06 Dezembro 2019
Teólogo de cabeceira do Papa, de quem diz “fazer teologia de joelhos”, o cardeal Walter Kasper assegura que o papa está sereno, porque “tem a bússola interna do Espírito”. Guiado por ela, o purpurado alemão disse que Francisco seguirá mudando, ou melhor dizendo, renovando a Igreja com os viri probati ou "abrindo suas portas às mulheres", apesar dos resistentes que “são poucos, porém, com os novos meios digitais, um rato torna-se um elefante”. O entrevistamos em um Congresso sobre o Papa, que foi celebrado recentemente em Barcelona.
A entrevista é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 06-12-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Gostas da capital catalã?
Me encanta. Estive aqui em várias ocasiões e a visitei a fundo. É uma cidade belíssima. Gosto, sobretudo, da catedral e da Sagrada Família.
É uma cidade que está atravessando momentos difíceis.
Eu vi na televisão, porém eu não posso me pronunciar a respeito, porque não conheço a fundo a problemática catalã.
E sobre a violência que aflora, às vezes?
A violência e a intolerância nunca são boas, nem em Barcelona, nem em nenhuma outra parte.
Sabe se o Papa está preocupado pela situação na Catalunha?
Não sei.
Um Congresso como este sobre “A contribuição do papa Francisco à teologia e à pastoral da Igreja” ajuda o Papa? Francisco necessita dessa ajuda?
Por vezes parece que sim, sobretudo nestes momentos que está recebendo muitos ataques, ainda que a grande maioria dos católicos e da hierarquia estamos muito contentes com esse Papa e com sua atualização da doutrina do Concílio Vaticano II.
Os ataques contra o Papa são de alguns poucos?
Sim, são de poucos, porém, com os novos meios digitais, um rato torna-se um elefante.
Crês que o processo posto em marcha por Francisco seguirá adiante, apesar dos pesares?
Estou seguro de que se seguirá em frente, apesar desses poucos reticentes, porque o povo, o santo povo fiel de Deus, como diz Francisco, o quer muitíssimo bem e não aceitará um retrocesso.
Porque o povo sim está com o Papa.
A maioria indubitavelmente sim.
E o Papa não se cansa de que alguns sejam contrários a ele?
Há alguns que o criticam por certas coisas que o Papa diz ou faz, porém sem razão alguma, porque Francisco segue o Evangelho.
Pode se mudar a Cúria Romana ou isso é uma missão impossível?
É difícil, porque é uma instituição muito antiga, com séculos nas costas e cresceu muitíssimo. É difícil mudar isso, porém o papa Francisco já fez muitas coisas. O processo segue em marcha e ainda não chegou ao final, porém já se deram muitos passos.
E se o Papa fosse a Assis, por exemplo, e deixasse a cúria sem um rei?
O Papa está muito tranquilo, porque tem uma enorme segurança interior, uma bússola interna: a força do Espírito.
Francisco acredita que tem uma missão e que irá cumpri-la?
Sim, está convencido de que o Espírito o chamou a mudar ou, melhor dizendo, a renovar a Igreja. E está nesse trabalho.
Por olhar um pouco ao passado, depois de um João XXIII-Francisco virá outro Paulo VI?
O Espírito dirá.
O colégio cardinalício está se formando para eleger um sucessor que continue seu processo?
É evidente que o colégio cardinalício mudou muitíssimo. Há muitos cardeais do Sul e muitos cardeais que não se conhecem. Porém os conclaves não podem ser dirigidos.
Existe outro dirigente para o conclave?
Claro. E parece profundo: a presença do Espírito Santo.
Você ficou satisfeito com os resultados do Sínodo da Amazônia?
Não participei do Sínodo da Amazônia, porque nunca estive lá, mas me pareceu que seus resultados foram muito bons, mesmo para a Igreja universal.
Dizem que o papa poderia ir além do documento do Sínodo na exortação pós-sinodal.
Eu acho que ele fará isso. E, de fato, ele prometeu publicar a Exortação antes do final deste ano.
O Sínodo alemão seguirá o mesmo processo?
A Alemanha é outra coisa, porque as situações são muito diferentes das da Amazônia. Além disso, na Alemanha não é um sínodo, mas um processo sinodal, no qual não quero interferir.
Você não vai participar?
Não, não, eu moro em Roma.
Poderia a aprovação do viri probati significar o fim do celibato obrigatório?
O celibato continuará sendo a lei, mas o Papa tem o poder de ordenar que, em casos extraordinários, esses 'viri probati' possam ser ordenados.
Como explicar às pessoas hoje que as mulheres da Igreja não podem acessar o altar?
Hoje é difícil explicar isso, mas acho que é uma tradição antiga, que mantemos com as Igrejas Orientais. Mas acho que, com o tempo, as portas se abrirão. Além disso, já existem muitos ministérios na Igreja para os quais a ordenação não é necessária.
Mas as mulheres não estão contentes com isso.
É claro que alguns levantam a voz e têm o direito de serem ouvidas.
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“Os que atacam o Papa são poucos, porém, com os novos meios digitais, um rato torna-se um elefante”, constata o cardeal Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU