecumenismo teologicamente fundado. Trata-se de um novo caminho de licenciamento em teologia interconfessional, organizado por um comitê científico coordenado pelo prof. Giuseppe Lorizio, professor de teologia fundamental da mesma universidade, e formado pelos representantes das várias denominações cristãs.
Em várias ocasiões, ao longo de sua rica experiência como estudioso, Lorizio abordou o tema do ecumenismo, não apenas dedicando a ele parte de sua reflexão teológica, mas também muitas vezes criando interfaces, em várias questões, com representantes de outras denominações cristãs. Ainda recentemente, dentro do debate que está apaixonando muitos entusiastas da teologia sobre a "reconstrução" do pós-pandemia, o teólogo da Lateranense se manifestou no jornal Avvenire exortando os cristãos de todas as igrejas a "estarem juntos e não contra", especialmente na recuperação da centralidade da Palavra de Deus.
Agora, juntamente com outros renomados estudiosos de outras denominações religiosas, ele coordena um projeto ambicioso de Teologia interconfessional, resultado de um ano de seminários sobre o futuro do cristianismo e ponto de partida para uma nova experiência ecumênica que - esperamos - encontre particular eco na Igreja italiana.
Para o projeto, foram identificados seis módulos dentro dos quais foram colocados os diferentes cursos: histórico-patrístico, bíblico-fundamental, doutrinal-dogmático, ético-moral, litúrgico-cultural e missionário. Este último módulo missionário representará aquela dimensão transversal de todo o percurso, particularmente voltado para o futuro do cristianismo.
O principal objetivo do projeto é educar para uma forma mentis teológica, capaz de alavancar uma teologia cristã básica que una os diferentes cristãos e os envie de volta, cada um para sua própria Igreja e realidade, como artífices da cultura evangélica do encontro, tão cara ao Papa Francisco.
Em um frutífero intercâmbio inter e transdisciplinar, a proposta acadêmica e formativa é dirigida aos estudantes que pretendem obter o Mestrado em Teologia Interconfessional já possuindo título em Ciências Religiosas ou equivalente, mas também para aqueles que pretendem frequentar esse curso de dois anos para obter um diploma e, finalmente, para simples convidados e ouvintes. Além disso, o percurso, ao lado dos cursos que sempre serão ministrados por três professores, um para cada confissão cristã, será acompanhado por momentos de oração comum e ecumênica, especialmente por ocasião dos tempos e momentos importantes do ano litúrgico.
A iniciativa será apresentada na tarde de sexta-feira, 19 de junho de 2020, com uma live no Facebook aberta a todos, introduzida por uma oração ecumênica e precedida por um webinar entre professores sobre o tema do futuro do cristianismo (veja aqui no site da PUL).
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Lateranense: mestrado em “Teologia Interconfessional”. Artigo de Francesco Cosentino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU